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terça-feira, 20 de maio de 2014

SE DEUS EXISTISSE Conclusão Tal é, portanto, o Deus que, desde tempos imemoriais, nos tem ensinado e que ainda hoje se ensina às crianças, tanto nas escolas como nos lares. E que de crimes se tem cometido em nome dele! Que de ódios, guerras, calamidades tem sido furiosamente desencadeados pelos seus representantes! Esse Deus de tanto sofrimento não tem sido a causa! E quantos males provoca ainda hoje!

SE DEUS EXISTISSE

Conclusão

Tal é, portanto, o Deus que, desde tempos imemoriais, nos tem ensinado e que ainda hoje se ensina às crianças, tanto nas escolas como nos lares. E que de crimes se tem cometido em nome dele! Que de ódios, guerras, calamidades tem sido furiosamente desencadeados pelos seus representantes! Esse Deus de tanto sofrimento não tem sido a causa! E quantos males provoca ainda hoje!

Há quantos séculos a religião traz a humanidade curvada sob a crença, espojada na superstição, prostrada resignadamente!
Não chegará jamais o dia em que, deixando de crer na justiça eterna, nas suas sentenças imaginárias, nas suas recompensas problemáticas, os seres humanos começam a trabalhar com um ardor infatigável pelo vento de uma justiça imediata, positiva e fraternal sobre a Terra? Não soará jamais a hora em que, desiludidos das consolações e das esperanças falazes que lhes sugere a crença de um paraíso compensador, os seres humanos comecem a fazer do nosso planeta do Éden de abundância, de paz e de liberdade, cujas portas estejam fraternalmente abertas para todos?
Há muito tempo que o contrato social é inspirado num Deus sem justiça, como há muito tempo que ele se inspira numa justiça sem Deus. Há muito tempo que as relações entre os países e os indivíduos dimanam num Deus sem filosofia, como há muito tempo que elas dimanam uma filosofia sem Deus. Há muitos séculos que monarcas, governos, castas, padres, condutores do povo e diretores de consciências, tratam a humanidade como um vil rebanho de cordeiros, para, em último lugar, serem esfolados, devorados, atirados ao matadouro.
Há séculos que os deserdados suportam passivamente a miséria e a servidão, graças ao milagre procedente do Céu e à visão horrorosa do inferno. É preciso acabar com este odioso sortilégio, com esta burla abominável.
Tu, leitor, que me lês, abre os olhos, examina, observa, compreende. O Céu de que te falam sem cessar; o Céu com a ajuda do qual procuram insensibilizar a tua miséria, anestesiar os teus sofrimentos e afogar os gemidos que, apesar de tudo, saem do teu peito, é um Céu irracional, um Céu deserto. Só o seu inferno é que é povoado, que é positivo.
Basta aos lamentos: os lamentos são vãos! Basta de prosternações: as prosternações são estéreis! Basta de preces: as preces são impotentes!
Levanta-te homem! E, direito, altivo, declara guerra implacável a Deus que, a tanto tempo, impõe aos teus irmãos e a ti próprio uma veneração embrutecedora!
Desembaraça-te deste tirano imaginário e sacode o jugo dos indivíduos que pretendem ser os representantes dele na Terra!
Mas, lembra-te bem, que, com este gesto de libertação, não terás cumprido senão uma das tarefas que te incumbe.
Não te esqueças de que de nada servirá quebrar as cadeias que os Deuses imaginários, celestes e eternos, tem forjado contra ti, se não quebrares igualmente as cadeias que, contra ti, tem forjado os Deuses passageiros da Terra.
Estes Deuses giram em torno de ti, procurando envilecer-te e degradar-te. Estes Deuses são homens como tu.
Ricos e governantes, estes Deuses da Terra tem-na povoado de inúmeras vítimas, de tormentos inexplicáveis.
Possam, enfim, um dia, os condenados da Terra insurgirem-se contra os seus verdugos, para fundarem uma Cidade na qual não possa haver destes monstros.
Quando te tiveres emancipado dos Deuses do Céu e da Terra, quando te tiveres desembaraçado dos chefes de cima e dos chefes debaixo, quando tiveres levado à pratica este duplo gesto de libertação, então, mas então somente, ó meu irmão, sairás do Inferno em que te encontras para entrar no Céu que tu realizarás! Deixarás as trevas da tua ignorância, para abraçar as puras claridades da tua inteligência, desperta, já, das influências letárgicas das religiões!

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