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segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Justiça e media: o grau zero da promiscuidade

 

Habituados que estamos à promiscuidade entre a Justiça e alguns órgãos de comunicação social, não podemos dizer que estranhamos mais uma manifestação da aliança entre estes dois sectores. Refiro-me à insólida transmissão pela CMTV, com reprodução no jornal do grupo – Correio da Manhã – do interrogatório judicial no DCIAP do ex-ministro Miguel Macedo,  acusado no caso dos “vistos Gold”.
As imagens mostram o ex-ministro a ser interrogado por uma procuradora, ouvindo-se quer as perguntas quer as respostas. Essas imagens são parte de uma reportagem da “especialista” da casa, a jornalista Tânia Laranjo, cujas intervenções reforçam, como é seu costume, as posições do  Ministério Público.
Na peça da CMTV não é referida a proveniência das imagens, nem aliás seria necessário, já que não é suposto que a CMTV ou o Correio da Manhã tenham colocado na sala do interrogatório uma câmara escondida. Há, aliás, um momento insólito nas imagens, quando alguém que parece ser um funcionário da casa (apenas se vêem as calças de ganga, mangas arregaçadas e camisa desalinhada) entra na sala à procura de dossiês empilhados numa mesa atrás da cadeira onde se senta Miguel Macedo e deixa cair alguns, perturbando o interrogatório. Macedo parece incomodado com o barulho e olha para trás para ver do que se trata.
Segundo informação da repórter Tânia Laranjo no início da peça,  o interrogatório de Miguel Macedo decorreu “num anexo” do DCIAP e durou 2 horas. Pelo que se viu com a entrada do funcionário a sala do interrogatório era de acesso fácil, pelo menos o citado funcionário (seria um arrumador?) não pediu licença para entrar.
Não sendo admissível que o Ministério Público tenha cedido a gravação à CMTV ou ao Correio da Manhã, quem sabe se alguém se escondeu nalgum canto do anexo para captar as imagens.  Há, porém, uma pista reveladora de que assim não é: é que nunca se vê a procuradora que interroga Miguel Macedo. Apenas este e o seu advogado surgem nas imagens e sempre do mesmo ângulo. As imagens só podem pois ser do DCIAP  (que naturalmente grava as inquirições). Como titular do inquérito o MP sabe quem se encontra na posse das imagens e não lhe será difícil saber quem as cedeu ao Correio da Manhã e ao seu canal de televisão.
A  promiscuidade entre o Ministério Público e algum jornalismo já tinha atingido o grau zero no processo Marquês. Parecia não ser possível descer ainda mais. Mas as imagens  exibidas pela CMTV, de Miguel Macedo a ser interrogado num “anexo” ao DCIAP, tipo armazém de dossiês, onde um funcionário entra e sai descuidadamente para tirar pastas que depois deixa cair ruidosamente, é qualquer coisa de surrealista.
Que pessoas como Rui Pereira, ex-ministro da Administração Interna, que assistiram à exibição daquilo na CMTV na qualidade de comentadores, não se tenham demarcado daquela nojeira, é de bradar aos céus.
Procuradoria-Geral abriu um inquérito para apurar os responsáveis pela divulgação das imagens. Mais um para arquivar.

vaievem.wordpress.com

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