Cavaco Silva poderá estar quase tão senil como se pensa
Se a loucura de líderes passados poderá ter alguma graça, a senilidade do Presidente da República actual será mais preocupante, sobretudo porque os indícios não param de se suceder. Segue-se uma listagem sucinta dos sintomas da presidencial sandice.
§ O primeiro sintoma, que despertou a atenção dos portugueses para o comportamento bizarro de Cavaco Silva, foram as declarações ao país. Diferindo por completo do primeiro-ministro que pedia para o deixarem trabalhar, mostrando-se alérgico às interacções comunicativas e falando aos cidadãos apenas se tivesse mesmo de ser, Cavaco Presidente começou por interromper o horário nobre televisivo para comentar o estatuto político dos Açores, batendo o recorde de irrelevância política até então na posse de Charles de Gaulle (em 1967, convocou os jornalistas ao Eliseu para informar que decidira mudar a sua cor preferida de azul para verde). Depois das eleições legislativas, quando o país desesperava por saber se era ou não verdade que o primeiro-ministro teria ordenado escutas ao Presidente, Cavaco volta a enfrentar as câmaras para, numa diatribe de dez minutos, não esclarecer a suspeita original e levantar outras quatro ou cinco. A propósito do casamento entre pessoas do mesmo sexo, novo comunicado ao país para explicar que o Presidente não acha bem que se chame “casamento” a tal união, mas isso não o impedirá de promulgar o diploma, lamentando a inexistência de consenso político capaz de evitar clivagens desnecessárias (como as que existiriam, por exemplo, se, numa questão polémica, um presidente em exercício esquecesse a imparcialidade e tomasse partido).
§ No cumprimento das suas funções oficiais, Cavaco tem-se mostrado confuso com as personalidades que recebe. Há muito que Passos Coelho vem manifestando a colaboradores próximos o desconforto por constatar que o Presidente insiste em tratá-lo por “Marques Mendes”. Outras figuras se têm queixado discretamente do mesmo. Sempre que se encontram, o Presidente chama “Santana Lopes” a Durão Barroso. Por outro lado, nos contactos esporádicos com o legítimo Santana Lopes, o antigo autarca lisboeta e figueirense, primeiro-ministro, presidente do Sporting e secretário de Estado da Cultura aceita com dificuldade que Cavaco lhe chame “Sr. Barbosa” e lhe peça para ir lá a casa tirar medidas para uma marquise.
§ Apesar de ocupar o mais alto cargo da hierarquia política portuguesa, nada indica que Cavaco Silva corra grandes riscos quando se desloca a pé entre populares. Mesmo assim, reforçando um hábito antigo, o presidente rodeia-se sempre por um cordão de segurança apertado, fazendo pensar que receia o contacto com os cidadãos a que preside. Nada mais falso. De acordo com alguns antigos guarda-costas, não é o receio do contacto com os portugueses que leva o presidente a insistir na segurança reforçada, mas sim o pavor que sente de enguias voadoras imaginárias que diz pretenderem invadir-lhe as narinas.
§ Bento XVI viu-se forçado a conter o espanto quando, ao chegar a Portugal, o presidente português lhe apresentou a esposa, o cardeal-patriarca e o seu amigalhaço, Jesus Cristo. Manifestando admirável caridade cristã, o papa alinhou no delírio e estendeu a mão ao jarrão de malmequeres que Cavaco apontava.
§ Respondendo a uma proposta para abrir os jardins do Palácio de Belém ao público, o Presidente da República considerou que tal seria perigoso, já que os mesmos se encontram infestados por uma praga de gnomos canibais.
§ Quando passa férias no seu Algarve natal, Cavaco exige vigilância apertada e um perímetro de segurança alargado em torno da sua propriedade, proibindo-se a circulação a todos os veraneantes com nomes começados por F ou que vistam peças de roupa de cor amarela. Quem cumprir em simultâneo os dois requisitos deverá ser imediatamente detido e libertado apenas depois de envolto em papel de embrulho com motivos natalícios, ordem que os guarda-costas têm tido a sensatez de ignorar na maior parte das ocasiões.
§ Sempre que ouve a palavra “défice”, o Presidente da República tem de cantar cinco vezes seguidas o hino do PSD e lavar abundantemente as mãos com água morna e sumo de maracujá. Por enquanto, tem conseguido adiar a compulsão para momentos de recato, mas não se sabe quanto tempo durará. De igual modo, sempre que Cavaco vê Manuel Alegre, sente-se obrigado a dar estalos com os dedos e a repetir “Fonte de Boliqueime” até alguém lhe enfiar discretamente um comprimido na boca. (Curiosamente, sempre que vê Cavaco, Manuel Alegre sente-se igualmente obrigado a cofiar a barba enquanto improvisa rimas com “liberdade”, “pátria” e “democracia”.)
E como reagem os portugueses à possível senilidade do seu presidente? De acordo com sondagem inÉpcia-Retrosaria Tancredo dos Botões, 60% dos inquiridos não se importam “que o Mário Soares esteja xexé desde que continue a falar bem às pessoas”; 25% preferiam que fosse de outra forma, mas, se não puder ser, paciência; 8% gostaram muito da visita de Sua Santidade, o papa, e esperam que volte depressa; e 7% não podem responder porque têm de ir para casa apagar o fogão que o tacho já deve ter levantado fervura.
Para os analistas internacionais, as mudanças provocadas no país pela senilidade presidencial oscilarão entre “nenhumas”, “imperceptíveis” e “insignificantes”, pelo que os portugueses são aconselhados a assobiar para o lado e esperar que alguém venha apagar a luz.
inércia.com
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