O início do conflito armado colombiano
Aceleramento da onda de violência faz com que guerrilhas aperfeiçoem planos operativos e organizativos; em 27 de maio de 1964 é criada as FARC-EP
A Colômbia dos anos 1940 e 50 assiste a um crescente processo de urbanização, fruto de uma industrialização crescente (a qual acompanha o consequente fortalecimento do movimento operário).
A Presidência de Laureano Gomez Castro (1950-1953) - com uma interrupção de 1951 a 1953, durante a qual assumiu a presidência o ministro de governo, Roberto Urdaneta Arbeláez -, sob a forte influência ideológica das falanges espanholas, aprofunda o corporativismo, enquanto assiste e impulsiona, no espaço rural, uma sucessão de massacres.
O aceleramento da onda de violência faz com que, gradualmente, as guerrilhas aperfeiçoem planos operativos e organizativos. O Informe do Secretariado Geral do Partido Comunista da Colômbia ao VII Congresso sintetiza, da seguinte forma, o movimento guerrilheiro:
Em Chaparral se inicia em 1950 como ação de autodefesa das massas; em 1952 se transforma em luta de guerrilha, dando origem à resistência armada em todo o sul de Tolima. É um movimento de classe, amplo e extenso. O problema de abastecimento é resolvido pelo trabalho agrícola dos próprios guerrilheiros e pelo grande apoio da população trabalhadores que os vê como seus defensores, contra as violências perpetradas pelo inimigo (cit. por Guzmán Campos e al., 1962 [2005], p. 60).
Flickr/ Fernando Rodriguez
O latifúndio sempre predominou no departamento de Tolima. Esta foi, por isso, uma região onde desde sempre ocorreram confrontos interclassistas, nomeadamente entre, por um lado, os terratenentes e, por outro, arrendatários e trabalhadores agrícolas, com ou sem terra, organizados, a partir dos anos 1930, nas Ligas Camponesas. A luta guerrilheira, sobretudo de comunistas, nomeadamente nos llanos de Tolima, assume, por isso, uma particular importância, sendo um departamento onde a onda de violência assume traços crescentemente violentos e bárbaros, por parte de paramilitares, Polícia e Exército:
O "chulavitas" iniciam, apoiados por alguns caciques e terratenentes laureanistas e conservadores das diferentes localidades tolimenses, uma guerra seletiva, subterrânea e noturna contra núcleos gaitanistas e liberais, introduzindo uma série de práticas de provocação e extermínio, como os massacres de população civil indefesa, a chantagem, as "aplanchadas" com a parte plana do facão, as mensagens anônimas e ameaçadoras e a incineração de ranchos e de parcelas de terra. (…) Tendo em conta o que aqui dissemos, nos últimos três municípios [Chaparral, Cunday e Rovira] se organizam núcleos de autodefesa, integrados por camponeses que tinham de fugir para as montanhas para salvar as suas vidas. Estes grupos serão o embrião das futuras guerrilhas liberais do sul de Tolima, integradas por grupos familiares como os Loaiza, os Borja, os Vargas e os Cantillo, entre outros (Uribe, 1991).
A violência sobre as populações camponesas vai, contudo, estender-se a todo o território colombiano.
Nos llanos orientais (departamentos de Arauca, Casanare, Meta e Vichada), a economia principal é a criação extensiva de gado. Em termos classistas, os interesses dividem-se entre, por um lado, os proprietários das grandes extensões de terra e, por outro, conuqueros (assalariados agrícolas que não possuíam gado),vegueros (assalariados agrícolas que possuíam alguns animais e uma pequena habitação nas terras do senhor), caballiceros (assalariados que cuidavam dos cavalos), vaqueros (assalariados que, em geral, são donos dos seus cavalos, da sela e dos instrumentos com que realizam a labuta – possuíam, por esta razão, os instrumentos de produção) e caporales (capatazes). Todos estes estratos sociais se revoltaram contra os grandes proprietários da terra e contra as forças oficiais e deram origem a vários grupos guerrilheiros, sobretudo liberais. Em Casanare e no Meta destaca-se o já referido liberal Guadalupe Salcedo.
O Exército imiscua-se nos conflitos de classe, de forma a proteger os senhoresllaneros[i]: “A atuação dos senhores llaneros constitui uma fiel expressão do interesse econômico que entra em jogo, em determinado momento, como causa imediata de violência" (Guzmán Campos e al., 1962 [2005], p. 96).
