A CE age como o papado medieval que dispunha de poder para aplicar a “interdição” e a excomunhão sobre os povos caso não seguissem a sua dogmática ou não se submetessem às suas bulas.
Ao aplicar a interdição o poder régio ficava seriamente limitado nas suas funções, considerava-se que o país tinha profanado leis divinas, proibindo-se a administração de ofícios religiosos (por ex. casamentos, batizados, enterros religiosos, etc.). A excomunhão, ainda mais grave, separava o país do resto da cristandade.
Atualmente à UE foi dado o mesmo poder. Que acontece a um país que desafie a teologia neoliberal da UE? A chantagem de separar o país da “Europa” é equivalente à excomunhão; o corte de financiamento em euros é equivalente ao “interdito” papal.
O que se passou com a Grécia, as pressões sobre o OE português, com exigências atrás de exigências, mostra como os mandatários querem os povos humilhados a seus pés. A humilhação do Syriza perante a UE corporizou uma atual “ida a Canossa”.
Em 1077, Henrique IV do Sacro Império Romano Germânico, foi ao castelo de Canossa postar-se descalço (três dias e três noites) em pleno inverno para que o papa levantasse a excomunhão. Em causa estava o poder real frente ao poder papal sobre a condução dos povos.
Hoje está em causa o poder democrático frente ao poder das burocracias da UE ou do FMI. Os dogmas são outros, no tempo medieval eram a formulação de leis pretensamente divinas, a interpretação dos textos sagrados. Hoje as da teologia neoliberal, a interpretação unilateral e dogmática dos tratados da UE.
O essencial mantem-se: o poder supranacional contra o poder nacional; uma burocracia ao serviço da oligarquia monopolista e financeira contra a expressão popular da democracia.
A direita exulta com as pressões da CE sobre o governo português apoiado à sua esquerda. Nos média proliferam os seus “comentadores”. A designação é consequente. De facto, na escolástica medieval não havia investigadores, apenas “comentadores” dos textos dos mestres, assimilados como dogmas. E ai daqueles que os contestassem…
Hoje “comentadores” passam horas a falar de coisa nenhuma. O que sai fora do “nihil obstat” neoliberal é dado como blasfemo e herético. As suas lucubrações desenrolam-se à volta das “regras da UE”. As causas que originam e agravam as crises não são averiguadas, tudo se desenrola em gongorismos sobre a conformidade e a submissão às inquestionadas regras e às dogmáticas do modelo neoliberal.
Os tratados da UE tiveram tanto de democrático como a decisão sobre a liberdade religiosa noutros tempos: a religião dos súbditos era a religião do seu soberano. Alguém os consultava então? Não, nem agora, porém eram obrigados a sofrer as papais e inquisitórias determinações-
Os “comentadores” de serviço ao sistema, são a clerezia do neoliberalismo e suas instituições, FMI, BCE, CE, a troika dos interesses oligárquicos.
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