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quinta-feira, 31 de maio de 2012


Salvemos o Miguel Relvas

O Relvas está para a esquerda portuguesa como em tempos o lince da Serra da Malcata esteve para os nossos ambientalistas, aliás da mesma forma que ninguém imagina a Serra da Malcata sem o famoso lince também ninguém pode imaginar o Passos Coelho sem o Miguel Relvas ao lado. Só mesmo um político como Miguel Relvas nos proporcionaria num mesmo dia vermos o Passos Coelho com um ar de Marco Paulo, um ilustre deputado do PSD a defender o Relvas como num daqueles filmes americanos em que o advogado salva o réu da cadeira eléctrica e deixa os jurados a chorarem baba e ranho, e como se tudo isso fosse pouco ver ainda o Telmo Correia tecer um discurso sobre direitos, liberdades e garantias para apresentar Miguel Relvas como o injustiçado da política portuguesa.
   
Deixemos o Relva governar, gerir as relações com a maralha das autarquias, enganar a troika e o Gaspar (a quadriga de bestas quadradas da finança) despachando as juntas de freguesias e proteger os municípios, vender a RTP agora que a Ongoing já não é a flor de cheiro dos tempos em que o Miguel Relvas era um gestor bem sucedido que reunia com o Vasconcellos mais o agente secreto. Relvas faz falta ao país, ao PSD, ao Passos Coelho e até à oposição e à comunicação social.
  
Com o Portas desaparecido, o Gaspar escondido e protegido por um batalhão armado da GNR, os ministros da Defesa e da Administração Interna na clandestinidade, o Macedo quase desaparecido, a Cristas a tratar do fardamento dos seus funcionários, o Lambretas no meio dos velhos da Santa Casa, vamos bater em quem? Na da Justiça não dá pois o Marinho acha que a moça é só dele, o Cavaco agora cada vez que sai só aparece no mês seguinte e o Álvaro é tão mau que já nem dá gozo bater no pobre diabo. Resta-nos o Relvas, não porque o homem seja muito corajoso mas porque como é o ministro responsável pela condução política os outros escondem-se e mandam-no para a fogueira, é o bombo da festa.
  
Para os jornalistas o Relvas tornou-se num petisco, sem casos judicias contra Sócrates, já nem o processo Freeport anima os jornalistas a não ser os do Correio da Manhã que fazem o frete de o acompanhar como se tudo fosse novidade. Sem o Relvas as redacções só têm matéria para encher os jornais de quinta a sábado, depois têm de inventar para entreterem o papel.
    
Relvas é tão importante como o lince da Serra da Malcata, é um pouco como o agora famoso lince ibérico (o da Malcata também era o lince ibérico mas assim fica mais fino, é como o presunto), se não existisse teríamos de o inventar. Relvas é o símbolo da biodiversidade política deste governo, é um autêntico querqus suber do governo e da classe política portuguesa, é o sombreiro à sombra do qual vive o Passos Coelho, é ele que dá a bolota com que se alimentam os jornalistas e que dá a cortiça com que se fazem as rolhas da oposição. Está para a política portuguesa como o querqus suber para as nossas florestas, o lince para a nossa biodiversidade ou o presunto ibérico para o nosso paladar, a sua perda para a política portuguesa seria irreparável, era como se o Marco Paulo deixasse de cantar ou se no próximo ano a Manuela Moura Guedes não aparcesse na Praia Verde.
  
É por tudo isto que devemos salvar o Miguel Relvas, apelar à sua manutenção no governo bem ao lado de Passos Coelho.

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