Em 1952, o presidente da Confederação Campesina Indígena é envenenado e vários dirigentes políticos e sindicais são massivamente assassinados.
Entre 1953 e 1957 (Presidência do General Gustavo Rojas Pinilla) a oligarquia estadunidense e colombiana, de forma a combater o Exército de Guadalupe e dos outros guerrilheiros, impõe uma ditadura militar, na qual os temas discursivos e a prática política se aproximavam do discurso e prática peronistas. Assiste-se a um processo de ocupação de terras por parte da oligarquia, já financeirizada, enquanto a subsequente violência sobre os campesinos os obriga a deslocações (desplazamientos) constantes.
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Numa manobra política que procurava neutralizar as guerrilhas, uma das primeiras medidas do governo de Rojas foi decretar uma anistia. Esta tentativa de desarmamento e desmobilização do movimento liberal e comunista guerrilheiro “conseguiu-se com os guerrilheiros liberais do sul de Tolima, conhecidos como "limpios", no entanto fracassou com os comunistas, chamados localmente "comunes" “se logró con los guerrilleros liberales del sur del Tolima, conocidos como "limpios"” (Uribe, 1991). Sobre a ilusória e enganadora anistia proposta por Rojas Pinilla, disse, como conta Manuel Marulanda, Jacobo Prías Alape (alias El Charro):
“Vocês viram os aviões deixando propaganda, como se estivessem pondo ovos, na qual dizem que a ditadura conservadora caiu e que foi substituída por um militar chamado Rojas Pinilla (que diz querer acabar com a violência para que o sangue, segundo o próprio, possa seguir o seu rio normal nas veias dos homens. Diz a tal folha de propaganda que o general está fazendo uma chamada aos guerrilheiros para que se desmobilizem, para que cessem a luta e para que entreguem as suas armas e participem como civis na chamada pacificação. Diz oferecer-lhes paz, tranquilidade, para que regressem a suas terras e garante-lhes que suas vidas não sofrerão um único tiro. (...) Agora, mais do que nunca, temos de nos esforçar mais, uma vez que muitos campesinos caíram nas redes da ilusão dessa paz que lhes estão oferecendo. É uma ilusão que encontrou bons ouvidos e aue pôs a bater o coração de muitos. (...) Nós, na direção, temos outros planos e não pretendemos entregar-nos, pois o nosso destino está traçado, e iremos cumprir esses planos. Sabemos que o governo de Rojas Pinilla não é o governo de que os colombianos necessitam, o governo pelo qual temos lutado, rompendo montanham vendo crescer outra montanha de mortos. É um governo militar que hoje, ou quem sabe na próxima semana, nos estará perseguindo como animais a monte" (segundo Marulanda Vélez, 2006, p. 4).
Apesar de os comunistas não terem entregado as armas, numerosos foram os chefes de guerrilhas liberais que as depuseram:
Os primeiros são os grupos tolimenses de Emilio Gordillo ("Sargento Veneno") e Leonidas Borja ("El Lobo"), cuja rendição com 308 homens se efetua em julho e agosto de 1953. Entregam-se quase em simultâneo Juan de la Cruz Varela e outros guerrilheiros de Sumapaz; Rangel em Santander, com 105 homens; as guerrilhas de Maceo, Ité, Puerto Nare e Anorí, com os capitães Tino García, "Sombranegra" e Piedrahíta, e a de Yacopí, comandada por Drigelio Olarte (Guzmán Campos et al., 1962 [2005], p. 118).
Busto de Jorge Eliécer Gaitán, em Bogotá
A propósito desta segunda onda de violência (1955-1957), escrevem os próprios campesinos:
Nesta grande luta do campesinato contra a ditadura, também souberam ocupar o seu lugar de vanguarda os aguerridos lutadores do sul de Tolima, Cauca, dirigidos por Fermín Charry, Manuel Marulanda Vélez, Juan Trujillo e Nolvido Rodríguez, este último morto em uma ação de luta contra as forças punitivas oficiais, em final de 1956 (cit. por Guzmáan Campos, 1962 [2005], p. 128).
