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A guerra assolava ainda por toda a Europa mas, em Loriga, a vida era tranquila e nada fazia prever que algo viesse alterar esse cenário de acalmia, até que um certo dia que já vai longe, num Fevereiro perto do fim algo aconteceu.
O dia estava a chegar ao fim, e a "Garganta e as Penhas" de Loriga começaram a ser cobertas por flocos de nevoeiro, parecendo como que algodão, apesar do dia de Céu azul que tinha estado, parecendo Primavera.
Já a meia-noite tinha ficado para trás, quando se começou a ouvir o trabalhar de um forte motor de avião, parecendo voar mais baixo que as "Penhas", também estas surpreendidas por alguém se aventurar a sobrevoar os seus domínios. A Penha do Gato abriu seus braços como que para os abraçar e lhes dizer que ali só ela era soberana.
Dos Loriguenses ainda acordados saíram gritos de aflição, pois se o avião estava a voar assim tão baixo, por certo iria bater em alguma "Penha". O barulho do motor estava cada vez mais próximo e, a seguir um grande estrondo se fez sentir, não havendo dúvidas de que o avião embatera na serra. O povo ficou aterrado e, de imediato os mais corajosos partiram serra acima com destino ao local .
Ao chegarem, compreenderam então que o inevitável tinha acontecido. O avião embatera contra as rochas, explodindo, constatando-se, então que se tratava de um avião militar estrangeiro.Apesar dos vestígios do incêndio que se gerou depois da explosão, era visível o diverso material de guerra que transportavam. Foram vários os loriguenses que se mandaram caminho acima até ao local, logo após o avião ter batido na "Penha" , um desses foi Emídio Calçada, que depois relataria que ao chegar local, " as balas espalhadas eram tantas que até parecia milho".
Por sua vez os corpos não tinham sido totalmente calcinados porque entretanto tinham sido projectados à distância.
Lentamente e piedosamente foram recolhidos os restos mortais daqueles cadáveres e transportados para a vila a fim de ali serem sepultados, o que veio acontecer. Verificando-se que se tratava de soldados ingleses, pelo facto de serem de religião protestante, não deixaram de ter um funeral digno de respeito pelo povo como nunca tinha acontecido até então. Confiados piedosamente às gentes de Loriga, aqueles mártires da catástrofe vieram acabar os seus dias numa terra verdadeiramente católica, e repousam em paz e para sempre no cemitério local numa campa rasa, cedida gentilmente pela Junta de Freguesia.
Nunca ficaram totalmente esclarecidas as causas do acidente, no entanto pensa-se ter ficado a dever-se ao nevoeiro. Era um avião inglês "Hudson Aircraft"que tinha deixado nesse mesmo dia Gibraltar com destino ao Reino Unido, transportando os seguintes ocupantes:
-Capitão-Roberto Tavener HILDICK; Tenente-John BARBOUR; Tenente-Daniel De Waal WALTERS; Tenente-John Patie THOM; 1.Cabo-Jack Learoyd WALKER; 1.Cabo Henry Ernest HEDGES.
Conforme consta das Certidões de Óbitos passadas pelo Registo Civil de Seia, as mortes ficaram registadas como tendo acontecido à uma e cinquenta minutos desse dia 22 de Fevereiro de 1944.
Desde sempre a "Campa dos Ingleses", como assim ficou a chamar-se, tem sido pelo povo de Loriga um local de respeito, sendo muitas vezes visitada por familiares e organismos ingleses. Este acontecimento da Queda do Avião já foi, em tempos (1989), tema de reportagem na Televisão (RTP).
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Campa dos Ingleses no Cemitério de Loriga
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Era assim igual a este o modelo, o avião "Hudson" fabrico americano, que caiu na "Penha do Gato" na noite de 22 de Fevereiro de 1944, pertencente à força aérea inglesa. |
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Nota:-Segundo os dados da época o local exacto da "Penha do Gato" onde se deu a queda do Avião, foi o local a que o povo chama por "Marte Amieiro", e junto à fraga do Alcabreiro. Na altura, com versos ou simples quadras o povo foi registando este dramático acidente, no entanto, ao longo dos anos foram-se simplesmente esquecendo e hoje são poucos aqueles ainda em lembrança. |
Quadras ao avião que caiu na Serra da Estrela no dia 22 de Fevereiro de 1944
I Meus senhores vou-lhe contar Um caso de grandes horrores Morreram na Serra da Estrela Seis grandes aviadores | V No alto da Serra da Estrela Na barroca do Marteamieiro O avião ficou despedaçado Junto à Fraga do Alcabreiro | IX Loriga ficou comovida Assim como Portugal inteiro Por serem nossos aliados Desde o reinado de D. João I |
II D uma hora para as duas da manhã Do dia vinte e dois de Fevereiro Sobrevoou esta região Um grande avião bombardeiro | VI Veio a justiça do concelho Para os corpos levantar A mil e quinhentos metros de altura Essa noite não podiam lá ficar | X Homens de grande envergadura Cobertos de feitos e glória Seus nomes ficaram escritos Nas lindas páginas da sua história |
III Era de noite não se via A nação de onde ele era Mas ao outro dia já se sabia Porque tinha caído na serra | VII Uns dizia que eram Sul-Africanos Outros diziam que eram franceses Veio um pessoa competente Disse logo que eram ingleses | XI Levantaram de Gibraltar As noves horas depois de comerem Nunca haviam eles pensar Que a Loriga vinham morrer |
IV Ocorreram em grande correria Ao lugar assinalado Quando o povo lá chegou Ficou todo horrorizado | VIII Homens fortes e valentes Da RAF eles eram soldados Quatro tinham o cargo de tenentes E dois também já eram cabos | XII Os brilhantes aviadores Da Real Aero Inglesa Vieram morrer num cantinho Deste grande Nação portuguesa. |
* Filomena Nunes Brito
05/Abril/1944
05/Abril/1944
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Outra referência à queda do avião, ainda hoja muitas vezes recitada *
No dia 22 de Fevereiro de 1944
Um dia bem assinalado
Na Malhada do Marte Amieiro
Junto à Fraga do Alcabreiro
Um avião despedaçado
Um dia bem assinalado
Na Malhada do Marte Amieiro
Junto à Fraga do Alcabreiro
Um avião despedaçado
* Autor desconhecido
www.loriga.de
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