Uma "máfia de Leste" estará na origem da fraude de proporções ainda por apurar que visou alguns dos 777 107 portugueses cujos currículos estão inseridos no NetEmprego, o portal do Instituto do Emprego e Formação Profissional. A Polícia Judiciária está a investigar o caso.
No final da semana passada, alguns dos inscritos receberam SMS com o remetente NetEmprego e uma alegada oferta de emprego, à qual deveriam responder via email para pt@duparex.eu. Quem aceder ao domínio do email, em duparex.eu, encontra uma página de uma suposta empresa de logística sediada em Alfena, Valongo, com vários certificados a dar "credibilidade" à falsificação. Porém, uma simples pesquisa da morada referida no Google Maps revela que, naquele endereço, existe apenas uma bomba de gasolina.
"Começámos a receber queixas de pessoas que diziam que tinham recebido mensagens nossas, quando nós não pedimos os números de telemóvel das pessoas", explica Rui Encarnação, fundador e diretor do site NetEmpregos, que foi erroneamente associado inicialmente à fraude em causa. "Pedimos que nos enviassem imagens das mensagens e os emails que receberam em resposta, com o contrato de trabalho proposto, e verificámos que se tratava de esquemas de grupos organizados do Leste que procuram angariar mulas de dinheiro", acrescenta.
Uma "mula de dinheiro" é cúmplice, sabendo ou não no que participa, de cibercrimes que permitem lavar dinheiro proveniente, por exemplo, do acesso indevido a contas bancárias. O criminoso faz a transferência para uma série de "mulas", neste caso, coniventes com o esquema, oferecendo-lhes uma comissão para que transfiram o dinheiro recebido, rapidamente, via Western Union, para o autor do crime. Assim, as autoridades têm dificuldade em seguir o rasto ao dinheiro e identificar o criminoso. Mas a "mula" pode ser chamada a responder por esse desvio e condenada pelo crime.
O site Net-Empregos, criado no ano 2000, nada tem a ver com o portal do emprego lançado, anos depois, com o nome semelhante de NetEmprego. Mas foi a empresa privada quem lançou o alerta, desde logo, junto das autoridades. "Já há algum tempo que trabalhámos em conjunto com a PJ em casos deste género, até porque esses grupos já tinham tentado registar-se no nosso site, para colocar ofertas semelhantes", revela Rui Encarnação.
O IEFP demorou mais tempo a reagir. Anteontem à tarde, bloqueou a pesquisa de currículos no site, mas tornou a abri-la ontem, referindo que "não foi detetada qualquer falha de segurança ou situação anómala no funcionamento" do portal netemprego.gov.pt. Fonte do IEFP explicou ao JN/Dinheiro Vivo que "os utilizadores têm a possibilidade de optar pela disponibilização pública ou privada da sua informação, item a item", descartando responsabilidade na exposição dos dados usados neste esquema.
Os currículos com os dados dos candidatos continuaram visíveis até meio da tarde de ontem, apesar de o IEFP já ter "conhecimento de que alguns candidatos registados neste portal podem ter sido contactados com falsas propostas de ofertas de emprego, tendo sido utilizado indevidamente o nome do IEFP e do portal netemprego.gov.pt"
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