Consequência da violência das décadas de 40 e de 50
A violência das décadas de 1940 e 50 tem como consequência, no plano sociopolítico, uma forte desmobilização indígena e campesina, sobrevivendo a este período uma única organização campesina: a FANAL (Federação Agrária Nacional) (criada em 1946 por padres jesuítas). Muitos dos guerrilheiros que haviam combatido, desde 1949, contra os conservadores e que haviam entregado as armas em 1953, reorganizam-se, por seu lado, a partir de 1954-1955.
Manuel Marulanda Vélez (1930-2008) avança, então, pela região do Meta (zona central do país, ainda hoje uma retaguarda histórica das FARC-EP), reorganizando aqueles campesinos que haviam combatido quer com Guadalupe Salcedo, quer com outros dirigentes, e que não haviam sido inseridos nem nas tropas regulares, nem nas instituições do Estado. Entretanto, o governo desaloja arrendatários da terra, colonos e ocupantes campesinos, registando-se intensos enfrentamentos de classe pelo direito à terra em regiões como Tolima, Cordoba, Magdalena médio e llanos orientais.
O fim dos anos 1950 vai, assim, coincidir com a retoma da mobilização camponesa e com uma radicalização da luta, na qual a exigência de uma Reforma Agrária se torna no tema principal. Entre 1948 e 1957 registaram-se mais de 300 mil mortos.
Em 1958, de forma a superar a violência partidária que eles próprios fomentaram, é estabelecido um acordo político de alternância governativa entre o Partido Conservador e o Partido Liberal; até 1974, ambos os Partidos, alternando o poder entre si, e não deixando a possibilidade de participação política a outros partidos, vão, assim, formar quatro governos (Frente Nacional[ii]).
Também em 1958 (presidência de Alberto Lleras Camargo (1958-1962)) são realizados tratados de paz com todos os guerrilheiros, pelo que a violência estatal diminui e o governo se mostra, em aparência, aberto à concretização de uma Reforma Agrária: “Os tratados de paz criaram um clima favorável à expedição de uma lei de reforma agrária, ainda que a recém-estabelecida Frente Nacional, surgida por acordo entre liberais e conservadores para gerir o poder, dificultasse o caminho” (Mondragón, 1963)[iii].
A maioria das guerrilhas liberais entrega as suas armas, enquanto as guerrilhas comunistas participam e fomentam formas de organização campesina autônomas, nomeadamente nos departamentos de Cauca e de Tolima (é no departamento de Tolima, no município de Planadas, que se situa Marquetalia) e na província de Sumapaz (departamento de Cundinamarca):
(…) durante os anos de "violência dos anos 50 e 60 do século assado, algumas comunidades campesinas assediadas pelas tropas governamentais e pelos grupos que as auxiliavam, tiveram de buscar refúgio em localidades isoladas das cordilheiras para reorganizar as suas economias; pouco depois, os seus adversários as qualificaram como "repúblicas independentes" e logo depois como "colonizações armadas", com o que se pretendeu justificar o seu fim por parte das forças oficiais (Fajardo Montaña, 2006).
Em Marquetalia (situada na cordilheira central, numa zona de muito difícil acesso), um grupo de guerrilheiros decide, segundo as orientações estabelecidas pelo Partido Comunista Colombiano, desmobilizar o corpo armado e constituir grupos de autodefesa “formados por campesinos das regiões e por ex-combatentes que decidiram e quiseram trabalhar em paz, colonizando a selva” (Marulanda Vélez, 2006, p. 8). Cria-se, então, o Movimento Agrário de Marquetalia, no qual se aboliram os graus militares, se acabaram com os pseudónimos (alias) e se entregaram terras aos combatentes que aí se instalaram. Por outro lado, aqueles que decidiram partir, entregaram as armas ao Movimento, segundo um acordo prévio no qual se considerava que as armas pertenciam ao Movimento, e não aos combatentes, individualmente considerados.
Da Reforma Agrária de 1961 à criação das guerrilhas
Em 1961 uma Reforma Agrária (RA) é aprovada, fruto quer da convergência e mobilização campesina, quer do contexto político-histórico latino-americano (triunfo da Revolução cubana) e nacional (tentativa de neutralizar tendências revolucionárias; orientações reformistas e desenvolvimentistas da Comissão Econômica para a América latina e o Caribe, a Cepal).
