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terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Grécia e as ameaças de ostracismo - «Estava escrito nas estrelas e anunciado pelos oráculos de Delfos: o equilíbrio instável grego, entre uma austeridade medonha e um poder político de cristal, estava prestes a fragmentar-se.

Grécia e as ameaças de ostracismo



«Estava escrito nas estrelas e anunciado pelos oráculos de Delfos: o equilíbrio instável grego, entre uma austeridade medonha e um poder político de cristal, estava prestes a fragmentar-se.

As eleições vêm aí, entre as ameaças de ostracismo decretadas pela União Europeia e a vontade própria dos gregos. Na antiga Grécia uma "ostrakon" era um pedaço de cerâmica onde os cidadãos de Atenas escreviam o nome que queriam ver removido da política e desejavam que fosse enviado para o exílio durante 10 anos. O propósito do "ostracismo" era ser uma espécie de limpeza administrativa de uma democracia.

Nestes tempos da União Europeia onde a democracia foi substituída pela austeridade tutelada por Bruxelas, e onde o poder democrático dos cidadãos está refém da chantagem orçamental e dos empréstimos externos, o braço-de-ferro entre a Grécia e a UE, especialmente se as eleições parlamentares não "correrem bem", vai determinar também parte do futuro de Portugal. O delicado equilíbrio reinante na União Europeia e na Zona Euro vai ser posto à prova durante 2015 em sucessivas eleições. No meio de um ambiente propício ao radicalismo político. A crise grega é apenas o aperitivo para o que poderá acontecer em França, Grã-Bretanha, Espanha, Portugal ou Dinamarca.

Entre o poder dos mercados, o valor do voto dos cidadãos e a política cega da União Europeia se verá se a Europa não irá ser uma pavorosa Medusa, onde cada um dos seus cabelos não se transforma numa cobra cuspideira onde todos passarão a atacar todos. E onde o pior que poderá acontecer será Bruxelas tentar ostracizar os cidadãos de cada país humilhado e farto de falsas esperanças e de austeridade sem fim. 2015 arrisca-se a ser o ano de todas as decisões para esta Europa que criou um mercado único, mas não criou um sistema democrático europeu. Afinal a crise agora não é apenas financeira. Nunca foi. É política. Como, desde o início, sempre foi.»

Fernando Sobral

entreasbrumasdamemoria.blogspot.pt

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