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domingo, 29 de novembro de 2015

O faroeste


É sempre importante estarmos abertos a conselhos espirituais, mas há limites que convém não ultrapassar, nem todos estão em posição de os dar. Disse ontem José Maria Ricciardi, o ex-banqueiro da família Espírito Santo: Portugal não pode voltar a perder a reputação internacional. Não pode, de facto, ele está 100% certo, porque depois é difícil ou quase impossível recuperá-la integralmente. Há momentos a partir dos quais as pessoas torcem o nariz, desconfiam, aprendem a defender-se. Ricciardi, a braços com um processo no Banco de Portugal por várias condutas financeiras talvez impróprias, se calhar ilegais, supostamente ruinosas - é o que este e outros processos um dia nos irão esclarecer -, chamou a atenção do país para o perigo de voltarmos a jogar a reputação e deitarmos tudo a perder. Não está malvisto, o problema é que quem neste caso nos avisa deveria ter o mínimo de pudor, talvez até um pingo de vergonha. Por causa de tudo o que aconteceu nestes anos, há muitos gestores, vários políticos e alguns banqueiros que já não podem falar de cátedra e dar lições de ética e boa gestão como nos bons velhos tempos do faroeste. Devem pelo menos saber esperar pela clarificação das águas. Entretanto, não perdem a cidadania nem o direito de se expressar livremente, mas correm o risco de ridicularizar tudo o que está à sua volta quando se acham prematuramente a salvo do monstruoso rasto de destruição que ficou pelo caminho. A situação de José Maria Ricciardi é paradigmática. É evidente que a partir de certa altura ele parece ter sido essencial para desmontar o polvo BES/GES - e isso tem de ser tido em conta. O confronto com o primo Ricardo Salgado ajudou a quebrar o equilíbrio instável da organização e favoreceu as fugas de informação. Houvesse em Portugal um quadro jurídico bem definido de "arrependido" ou "denunciador" - fundamental para apanhar os crimes de colarinho branco - e talvez Ricciardi pudesse ter assumido abertamente esse papel, colocando-se a tempo do lado do bem contra o mal. Mas não é o que diz a acusação do Banco de Portugal. Ricciardi, que ontem até jantou com o ministro Centeno, pode ter sido cúmplice da maior hecatombe financeira do país. Não recordar isto - e aceitar que se comporte impunemente - seria trágico. Seria mais uma pedrada na comunidade que, ainda assim, queremos ser.

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