A reforma agrária de 1961 procurava gerar emprego, abastecer de alimentos o país e superar a violência. Legislava, desta forma, a democratização da terra, a assistência técnica qualificada, a dotação de créditos e de infraestruturas e a capacitação cooperativa (Cf. Avendaño, 2009), criando, ao mesmo tempo, o Instituto Colombiano de Reforma Agrária (Incora).
A aplicação da legislada RA teve, contudo, uma forte oposição dentro da própria Frente Nacional, assim como entre os latifundiários, os quais impediram quer a redistribuição das terras, quer a restruturação produtiva do campo, limitando a sua aplicação. O Estado não efetivou, desta forma, a necessária (e legislada) RA. Até 1971, apenas foram distribuídas 1% das terras sujeitas a expropriação, as quais eram, na sua maioria, públicas (Ampuero e Brittain, 2008). Não existindo, por um lado, um mecanismo eficiente de redistribuição de terras e tendo em conta, por outro, o fracasso do INCORA nesta questão, os conflitos pela terra acentuam-se.
Apesar da lei de RA, aumenta a pressão do governo sobre o campesinato. Em 1962, o congressista conservador Álvaro Gómez afirma que 16 repúblicas escapavam à soberania nacional e ao controlo do governo central. Preparava-se, desta forma, uma campanha do governo que tinha como objetivo um ataque militar estatal ao assentamento de ex-guerrilheiros do Movimento Agrário de Marquetalia (que, relembre-se, haviam assinado a paz em 1958):
Começaram em grande escala os reconhecimentos aéreos, de forma a estudar os sítios onde as tropas pudessem desembarcar; logo depois lançaram milhares de folhas voadoras, justificando a operação, ao mesmo tempo que pediam a colaboração da população. Na propaganda assinalava-se que a perseguição seria unicamente contra os dirigentes do movimento (Marulanda Vélez, 2006, p. 11).
O PCC e o Movimento Revolucionário liberal (tendência do partido liberal que tinha o apoio eleitoral do PCC) iniciam a campanha “defender Marquetália”; para dar apoio aos camponeses e ex-guerrilheiros, o PCC envia para Marquetália, um mês antes do ataque do Exército, Luis Morantes (Jacobo Arenas) e a Juventude Comunista Colombiana (JUCO) envia Hernando González[iv]. O movimento campesino prepara-se, assim, para uma possível agressão.
A 18 de Maio de 1964, o Presidente da República Guillermo Léon Valencia (1961-1966) – conservador eleito pela Frente Nacional - lança o ataque “Operação Marquetália”. O movimento campesino e de ex-guerrilheiros prepara a defesa, evacuando mulheres e crianças:
A assembleia decidiu proceder à evacuação das famílias numerosas, em primeiro lugar. Perante as novas condições surgidas, determinadas pelo cerco de extermínio que os mandos militares iniciaram a 18 de maio, e tendo em conta a nova tática do exército oficial, a sua força numérica, o seu poder ofensivo, a sua capacidade, tenacidade e resistência, os seus poderosos recursos econômicos e propagandísticos, a sua vantagem transitória, etc., a assembleia acordou pôr em execução a tática da guerra de guerrilhas móbil, total e absoluta (Jacobo Arenas, 2006, p. 18).
Ficam 46 homens e 2 mulheres e organizam-se esquadras de 10 homens: é o início da guerra de guerrilhas móvel – “Nesse momento traçamos como concepção militar a guerra de guerrilhas, a concepção de guerrilha móvel. Hoje está aqui, amanhã não” (Marulanda Vélez, 2006, p. 11).
