Do sexismo ao anticomunismo
Inserida no ataque contra o PCP que por estes dias passa pelos jornais, Fernanda Câncio (FC) fez publicar no DN o artigo «E o PCP, enfia a carapuça do machismo?».
FC, pouco séria, pegou em elementos avulso – o facto de o PCP nunca ter tido uma secretária-geral, o voto do PCP contra a Lei das quotas ou uma expressão usada na noite eleitoral pelo Secretário Geral – para disparar toda a artilharia anticomunista, e provar a sua tese de que «há no PC um problema com as mulheres».
FC é pouco séria pois, uma vez que decidiu perorar sobre o PCP, devia ouvir os seus dirigentes, procurar o que escreve e diz sobre a questão, comprovar a sua prática nesta matéria.
A opção de FC foi ouvir, no essencial, mulheres ex-membros do Partido, algumas das quais tiveram as maiores responsabilidades no PCP na área da defesa dos direitos das mulheres, mas que se limitam a afirmar os ressabiamentos com que saíram do PCP, destilando visões estereotipadas e sexistas sobre o papel das mulheres, designadamente sobre as que, ao contrário delas, intervêm e militam no Partido dos direitos das mulheres.
FC manipula porque, destacando na peça uma fotografia da nossa camarada Rita Rato, decide pela sua catalogação do lado dos «ortodoxos», o que, obviamente, lhe retiraria a condição de mulher, passa ao lado do facto de o Grupo Parlamentar do PCP ultrapassar largamente a regra das quotas impostas de um terço de mulheres.
FC mente porque omite – deliberadamente, pois sabe do que estou a falar – o património de luta que o PCP tem na defesa dos direitos das mulheres, de que a luta pela despenalização da IVG é apenas um claro exemplo e que vem desde o seu I Congresso, em 1923, onde defendeu o princípio da igualdade salarial ou o direito de participação das mulheres.
FC mistifica porque, manipulando à medida a frase dita por Jerónimo de Sousa e o contexto em que foi dita, ilude o seu verdadeiro conteúdo que apenas reafirma a ideia de que, para o PCP, o que conta na hora de escolher os candidatos são as suas condições políticas e ideológicas, o seu compromisso de classe com os trabalhadores e o povo.
Carapuças à parte, bastará olhar para o conjunto de dirigentes da social-democracia europeia para ver como a forma é hoje usada, de forma populista, como arma política.
João Frazão
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