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domingo, 21 de dezembro de 2014

A ESCOM GASTOU DOIS MILHÕES DE EUROS SÓ PARA OCULTAR DINHEIRO - Luís Horta e Costa admite que operação serviu para esconder prémios pagos nos submarinos e contornar o fisco. "Hoje não faríamos isso".


Escom gastou dois milhões só para ocultar dinheiro


Luís Horta e Costa admite que operação serviu para esconder prémios pagos nos submarinos e contornar o fisco. "Hoje não faríamos isso".


Os dois submarinos comprados ao German Submarine Consortium custaram 880 milhões de euros
Os dois submarinos comprados ao German Submarine Consortium custaram 880 milhões de euros /  Bruno Simão

A Escom gastou 2,1 milhões de euros só para constituir e 
gerir um fundo secreto nas Bahamas com o objetivo de 
esconder o destino 
final do dinheiro que o German Submarine Consortium 
(GSC) pagou pelos serviços de consultoria prestados por aquela empresa do
 Grupo Espírito Santo. "Quisemos dificultar o acesso a essa informação e esperar por uma oportunidade para regularizarmos os 
impostos com melhores condições fiscais", admite Luís Horta e Costa, administrador da Escom. "Além disso, achámos que  seria 
complicado que se viesse a saber que houve uma distribuição de bónus à família Espírito Santo", acrescenta. "O momento no país era 
diferente. Se fosse hoje não faríamos isso."
Ao todo, a Ferrostaal, uma das empresas do GSC, pagou 27 milhões à Escom pelo sucesso no negócio de venda de dois submarinos
 ao Estado português 
em 2004. Dos 27 milhões de euros recebidos pela Escom, cinco milhões tiveram como beneficiários finais os membros do conselho 
superior do Grupo Espírito Santo (GES), incluindo Ricardo Salgado, enquanto 16 milhões foram parar às mãos de três administradores 
e de um consultor da Escom, Miguel Horta e Costa, irmão de Luís Horta e Costa. Ou seja, 21 milhões foram convertidos em prémios. 
Até agora, no entanto, não era ainda do conhecimento público o que tinha acontecido com seis milhões de euros - o resto dos 
27 milhões de euros transferidos pela Ferrostaal.
O rasto do dinheiro da Escom esteve no epicentro da investigação que o Departamento Central de Investigação e 
Ação Penal (DCIAP) desenvolveu durante os últimos oito anos, relacionada com suspeitas de que teria havido corrupção no negócio 
dos submarinos. Esta semana, a procuradora Josefina Escolástica e o procurador Júlio Braga deram o caso por encerrado, concluindo 
pela não existência de indícios de que tenham sido pagas 'luvas' a "decisores políticos" em troca de uma vitória dos alemães no 
concurso público internacional lançado pelo Estado português para a aquisição dos submarinos.

Um milhão em juros para receberem mais cedo
De acordo com Luís Horta e Costa, além dos 2,1 milhões gastos com a criação do fundo nas Bahamas, houve ainda 940 mil euros de
 custos financeiros por causa de dois empréstimos contraídos pela Escom junto do BES Cayman para permitir que os prémios dos 
gestores da empresa e da família Espírito Santo fossem recebidos antecipadamente, logo em outubro de 2004, dias depois de o 
contrato dos submarinos com o Estado português ter entrado em vigor.
O fundo constituído nas Bahamas, o Feltree Investment Fund, foi criado através de uma empresa especializada no Brasil. A Escom
 transferiu um total de 19 milhões de euros para uma conta titulada por esse fundo no POBT Bank and Trust nas Bahamas. Desses 19
 milhões, 13 foram para os administradores e para o consultor da Escom. Além disso, foi usada uma sociedade do Grupo Espírito Santo 
nas Ilhas Virgens Britânicas, a Afrexport, para onde foram 8,25 milhões de euros. Daí, cinco milhões seguiram para contas da família
 Espírito Santo no KBL Swiss Private Bank, em Genebra, e três milhões ficaram para os homens da Escom.
Ainda segundo Luís Horta e Costa, a Escom teve depois outros gastos associados ao negócio dos submarinos. Pagou 750 mil euros 
ao
 escritório de advogados Vieira de Almeida, por serviços jurídicos; 621 mil euros ao BES Investimento, por aconselhamento financeiro; 
500 mil euros à Inteli, por consultoria técnica. E teve de suportar uma sucursal no Reino Unido, criada e mantida de propósito para 
aquele negócio, que custou 340 mil dólares, incluindo os salários e a residência de um representante.
Houve, por último, 360 mil euros gastos em Portugal com despesas de viagem e uma avença mensal de cinco mil euros paga ao longo 
de vários anos a Miguel Horta e Costa, o homem que geriu o dossiê dos submarinos com os alemães desde o início. E que receberia
 depois quatro milhões de euros de prémio, tal como os três administradores da Escom.
Confrontado com as declarações de Ricardo Salgado feitas numa reunião do Conselho Superior do GES em dezembro do ano
 passado - e cujas gravações foram tornadas públicas -, em que o banqueiro se refere a uma "parte que tem de ser entregue a alguém 
em determinado dia", Horta e Costa diz: "O dr. Ricardo Salgado sabia perfeitamente que o dinheiro era para o meu irmão. A questão é 
que ele achava que não lhe devíamos dar dinheiro nenhum, apesar de ter sido o Miguel Horta e Costa a trazer o negócio para a
Escom."


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