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sábado, 21 de novembro de 2015

Síria: A escalada do confronto entra numa nova fase


Síria: A escalada do confronto entra numa nova fase

por KKE
"As intervenções dos imperialistas nas várias regiões e países, que podem ser levadas a cabo em nome de intenções e slogans “puros” e “bons”, têm o selo do lucro capitalista, dos lucros dos monopólios e da competição desenfreada a desenvolver-se entre eles, sobre a divisão das matérias-primas, as rotas de transportes, os gasodutos e as ações bolsistas. Em todo o caso, a longa “cadeia” de intervenções imperialistas nos recentes anos é testemunho disto mesmo. A Síria não é exceção."
"Nesta fase está a tornar-se óbvio, por um lado, que os EUA e os seus aliados têm como objetivo derrotar o regime Sírio, que é um aliado estratégico da Rússia e do Irão e um aliado da China. Tal desenvolvimento, claro, seria um golpe contra todos estes poderes. Os EUA e os seus aliados utilizam as questões de “combate ao terrorismo”, “restaurar a democracia” e resolver “questões humanitárias”, tais como a proteção das populações cristãs, etc., como pretextos.
Por outro lado, é claro que a Rússia quer suportar o regime Sírio com todos os meios à sua disposição para que os seus monopólios, e não os Euro-Atlânticos, tenham a primeira palavra na cooperação com a secção da burguesia representada pelo regime de Assad, no que diz respeito à exploração dos recursos e das pessoas. E a “guerra contra o terrorismo” e a resolução dos “problemas humanitários” estão também a ser usados como pretextos. Ao mesmo tempo, os esforços da liderança Russa para manter a sua posição na Síria estão integrados na sua tentativa de reforçar a penetração do capital russo noutros países da região."
A Rússia não se manteve à parte
No dia 30 de setembro, a liderança Russa decidiu iniciar ataques aéreos na Síria contra o chamado “Estado Islâmico”. Muito cedo, nesse mesmo dia, a Câmara Alta do Parlamento Russo aprovou o pedido do Presidente Vladimir Putin, relacionado com a deslocação de forças militares para o estrangeiro e especificamente para apoiar Bashar Assad na Síria.
Este desenvolvimento surgiu alguns dias após o discurso do Presidente Russo nas Nações Unidas, onde defendeu as posições Russas na Síria e na Ucrânia e, também, após a sua reunião com a contraparte dos EUA. Não obstante, não foi um tiro no escuro, uma vez que todas as fontes, nas semanas recentes, referiam o aumento da presença militar Russa na Síria e o transporte para esse território de equipamento militar.
Escalada da intervenção
Os desenvolvimentos também sinalizaram claramente o aprofundamento das contradições interimperialistas na região do Médio Oriente e no Mediterrâneo Oriental. Devemos ter em conta que a intervenção militar Russa na Síria surge após a intervenção dos EUA, da UE, Turquia, as monarquias do Golfo, etc., na região que tem sido objeto de várias intervenções desde 2011.
O KKE denunciou esta intervenção, que tem consequências muito graves para o povo sírio e também para os povos de toda a região, desde o primeiro momento. Quando os partidos burgueses e oportunistas celebraram as chamadas “Primaveras Árabes”, o nosso partido expôs os esforços organizados para financiar e armar a chamada oposição Síria pelos poderes imperialistas, que resultou, entre outras coisas, na formação e alargamento da monstruosidade do “Estado Islâmico”, assim como a criação de uma enorme onda de refugiados, dentro do país (cerca de 10 milhões de pessoas) e também para países estrangeiros (principalmente para a Turquia, Líbano e Jordânia, onde vivem cerca de 2 milhões de pessoas que tiveram de sair das suas casas e, dessas, aquelas que podem tentam chegar a países Europeus).
O aspecto militar do conflito Sírio
Os laços económicos e político-militares da Rússia com o regime burguês de Assad são bem conhecidos. Este regime é um aliado estável da Rússia capitalista na região do Médio Oriente e do Mediterrâneo Oriental nos últimos 20 anos. Esta é uma região onde um sério “jogo” geopolítico está a ser levado com poderosos “jogadores”, como os EUA, a UE, Israel, Turquia, Egito, as monarquias do Golfo.
A intervenção destes poderes na Síria, que utilizou problemas sociais e políticos existentes do regime de Assad, levou o país a um “puzzle” político-militar complexo. Consequentemente, depois da “tricotomia” do Iraque causada pela invasão dos EUA (em áreas controladas pelo governo central, áreas controladas pelos Curdos, áreas controladas pelo EI), um desmembramento similar está a acontecer na Síria.
As forças político-militares que permanecem leais a Assad mantêm controlo sobre uma parte significativa do país, cerca de 40% do território, que inclui as áreas mais populacionais e mais cultivadas.