O primeiro combate efetua-se a 27 de maio de 1964, data que se dá como ponto de referência para a criação das FARC-EP. Os combates prosseguem até 18 de junho, quando “os mandos oficiais dizem entregar ao governo "Marquetalia livre de”” (cit. in Navarro, 2014). Contudo, a ação prossegue nas montanhas e a maioria dos camponeses instala-se em Cauca (Riochiquito)[v]. Cria-se, assim, o BLOCO SUL, cuja primeira conferência (1965) tem lugar um ano depois do ataque do Exército a Marquetália. Nesta Conferência reúnem-se destacamentos de Marquetália, de Riochiquito e do oriente de Tolima, os quais se unificam num só movimento. São, então, tomadas três orientações fundamentais: 1) a extensão da luta guerrilheira; 2) a necessária aliança entre campesinos e indígenas; 3) dá-se a conhecer o programa agrário (o qual havia sido assinado, entre confrontos, a 20 de Julho de 1964):
Temos sido vítimas da fúria dos latifundiários e militares, porque aqui, nesta parte da Colômbia, predominam os interesses dos grandes proprietários de terras e os interesses em cadeia da reação mais obscurantista do país. Por isso, nós tivemos que sofrer na carne e no espírito, toda a bestialidade de um regime podre que brota da dominação dos monopólios financeiros entroncados com o imperialismo. (...) Lutamos por uma Política Agrícola que entregue a terra do latifúndio aos campesinos: por isso, desde hoje, 20 de julho de 1964, somos exército guerrilheiro que luta pelo seguinte Programa Agrário:
PRIMEIRO: à Política Agrícola de Mentiras da Oligarquia, opomos uma efetiva Política Agrária Revolucionária que mude a raiz da estrutura social do campo colombiano, entregando de forma totalmente gratuita a terra aos camponeses que a trabalham ou que a querem trabalhar, com base no confisco da propriedade da terra em benefício de todo o povo trabalhador.
SEGUNDO: Os colonos, ocupantes, arrendatários, meeiros, agregados, etc., de terras dos latifundiários e da nação receberão os títulos correspondentes de propriedade dos terrenos que explorem. Liquidar-se-á todo o tipo de exploração atrasada da terra, os sistemas de meação, o arrendamento em espécie ou em dinheiro (Programa agrario de los guerrilleros de las FARC-EP in Resistencia, 2006, p. 21).
Em 1962, seis estudantes colombianos viajam a Cuba e fundam a brigada José Antonio Galan[vi], a qual recebe treino militar durante, aproximadamente, um ano. De volta à Colômbia, o grupo formado em Cuba, inspirado pela Revolução, inicia uma marcha guerrilheira a 4 de Julho de 1964: nasce, então, nas montanhas de Santander, o Exército de Libertação Nacional (ELN). O ELN dá-se a conhecer a 7 de janeiro de 1965 com a tomada do município de Simacota (departamento Santander), quando torna público o seu Manifesto.
O ELN luta pela realização em nosso país do seguinte programa:
1 A tomada do poder para as classes populares, o estabelecimento de um governo democrático e popular que liberte o nosso país dos monopólios internacionais e da oligarquia crioula e que garanta a plena igualdade do nosso povo, que outorgue plenas liberdades democráticas para os setores populares, que conceda às mulheres os seus direitos legítimos, que libere as forças criativas das massas, que garanta o respeito pela dignidade humana e pelo livre desenvolvimento dos colombianos
2 Uma autêntica revolução agrária que inclua a eliminação do latifúndio, do minifúndio e da monocultura; que realize uma distribuição técnica e justa da terra aos camponeses que a trabalham; que conceda créditos, abonos, ferramentas e sementes para os agricultores; que impulse a mecanização da agricultura, a criação de organismos apropriados de distribuição que elimine os intermediários, os especuladores e os acaparadores; que assegure a assistência médica e educacional aos camponeses, assim como o desenvolvimento do sistema de irrigação, de eletrificação, de habitação e de vias de comunicação adequadas.
Confiscar-se-ão os latifúndios propriedade dos terratenentes e respeitar-se-ão as propriedades que beneficiem a economia nacional, fomentar-se-á a criação de cooperativas de produção, de distribuição e de consumo e de fazendas do Estado, fomentar-se-á o planejamento da produção agropecuária, buscando a diversidade dos cultivos (Programa de Simacota, 7 de janeiro de 1965).
Apesar de ter, sobretudo, uma base urbana (estudantil), o ELN mete em ação um novo ator na luta campesina, a Igreja, através da inserção na luta armada de sacerdotes seguidores da Teologia da Libertação. A 15 de Fevereiro de 1966, num confronto armado entre o ELN e o Exército colombiano, é morto, no primeiro combate em que participa, o sacerdote e sociólogo Camilo Torres (1929-1966) - seguidor da Teologia da Libertação, cofundador da primeira Faculdade de Sociologia da Colômbia (juntamente com Orlando Fals Borda, Eduardo Umaña Luna, entre outros) e impulsionador da Frente Unido del Pueblo. Este movimento nasce em oposição à Frente Nacional que havia unido conservadores e liberais, sendo através dele que Camilo Torres entra em contato com o ELN. Quando se junta à guerrilha, Camilo Torres abandona o lugar de professor de sociologia e dissolve a Frente Unido del Pueblo.
