Jerónimo: "Sejam chineses ou alemães somos contra”
Secretário-geral do PCP entrevistado na CMTV.
Como concilia a liderança de uma força política tão forte com essa personalidade de homem afável?
Jerónimo de Sousa – Quando assumi funções de secretário- -geral do PCP, um camarada dizia-me: "Procura ser o que tu és. Não precisas de um curso de marketing, procura ser autêntico porque esse é um dos teus méritos." Eu procuro sempre acolher essa lição. Jerónimo: "Sejam chineses ou alemães somos contra” –
As sondagens CM/Aximage colocam quase sempre o PCP com quase o dobro das intenções de voto do BE. Como é que o partido se reimpôs?
O segredo deste PCP é manter-se sempre de forma coerente e determinada. Durante muitos anos, as pessoas nem nos queriam ver, quanto mais ouvir. Se há coisa que sinto e que aprendi no partido é que devemos resgatar o que é mais nobre: servir o povo e não nos servirmos a nós. Dá uma vantagem enorme o povo sentir que está a lidar com pessoas honestas. Falar verdade dá-nos força.
Este PCP teve menos líderes do que a Igreja Católica teve papas. Quantos deputados espera alcançar nesta legislatura?
Não quantificamos, mas existe um objetivo: aumentar o número de votos e deputados. – Tem dito que o PCP está preparado para ser governo... – Sim, mas com uma precisão importante: será sempre decidido pelo povo e não por favor de outros. Essa responsabilidade passa pelo apoio dos portugueses. Não nos ofereçam lugares sem responderem às questões: governar para quê e para quem?
Olhando para o programa eleitoral, a CDU quer alterar escalões de IRS, repor salários, aumentar a produção industrial. E como é que isso se faz sem o capital?
O capital não foge... Quando olhamos para setores estratégicos que foram entregues a estrangeiros. – Mas há casos de privatizações que são nacionalizações pelo Partido Comunista chinês... No fundo, são quase nacionalizações por regimes de que são próximos. – Independentemente da origem do comprador, somos claramente contra essa privatização. Seja para chineses, americanos, alemães. O problema não está no comprador, está na alienação do património público.
Na prática, defende o regresso das nacionalizações?
Não são nacionalizações ‘tout court’, acreditamos que é um processo que tem de ser travado. Eu vejo os lucros da EDP, dos CTT… Pode até dizer-se que é dinheiro que fica cá. Mas esses compradores não tiveram de criar mais emprego. Foram compras em que, passado pouco tempo, os lucros pagaram a despesa e o dinheiro foi direitinho para o estrangeiro. Nós defendemos o controlo público.
Qual a fasquia para classificar o resultado das legislativas como uma vitória: 16 deputados?
O sonho anda sempre mais avançado do que a realidade. Partindo da realidade, acho que não vamos crescer apenas um punhado de votos. Não vamos eleger só mais um deputado, vamos eleger mais. –
E vai ser secretário-geral do PCP até quando? – Fazem-me muitas vezes essa pergunta. Enquanto o meu partido quiser, aqui estou para fazer o melhor.
Perfil
Jerónimo Carvalho de Sousa nasceu no dia 13 de abril de 1947 (68 anos) na aldeia de Pirescoxe, Santa Iria de Azoia, onde ainda hoje vive. Frequentou o curso industrial e completou o 3.º ciclo de escolaridade. Cedo começou a trabalhar como operário industrial e a sua profissão é afinador de máquinas. Estreou-se como deputado à Assembleia da República em 1975 pelo PCP, partido a que aderiu logo após o 25 de Abril. Em 2004, tornou-se secretário-geral, substituindo Carlos Carvalhas. Jerónimo de Sousa é conhecido pelo seu sentido de humor e simplicidade.
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