As suas forças armadas, depois de 5 anos de guerra, desgaste e quebra, foram, por necessidade, reduzidas de 325.000 para 150.000. Outros 60.000 estão nas forças da bem armada Guarda Republicana e alguns dez mil estão em milícias armadas, assim como nas forças do libanês Hezbollah, que é um aliado estável do regime. A Rússia e o Irão, neste período, têm suportado o regime com armas, munições e conselheiros militares.
Uma secção do norte do país é controlada pela milícia Curda, que chega a cerca de 30.000, compostos por tropas ligeiramente armadas.
O autoproclamado “Estado Islâmico”, que parece controlar uma grande parte do território, que, na verdade, é uma área deserta e desabitada, tem o controlo de áreas que fazem fronteira com o Iraque e controla recurso petrolíferos, que pagam os seus lucros da venda de combustível à Turquia e ao Iraque no mercado negro. Há diferentes avaliações no que diz respeito ao nível das suas forças, desde 20 a 100 mil. Os serviços secretos russos estimam que sejam entre 30 a 50 mil. Entre estes, há muitos que vêm do estrangeiro (Europa, Rússia, etc.), enquanto as suas relações com a Turquia, as monarquias do Golfo e também os EUA são bem conhecidas e financiam-nos, treinam-nos, armam-nos e agora usam-nos para fazerem avançar os seus planos.
As forças da oposição “armada” do chamado “Exército Livre da Síria”, que goza abertamente do patrocínio dos EUA-UE, estão calculadas entre 45 a 65 mil, números abertamente disputados pela liderança russa.
Outras forças militares estão ativas no movimento islâmico “Jabhat al-Nusra” que tem mais de 10 000 homens armados e é suportado pelos regimes monárquicos da região.
Claro, na prática, podemos ver que todas as forças estão a combater o regime de Assad, apesar das tensões existentes entre elas, mas são “vasos comunicantes”, isto é, complementam-se.
Finalmente, não podemos esquecer-nos de que Israel tem ocupado o território Sírio (os Montes Golan) desde 1967, estabeleceu forças permanentes de ocupação militar e providencia apoio médico (e outros?) às forças que lutam contra Assad.
O envolvimento Russo
Nestas complexas condições militares, a liderança Russa decide reforçar as forças de Assad, principalmente de “duas formas”: a) através da provisão de equipamento militar moderno, com armas de precisão (novas carreiras de pessoal armado, sistemas modernos de telecomunicações, drones espiões, metralhadoras, etc.); b) através de bombardeamentos aéreos das forças “terroristas”. A força aérea síria tem aviões antigos, com menor capacidade de conseguir ataques aéreos de grande precisão contra os seus oponentes.
Através destas ações, é entendido que as perdas das forças armadas Sírias podem ser travadas e que podem novamente alcançar a vantagem e dinamismo em relação aos seus inimigos.
Acresce que, por iniciativa da Rússia, um “Centro de Informação Conjunto” foi estabelecido em Bagdade, juntamente com a Síria, Irão e Iraque, com o objetivo de coordenar as operações contra o “Estado Islâmico”.
A Rússia já lançou dezenas de ataques aéreos, nos primeiros dias, desde as bases que estabeleceu no território russo, enquanto também enviou pequenos números de forças terrestres, compostas por fuzileiros nas bases Russas, onde os seus aviões e helicópteros militares conduzem operações e, também, navios da sua Marinha foram enviados para as águas territoriais sírias.
Isto no que diz respeito ao setor militar, porque existem também objetivos importantes na esfera política. Em qualquer caso, não devemos ignorar a ligação entre as esferas políticas e militares, uma vez que a guerra é a continuação da política através de outros meios (violentos).
Por detrás da…fachada
Dentro destes desenvolvimentos, temos de examinar os reais motivos, o caráter de classe e as intenções das forças que estão envolvidas no conflito militar, ultrapassando os pretextos para as intervenções como “a guerra contra o terrorismo”, ou de que estão a ser conduzidas por “razões humanitárias”, ou que os bombardeamentos estão a ser levados a cabo com a aprovação do governo local ou da ONU e, por isso, de acordo com a lei internacional. Temos de ter em mente que o bombardeamento da Líbia foi aprovado pela ONU. Em suma, então, precisamos de olhar por detrás… da fachada que está a ser criada para acobertar cada ação.
As intervenções dos imperialistas nas várias regiões e países, que podem ser levadas a cabo em nome de intenções e slogans “puros” e “bons”, têm o selo do lucro capitalista, dos lucros dos monopólios e da competição desenfreada a desenvolver-se entre eles, sobre a divisão das matérias-primas, as rotas de transportes, os gasodutos e as ações bolsistas. Em todo o caso, a longa “cadeia” de intervenções imperialistas nos recentes anos é testemunho disto mesmo. A Síria não é exceção.