Tanto as FARC-EP como o ELN incluem, então, nos seus programas, a Questão Agrária, exigindo, numa primeira etapa, o cumprimento da Lei de RA de 1961.
Entretanto, Manuel Marulanda (Tirofijo) e Luis Morantes (Jacobo Arenas) estabelecem-se no Rio Duda, no Meta. Em 1966 é convocada a segunda Conferência do Bloco Sul. Apesar de se considerar que as FARC nascem em 1964, é, apenas, nesta segunda Conferência que se utiliza, pela primeira vez, essa designação:
(…) dissemos pela primeira vez que o movimento guerrilheiro FARC, lançou uma luta prolongada para a tomada do poder, em união com a classe operária e todo o povo trabalhador. Aqui se destacou a importância vital da organização política como o fator consciente e reitor do processo revolucionário colombiano e, por isso, as FARC iriam colocar tudo o que delas dependesse para o cumprimento dessa grande missão (Jacobo Arenas, 2006, p. 32).
Nesta segunda Conferência estabelecem-se, igualmente, os estatutos, o regulamento interno, o regime de disciplina, as normas de comando, retificando-se, ainda, o caráter ofensivo da guerrilha móvel. São organizados seis destacamentos guerrilheiros dirigidos, respetivamente, por Ciro Trujillo, Joselo Losada, Carmelo López, Rogelio Díaz, José Rivas (Cartagena), Manuel Marulanda (Tirofijo) e Luis Morantes (Jacobo Arenas).
BIBLIOGRAFIA:
FAJARDO MONTAÑA, Darío. “Las reservas campesinas: otra experiencia en la brega por la tierra y la organización”. Prensa Rural, [posto em linha em] outubro de 2006. Consultado em 10 de março de 2014 em: http://www.prensarural.org/spip/spip.php?article302
FARC-EP. “Comunicado 42 aniversario de las FARC-EP: col el inicio de 48 combatientes, Marquetalia es Colombia entera avanzando hacia la victoria”. Resistencia (Colômbia), outubro de 2006, p. 30.
FARC-EP. “La pacificación del frente Nacional”. Resistencia (Colômbia), outubro de 2006, p. 78.
FARC-EP. “Programa agrario de los guerrilleros de las FARC-EP”. Resistencia (Colômbia), outubro de 2006, p. 20-21.
FARC-EP. “Riochiquito, 22 de septiembre de 1965: Hernando González”. Resistencia (Colômbia), outubro de 2006, p. 16-17.
GUZMAN CAMPOS, G, FALS BORDA, O. e UMANA LUNA, E. La violencia en Colombia. T. I. Bogotá: Ediciones Tercer Mundo, 2005 [1962].
JACOBO ARENAS (alias). “El Charro: lo único seguro en estos tempos de tormenta es el fusil”. Resistencia (Colômbia), outubro de 2006, p. 4-5.
JACOBO ARENAS (alias). “Marquetalia y la tactica de guerra de guerrilhas móviles”. Resistencia (Colômbia), outubro de 2006, p. 18.
MARULANDA, Manuel. “La operación Marquetalia”. Resistencia (Colômbia), outubro de 2006, p. 10-12.
URIBE, María Victoria. “Violencia y massacres en el Tolima: desde la muerte de Gaitán al Frente Nacional”. Revista Credencial Historia (Bogotá, Colômbia), ed. 18, n° 18, junho de 1991. Consultado em 29 de novembro de 2013, em: http://www.banrepcultural.org/node/32650
[i] Ao contrário da concentração latifundiária llanera, o departamento de Boyacá tem uma economia que se baseia, principalmente, no minifúndio. Nos anos 50 e 60, e na sequência de uma tendência que já vinha dos anos 30, Boyacá sofreu um forte desenvolvimento industrial: siderurgia, cementeiras, minas, indústrias energéticas, de licores, de cerveja, alimentares. Neste departamento encontra-se o “corredor industrial”, a região económica mais importante de Boyacá. Apesar do desenvolvimento industrial, em Boyacá, ao contrário dos llanos, o predomínio do minifúndio impôs uma mentalidade extremamente conservadora. Daqui saiem, por esta razão, vários homens que engrossariam as fileiras do paramilitarismo.
