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quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Turquia soma mais guerra à guerra



«Valores acumulados pela humanidade estão a ser destruídos»


Repressão criminosa sobre curdos dificulta paz na região

Turquia soma mais guerra à guerra

As Nações Unidas exigem a investigação do presumível assassinato de civis no Sudeste da Turquia, país que se consolida como agente de desestabilização imperialista na região, em particular na Síria.



Através do Alto Comissário para os Direitos Humanos, a ONU qualificou de «extremamente chocante» um vídeo, difundido através de uma rede social, que mostra civis a serem alvejados por um veículo blindado das forças armadas de Ancara enquanto recolhiam corpos. As imagens terão sido captadas pelo jornalista turco Refik Tekin, há cerca de duas semanas, na cidade de Cizre, praticamente situada no vértice da fronteira com a Síria e o Iraque.

Um homem e uma mulher que aparecem nas imagens transportam bandeiras brancas perfeitamente visíveis, mas nem isso os salvaguardou dos disparos dos militares. O repórter que registou o acontecimento ficou ferido no ataque e encontra-se sob vigilância num hospital estatal próximo. É acusado pelo governador e pelo procurador-geral de «integrar um grupo terrorista separatista», que para a Turquia quer dizer o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).

«Filmar uma atrocidade não é um delito, mas disparar contra civis desarmados sem dúvida que o é. É essencial uma investigação exaustiva, independente e imparcial deste e de outros acontecimentos em que civis foram mortos ou feridos», reclamou Zeid al-Hussein, para quem «o surgimento deste vídeo coloca importantes interrogações sobre o que está exactamente a acontecer em Cizre e em outras localidades do Sudeste da Turquia, que as autoridades turcas declararam isoladas do mundo exterior», disse o Alto Comissário, de acordo com a Lusa.

Zeid al-Hussein refere-se à intensa campanha repressiva que a Turquia leva a cabo nas regiões de maioria curda no seu território e no vizinho Iraque, operação de larga escala na qual se integram a declaração do estado de sítio em grandes centros urbanos, nomeadamente na cidade de Diyarbakir, vagas de prisões e violência contra manifestações, cercos e bombardeamentos indiscriminados durante semanas, caso do que sucede em Cizre.

Situação alarmante

A campanha tem sido noticiada a custo pelos media turcos, com vários jornalistas a pagarem um elevado preço por cumprirem a obrigação de informar. O facto foi, aliás, notado pelo responsável da ONU, que nas já citadas declarações se manifesta preocupado com o «número alarmante de jornalistas condenados ou que aguardam julgamento, o que faz questionar a liberdade de expressão no país».

Paralelamente, um grupo de deputados do Partido Democrático do Povo (HDP), pró-curdo, prossegue uma greve de fome em protesto contra as iniciativas do executivo turco nas províncias maioritariamente habitadas por curdos.

Em entrevista à agência de notícias russa Sputnik, um dos eleitos relatou que a assistência médica está a ser impedida de entrar em Cizre pelos militares que cercam a cidade. O argumento das autoridades castrenses é a protecção dos clínicos, os quais, repete o governo turco, terão estado sob fogo dos insurrectos. Algo que o deputado do HDP garante ser falso.

«Vivemos num tempo terrível em que os valores acumulados pela humanidade ao longo da história estão a ser destruídos», lamentou o parlamentar. Osman Baydemir contou ainda à Sputnik que enquanto estava com outros deputados no gabinete de um ministro, ligaram ao condutor de uma das ambulâncias que tentavam repetidamente entrar em Cizre. Este relatou que estavam a ser impedidos de o fazer pelo contingente armado enviado por Ancara. Os responsáveis governamentais nada fizeram, alegando a validade das justificações avançadas pelos militares, assegura.



Caso sírio

As iniciativas violentas no Sudeste da Turquia não podem ser desligadas do conflito na região, em particular na Síria e Iraque, no qual a Turquia é acusada de ser um agente de desestabilização ao serviço do imperialismo.

Ainda a semana passada, Ancara voltou a responsabilizar a Rússia – que desde 30 de Setembro auxilia, com bombardeamentos, o combate das forças armadas sírias aos grupos terroristas, entre os quais o autoproclamado Estado Islâmico (EI) – por uma nova violação do seu espaço aéreo. Moscovo qualificou a acusação de «propaganda vazia», o que conjuga com o facto de a Turquia ter falhado a apresentação de provas da sua versão de um incidente semelhante em que derrubou um caça russo, ocorrido há cerca de dois meses.

A propósito das alegações turcas, a NATO veio a terreiro repetir de forma agravada o apelo então feito. Para a Aliança Atlântica, a Rússia tem de «respeitar plenamente o espaço aéreo da NATO».

Ou seja, se da primeira vez o apelo da NATO era para que o Kremlin respeitasse a soberania turca, desta feita falou-se em respeitar o espaço aéreo do bloco político-militar que a Turquia integra, o que indicia que a NATO pretende acossar a Rússia e a ofensiva que tem tido franco sucesso no desbaratamento de posições dos mercenários na Síria, especialmente do EI.

A estrutura atlântica nada diz, no entanto, perante as denúncias do governo sírio quanto aos bombardeamentos turcos realizados por estes dias enquanto as tropas de Damasco avançavam sobre os grupos armados, por exemplo na província de Latakia, junto à fronteira sírio-turca. A NATO também se furta a condenar a repressão desencadeada contra as regiões de maioria curda, sufragando, por omissão, a violência contra aquela comunidade.

As operações turcas contra os curdos, quer no seu território, quer no Iraque e na Síria, visam esmagar forças que se têm notabilizado no combate aos jihadistas na Síria e Iraque e, por direito próprio, deveriam ter assento nas conversações de paz que decorrem em Genebra, na Suíça.

O facto é que, por exigência da Turquia, os representantes dos curdos sírios foram afastados de um diálogo repleto de incógnitas, ao qual a «oposição síria» aderiu em última instância. A delegação enviada por Damasco insiste que qualquer solução para a Síria tem de passar pelo povo sírio e pela rejeição e combate ao terrorismo, no que são apoiados pela Rússia. A «oposição», composta por diversas facções e tendências, pretende uma transição «sem Assad», gozando do apoio dos EUA e dos estados vassalos que com os norte-americanos tentam há anos derrubar o presidente sírio.

As Nações Unidas garantiram, entretanto, que está fora de causa qualquer amnistia ou acordo para a não investigação dos crimes cometidos durante a guerra.

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