Os objetivos por detrás dos pretextos
Nas duas últimas décadas, devido a desenvolvimentos desiguais do capitalismo, apareceram em cena poderes capitalistas emergentes (China, Rússia, Brasil, África do Sul) que estão a ganhar território à custa de antigos poderes, como os EUA ou os países da UE. A competição intensifica-se. É muito importante para os interesses monopolistas baseados nestes países adquirirem novos recursos energéticos, para determinar e controlar as rotas de transporte das mercadorias e também para controlar secções das economias de outros países. A crise capitalista baralhou e voltou a dar.
Foi demonstrado que o chamado “mundo multipolar” é um mundo de duros confrontos interimperialistas, que estão a ser travados com meios económicos, diplomáticos, políticos e militares, nas várias regiões do planeta. Uma dessas regiões é o Médio Oriente e o Mediterrâneo Oriental que é rica em hidrocarbonetos. Esta região é também a “passagem” da Europa para a Ásia e África e tem muitas questões por resolver, deixadas pelas últimas décadas.
Nesta fase está a tornar-se óbvio, por um lado, que os EUA e os seus aliados têm como objetivo derrotar o regime Sírio, que é um aliado estratégico da Rússia e do Irão e um aliado da China. Tal desenvolvimento, claro, seria um golpe contra todos estes poderes. Os EUA e os seus aliados utilizam as questões de “combate ao terrorismo”, “restaurar a democracia” e resolver “questões humanitárias”, tais como a proteção das populações cristãs, etc., como pretextos.
Por outro lado, é claro que a Rússia quer suportar o regime Sírio com todos os meios à sua disposição para que os seus monopólios, e não os Euro-Atlânticos, tenham a primeira palavra na cooperação com a secção da burguesia representada pelo regime de Assad, no que diz respeito à exploração dos recursos e das pessoas. E a “guerra contra o terrorismo” e a resolução dos “problemas humanitários” estão também a ser usados como pretextos. Ao mesmo tempo, os esforços da liderança Russa para manter a sua posição na Síria estão integrados na sua tentativa de reforçar a penetração do capital russo noutros países da região.
Vários cenários relacionados com o confronto imperialista
As bases para este confronto são as relações capitalistas de produção e a questão de como os recursos naturais e a riqueza produzida pelos trabalhadores será dividida. Assim, uma enorme constelação de poderes está a suportar a questão Síria. Isto não significa, por exemplo, que haverá automaticamente um conflito direto. Há muitos outros cenários.
Por exemplo, não podemos excluir a possibilidade dos EUA e os seus aliados escolherem uma tática econômica de longo termo de “sangria” e atrito político- militar com a Rússia, Síria e a Ucrânia de Leste, criando também outras “feridas” na Ásia Central, no Cáucaso, etc.
Não podemos também excluir a possibilidade de envolvimento militar aberto de todos os poderes na Síria, dividindo-a e transformando-a em protetorados.
Mesmo num cenário de um compromisso temporário entre esses países envolvidos, com a substituição de Assad, a utilização de forças “moderadas” da oposição, algo que hoje parece difícil, não pode ser excluído.
O envolvimento da Grécia
O governo SYRIZA-ANEL tem enormes responsabilidades em relação ao povo Grego, porque afirma que está disponível para empurrar o nosso país para o poço sem fundo destas contradições interburguesas, através da participação nos planos dos EUA, da NATO e da UE.
Falamos do empréstimo de bases militares para intervenções imperialistas, da criação de novos (Karpathos), bem como o contributo da Grécia com forças militares, numa possível intervenção.
Nós, comunistas, opomo-nos às escolhas e planos da burguesia do nosso país, que estão a ser servidas pelo governo SYRIZA-ANEL, que afirma que está pronto para empurrar a Grécia para uma guerra imperialista sob o pretexto da “luta contra o terrorismo”.
Opomo-nos à guerra imperialista e apelamos às populações que organizem a sua luta contra o envolvimento do nosso país, contra a utilização do território, mar e espaço aéreo como “rampa de lançamento” para ataques contra territórios estrangeiros e também contra a participação das forças armadas Gregas.
Expressamos a nossa solidariedade com o movimento comunista na Síria, que claramente não pode estar indiferente perante esta intervenção imperialista estrangeira que está a ter lugar no seu país nem em relação aos planos para ocupar e desmembrar o país.
A luta do povo Sírio pode ter resultados significativos se estiver ligada à luta por um país livre de capitalistas, fora de todas as coligações imperialistas, um país onde a classe trabalhadora esteja no poder, dona de toda a riqueza que produz.
Artigo publicado no “Rizospastis”, em 4/10/2015
Tradução em português por www.pelosocialismo.net
Fonte: KKE

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