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terça-feira, 22 de maio de 2012


POEMA: HÁLITO DA NÉVOA


HÁLITO DE NÉVOAS…


Doeu-me o queixume da alma em chama
quando teus olhos poisaram,
lenta e profundamente,
no pôr-do -sol do meu horizonte.




Perdeu-se a pobre, ao olhar-te…
e passou, então, a adorar os fragmentos
do fulgor de um sonho resplandecente,
da tua imagem de deus.



(Tive ciúmes, ó céus…)



Partilhamos, eu e ela, uma- chama -que- me- arde
quando, ao cair da tarde, debruçada da janela,
desfaço fios-da-meada-do-tempo
para que possas ver o hálito de ouro do meu templo.



Imaginas o que fazes, quando sinto, no
meu poema-secreto,
a doçura dos lábios que roçam lençóis
na noite ereta do meu telurismo
perdido no abismo das tuas veias?



O corpo-meu-em-delírio revela-te
os segredos de um arquiteto-desejo
que erige pontes e catedrais numa onda de vagas alteradas
que não param nunca mais!




Tuas mãos, saídas das névoas, suam flores de odorosos sussurros
que,
sob o peso do céu,
sem pudor,
se acomodam em teu oceano-ilha-poema-meu…




Palavras perdem o corpo ao enredarem-se em nós…
E já nem sei o sexo das flores ou das montanhas
quando é hora-de-nós-no-teu-morrer-em-mim…



Almas fundidas não sentem as frias ondas do mar…
Navegam adormecidas em bafos de suave calor…
Ciciam meias palavras, loucas e entorpecidas…
Ondulam, drogadas, em espumas de doce torpor …



Uma densidade líquida a escorrer pelas algas nuas
banha o hálito das névoas …
Um orvalho deslizante insinua-se entre as quatro paredes
da nossa floresta-ser-a-viver…
Cumpre-se o antigo rito das mãos entrelaçadas
enquanto que os olhos se afogam em ramas enevoadas…


Como é pungente o inverno-do-não-ter-amor…
Como é diferente o verão quando não há calor…


Quão baço é o canteiro onde os pássaros não sonham…


Quão tristes são os aloendros, quando perdem as pétalas!




Marilisa Ribeiro
C13 N-46-(ERT)-Abl/012

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