[ii] Presidências da República da Frente Nacional: Alberto Lleras Camargo (1958-1962), liberal; Guillermo León Valencia (1962-1966), conservador; Carlos Lleras Restrepo (1966-1970), liberal; Misael Pastrana Borrero ((1970-1974), conservador.
[iii] Apesar disso, a violência, ainda que com menor intensidade, perdura.
[iv] Hernando González morre em Setembro de 1965, num tiroteio com o Exército: “Este comandante de guerrillas, estudiante de la Universidad Libre, hace año y medio vino a acompañarnos enviado por el Comité Central de la Juventud Comunista, de la cual era miembro destacado. Nuestro comandante cayó en una emboscada enemiga a la que opuso todo el valor y el coraje que le caracterizó en sus acciones guerrilleras” (Movimiento de Resistencia Guerrillera de Riochiquito, 1965, cit. por Resistencia, 2006, p. 17).
[v] Os guerrilheiros estabelecem, então, o primeiro corredor estratégico da guerrilha, que ligava Marquetalia a Riochiquito, através da selva.
[vi] José Antonio Galán (1749-1782) lutou pela independência da Colômbia, contra o império espanhol, tendo sido morto pelas autoridades espanholas por ter participado na Insurreição dos Comuneros.
Especial Colômbia: terra, história e violência
Série de textos especiais da pesquisadora Ana Maria Saldanha aborda relação entre a violência na Colômbia e a questão agrária
Abaixo, leia todos os textos da série especial:
CLIQUE NAS PARTES QUE DESEJA LER
PARTE 1
Colômbia: influência norte-americana, violência e questão agrária
Este texto inaugura uma série da pesquisadora Ana Maria Saldanha, que trata da relação entre a violência na Colômbia e a questão agrária
Colômbia: influência norte-americana, violência e questão agrária
Este texto inaugura uma série da pesquisadora Ana Maria Saldanha, que trata da relação entre a violência na Colômbia e a questão agrária
PARTE 2
História colombiana: conflitos entre liberais e conservadores
Nos primeiros anos do século 20, a disputa entre liberais e conservadores foi acompanhada pelo surgimento das primeiras organizações de camponeses e operários
História colombiana: conflitos entre liberais e conservadores
Nos primeiros anos do século 20, a disputa entre liberais e conservadores foi acompanhada pelo surgimento das primeiras organizações de camponeses e operários
PARTE 3
A terra, substrato da violência na Colômbia
Como as disputas por terra e petróleo resultaram nos conflitos do Bogotazo e na formação dos grupos paramilitares
A terra, substrato da violência na Colômbia
Como as disputas por terra e petróleo resultaram nos conflitos do Bogotazo e na formação dos grupos paramilitares
PARTE 4
O início do conflito armado colombiano
Aceleramento da onda de violência faz com que guerrilhas aperfeiçoem planos operativos e organizativos; em 27 de maio de 1964 é criada as FARC-EP
O início do conflito armado colombiano
Aceleramento da onda de violência faz com que guerrilhas aperfeiçoem planos operativos e organizativos; em 27 de maio de 1964 é criada as FARC-EP
PARTE 5
Anos 60 e 70: Industrialização e aprofundamento do capitalismo financeiro na Colômbia
A partir dos anos 1970, os narcotraficantes assumem-se definitivamente como um ator armado importante, cujo braço militar é o paramilitarismo
Anos 60 e 70: Industrialização e aprofundamento do capitalismo financeiro na Colômbia
A partir dos anos 1970, os narcotraficantes assumem-se definitivamente como um ator armado importante, cujo braço militar é o paramilitarismo
PARTE 6
A luta pela Reforma Agrária no virar do século
Estado foi e continua a ser peça fundamental na manutenção da desigualdade no campo enquanto protege e assegura interesses econômicos de latifundiários
A luta pela Reforma Agrária no virar do século
Estado foi e continua a ser peça fundamental na manutenção da desigualdade no campo enquanto protege e assegura interesses econômicos de latifundiários
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