Corria o ano de 2004. Nos corredores burocratas de Bruxelas, discutia-se a sucessão de Romano Prodi e o nome de Durão Barroso surgia como terceira ou quarta opção para o cargo. Barroso não era uma personalidade destacada da cena política internacional mas cumpria requisitos de subserviência que poderiam ser muito úteis, como foi possível verificar, para servir os interesses das principais potências europeias. Algo que de resto tinha já ficado provado quando se colocou no papel de mordomo da Cimeira das Lajes, arrastando o nosso país para uma guerra absurda que não nos dizia respeito e que colocou Portugal nos radares do terrorismo islâmico. Uma guerra sem qualquer tipo de legitimidade e que mais não foi do que uma violação da soberania de um Estado para controlar os seus recursos petrolíferos e um aviso à navegação para outros chefes de Estado que tivessem a ousadia de, tal como Saddam, levantar a possibilidade de transaccionar petróleo em euros ou noutra moeda que não o dólar.
Faltava apenas libertar o novo fantoche das suas responsabilidades perante o povo português, que o havia conduzido ao poder 2 anos antes para liderar um governo de coligação entre o seu PSD e o CDS-PP de Paulo Portas, um governo “submarino” que pouco ou nada fez excepto aumentar a dívida pública de um país, nas palavras de Barroso, “de tanga”. Um governo liderado por um homem que passou os 10 anos seguintes a falar de responsabilidade mas que não hesitou um segundo em lançar o seu país para uma crise política quando confrontado com a hipótese de ganhar mais dinheiro e viver como um verdadeiro aristocrata na corte europeia onde a austeridade não existe e trabalhar não é propriamente uma obrigação, como o vídeo que abre este post comprova. Assim se resume o conceito de serviço público de Durão: é tudo uma questão de “condições laborais”.
A fuga não foi difícil. Estávamos em pleno Euro2004 e o país vibrava com a prestação da selecção nacional. Neste clima de euforia permanente, Durão cozinhou calmamente a sua saída da cena política nacional. No dia seguinte ao histórico Portugal x Inglaterra no qual o Ricardo defendeu o penalti sem luvas, Durão vai a Belém e informa Jorge Sampaio sobre a sua ida para Bruxelas, apontando o seu amigo Santana Lopes como seu sucessor. A sociedade estava-se nas tintas porque, é sabido, o futebol é prioridade, a política é uma coisa chata e a ressaca do dia anterior ainda se fazia sentir. Dias depois, mais concretamente a 5 e Julho de 2004, Barroso apresentou a sua demissão e o país, ainda em choque depois de perder a final do Europeu contra a Grécia no dia anterior, não deu grande importância à ocorrência. Claro que a escolha deste calendário foi mera coincidência.
Há quem diga que Durão ajudou Portugal enquanto presidente da Comissão Europeia. O que essas pessoas não conseguem explicar é exactamente de que forma. Mistérios insondáveis do “porque sim”. Para a história fica um homem que abandonou o país que o elegeu, lançando-o para uma crise política que culminou com a dissolução do Parlamento, um ano depois, e que deu espaço à primeira maioria absoluta do PS, à ascensão de José Sócrates e a tudo o que isso significou. Fica também a cara de pau de um manipulador profissional que teve a distinta lata, ao ser condecorado pela “coisa” de Belém, de afirmar que
Durão Barroso até pode tentar iludir-se com esta absoluta demência de achar que está a ser condecorado pelo país. Mas nem ele acredita, limita-se a seguir a cartilha do politicamente correcto e até convence uns quantos carneiros. A verdade é que foi a partidocracia que o condecorou. Foi esse sistema podre do bloco central que distribui condecorações a todos os que cumprem os desígnios da elite e que ajudou a branquear a traição barrosista. Mas a lata do cherne foi ainda mais longe ao afirmar que tinha executado um “programa português“, ao mesmo tempo que defendeu a necessidade de combater algum “soberanismo” patente em alguns sectores da opinião pública portuguesa. Durão deve achar que isto da soberania é uma grande maçada e que bom bom seria mesmo alienar o que sobra dela, transformando Portugal num mero resort periférico da União, destinado ao turismo dos países ricos do norte. De preferência com poucos licenciados que a “senhora” Merkel acha que temos cá em excesso.
Durão Barroso é um traidor. Traiu Portugal quando lhe virou as costas, quando se submeteu ao poder do centro da Europa em detrimento da periferia e volta agora a traí-lo quando afirma que a soberania do nosso país deve ser combatida. E se dúvidas restassem quanto às suas intenções, Durão é claro e reafirma que a decisão de abandonar o seu país foi a acertada. E a forma como foi saudado por alguns sectores da sociedade, depois desse exercício de manipulação absolutamente nojento e desprezível, é ilustrativa do tipo de gente que nos governa, que nos controla e que nos espezinha. Todos os dias perante a nossa mansidão. Ou acham que há inocentes nesta história?
aventar.eu
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