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quinta-feira, 3 de janeiro de 2013


O leitor

- E o que fazes na vida?
- Sou leitor.

Ganham a vida a ler em voz alta nas fábricas de charutos de Cuba. Lêem jornais,

poesia, receitas de cozinha e romances eternos. Sem eles a rotina dos operários

que passam os dias a enrolar folhas de tabaco não seria a mesma. De manhã,

a imprensa diária, à tarde um clássico da literatura, de preferência com muito

amor e intriga. Pelo meio pode haver o horóscopo da semana e até livros para

ensinar a perder peso ou o último best-seller de Dan Brown.
Até à década de 1960, eram os próprios operários quem pagava o salário do leitor,

que podia ser um deles. Faziam-no quer em dinheiro, quer produzindo uma

quantidade superior de charutos para que o colega não tivesse de o fazer.
"Concentrados num romance, num poema ou num simples anúncio da secção de

classificados, não olham nunca para o leitor, mas imprimem à folha de tabaco a

paixão pelo que ouvem, pelas aventuras que vivem e os sonhos que sonham,

para que o prazer dos que a fazem arder se converta em êxtase supremo."
Alguns dos trabalhadores (os poucos que tinham dinheiro para o fazer e que

sabiam ler), incapazes de esperar pelos dias seguintes para saber o que tinha

acontecido ao amargurado Edmond Dantés de Dumas ou ao nobre D. Quixote

de Cervantes, compravam o romance, lembra o escritor. Outros, entusiasmados

com as aventuras que os livros escondiam, decidiram aprender a ler e a escrever,

fazendo dos funcionários das tabaqueiras a classe operária mais culta e informada

da ilha.
A este propósito fiquei também a saber através de um colega que "Os trabalhadores da 
extracção da cortiça, aqui para os lados de Sines, já tinham este hábito no século 
passado: o letrado era poupado às tarefas manuais, ficando com a responsabilidade de 
ler o jornal aos restantes".


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