10 razões que me impedem de acreditar em Miguel Relvas
O “Público” veio, finalmente, esclarecer os seus leitores sobre o caos Miguel Relvas. Mais vale tarde do que nunca, mas é bom lembrar que se não fosse o Conselho de Redacção, talvez a direcção do jornal optasse por deixar cair o caso no esquecimento.
Devo dizer que o esclarecimento do jornal, em duas páginas, me esclarece pouco e não mudou a minha opinião. Nenhum dos 10 pontos em que me sustentava para duvidar de Relvas, sofreu qualquer alteração depois de ler o esclarecimento do “Público”. Por isso, aqui os enuncio:
1- Ter-se recusado a prestar esclarecimentos na AR, ao contrário do que fez aquando do caso das secretas, onde foi o primeiro a pedir para ser ouvido;
2- A irritação perante a pergunta da jornalista que apenas pretendia esclarecer uma incoerência entre a realidade dos factos e as declarações que fizera na AR sobre a sua relação com Jorge Silva Carvalho: “ Se só conheceu Silva Carvalho em 2010, como justifica ter recebido um clipping dele sobre a visita de George Bush ao México, que ocorreu em 2007?”. Por que razão essa pergunta foi tão incómoda para o ministro, ao ponto de o levar a telefonar directamente para a editora do jornal?
3- Ter dito, uma semana antes de ir à AR que não se lembrava de ter recebido SMS de Jorge Silva Carvalho e, na audição em Comissão, ter reconhecido que afinal os recebera, mas os apagava;
4- Ter-se remetido ao silêncio quando o Conselho de Redacção do Público fez o comunicado a acusá-lo de pressões inaceitáveis sobre uma jornalista, ameaçando-a de divulgação de dados da sua vida privada;
5- Não ter invocado imediatamente o direito de resposta, face às acusações gravíssimas que lhe eram feitas e, a serem falsas, constituem crime;
6- Ninguém telefona para um jornal a pedir desculpa de algo que não fez;
7- Uma pessoa que reconhece ter-se exaltado com as perguntas formuladas pelo “Público” não pega no telefone a dizer “ continuando a haver comportamentos como este, tenho o direito de apresentar uma queixa na ERC, nos tribunais, e de eu, pessoalmente, deixar de falar com o Publico”. Não está apenas em causa o tom discursivo, absolutamente inverosímil… Está em causa, essencialmente, o facto de o ministro ter falado directamente com a editora e a directora do Público. Relvas tem assessores de imprensa , bem pagos, a quem compete fazer esse trabalho. Ou ganham milhares de euros para fazer recortes de jornais, ler e escrever em blogs?;
8- O facto de ter optado por comunicar directamente com o jornal tem um significado explícito e constitui, por si só, uma pressão. Principalmente, sendo Relvas o responsável pela tutela da comunicação social;
9- Os vários antecedentes de supostas interferências não abonam em defesa de Relvas: Mário Crespo, Paulo Futre e Pedro Rosa Mendes;
10- A prática reiterada de gente do PSD em utilizar a vida privada de jornalistas para fazer pressões e ameaças. ( Lembram-se do caso Branquinho/ Fernanda Câncio?).
Poderia ainda invocar o comportamento de alguns bloguistas que lhe são afectos. Tão preocupados com a liberdade de expressão no tempo de Sócrates, remetem-se agora a um cobarde, mas esclarecedor silêncio.
Poderia argumentar que, pertencendo Relvas a um governo onde a mentira é moeda corrente no discurso e prática política, o mais natural é que estejamos, uma vez mais, perante uma mentira de um membro do governo.
Poderia perguntar como se explica que depois de tanto ter criticado a ERC no tempo de Sócrates, chegando a considerar a entidade reguladora como uma inutilidade, venha agora depositar toda a sua confiança no seu julgamento. Sente-se confortável, porque já a domesticou, sr ministro?
Não vou, no entanto, por aí. Limito-me aos factos e a dizer que enquanto não apresentar queixa-crime contra o “Público” por difamação e se recusar a ir à AR esclarecer todas estas questões de modo a que não restem quaisquer dúvidas, continuo a abdicar da presunção de inocência e a considerá-lo culpado.
Desculpe se me enganei mas, não raras vezes, o que parece é…
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