Sobre o poder da retórica
Quino, Potentes, prepotentes e impotentes, Ed. D. Quixote.
Nos dois textos seguintes são apresentados pontos de vista diferentes sobre o papel da retórica, caracterize cada um deles.
«Um retórico do passado dizia que o seu ofício era fazer que as coisas pequenas parecessem grandes e como tal fossem julgadas.
(…) Arquidamo (…) não terá ouvido sem espanto a resposta de Tucídides, ao qual perguntara quem era mais forte na luta, se Péricles, se ele: “Isso será difícil de verificar, pois quando o deito por terra, ele convence os espectadores que não caiu, e ganha”.
Os que, com os cosméticos, caracterizam e pintam as mulheres fazem menos mal, pois é coisa de pouca perda não as ver ao natural, ao passo que estes outros fazem tenção de enganar, não já os olhos mas o nosso juízo, e de abastardar e corromper a essência das coisas.»
Montaigne, Ensaios, antologia, tradução de Rui Bertrand Romão, Relógio de Água Editores, Lisboa, 1998, pág. 147.
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Num diálogo intitulado Críton, Platão relata a forma como Sócrates (condenado à morte pelo tribunal em 399 a.C por, entre outras acusações, corromper a juventude) responde à proposta que alguns dos seus discípulos lhe fazem: fugir em vez de aceitar a sentença fatal.
“Críton: (…) Mas, caro Sócrates, uma vez mais te peço, obedece-me e salva-te. É que, se morreres não será para mim uma desgraça só, além de ficar privado de um amigo como não tornarei a achar outro, ainda farei aos olhos da maioria, que não nos conhece bem, nem a mim nem a ti, o papel de alguém que podendo salvar-te, se quisesse gastar dinheiro, não esteve para se incomodar. E que fama pode haver mais vergonhosa que parecer ter em maior conta o dinheiro do que os amigos? A maioria das pessoas nunca acreditará que foste tu que não quiseste sair daqui, apesar da insistência dos nossos pedidos.
Sócrates: Portanto, meu caro, não devemos preocupar-nos muito com as afirmações da maioria, mas sim (…) com a verdade. Não é, por isso, boa a tua sugestão inicial de que devemos preocupar-nos com a opinião da maioria sobre a justiça e a bondade (…). Em todo o caso, poderá alguém observar: a maioria é muito capaz de nos mandar matar.
Críton: Evidentemente, poderia muito bem dizer-se isso, ó Sócrates.
Sócrates: Mas, meu caro, a lógica seguida parece-me ser a mesma de há pouco. E repara de novo se este princípio permanece ou não: o que mais importa não é viver, mas viver bem.”
Platão, Êutifron, Apologia de Sócrates, Críton, Edição Imprensa Nacional – Casa da Moeda, Lisboa, 1990.
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