ATENÇÃO
ESTIMADO(A)S LEITORE(A)S OS RELATOS DA HISTÓRIA DA GUERRA COLONIAL FAZEM-SE AQUI NO BLOG DESENVOLTURAS & DESACATOS NA MANEIRA ORIGINALRESPEITANDO O POSICIONAMENTO IDEOLÓGICO DOS INTERVENIENTES NAS ESTÓRIAS E ACONTECIMENTOS
Na Guerra do Ultramar - O Resgate do Tenente Malaquias
Uma história de vários heroísmos
que marcaram a minha
geração
que marcaram a minha
geração
Esta foi, sem dúvida, uma das mais
extraordinárias missões da
nossa Guerra do Ultramar.
extraordinárias missões da
nossa Guerra do Ultramar.
Pela acção em si de resgate imediato de um Piloto abatido,
pela acção do piloto do helicóptero ao aterrar no local em
que ocorreu, numa das principais Bases da Frelimo no
interior de Moçambique, pela preparação técnica ou falta
dela dos elementos da Polícia Aérea envolvidos, desarmados,
sem protecção alguma no terreno a não ser os três aviões
T-6 que freneticamente tentavam dissuadir quaisquer hipotéticos
avanços do inimigo, indiferentes às 3 antiaéreas que poucas
horas antes tinham abatido um camarada exactamente naquele
local.
pela acção do piloto do helicóptero ao aterrar no local em
que ocorreu, numa das principais Bases da Frelimo no
interior de Moçambique, pela preparação técnica ou falta
dela dos elementos da Polícia Aérea envolvidos, desarmados,
sem protecção alguma no terreno a não ser os três aviões
T-6 que freneticamente tentavam dissuadir quaisquer hipotéticos
avanços do inimigo, indiferentes às 3 antiaéreas que poucas
horas antes tinham abatido um camarada exactamente naquele
local.
Dificilmente qualquer outra unidade especial de combate teria
feito melhor… com 4 homens três aviões e um helicóptero.
feito melhor… com 4 homens três aviões e um helicóptero.
Nesta história que vos quero contar, os intervenientes não
eram Soldados.
eram Soldados.
Nem desconhecidos.
Embora permaneçam no limbo das muitas coisas que hoje
nos importam pouco.
nos importam pouco.
Eram Alferes, Soldados, Tenentes, Furriéis e Sargentos.
Da Polícia Aérea e Pilotos. Da Força Aérea Portuguesa.
Da Polícia Aérea e Pilotos. Da Força Aérea Portuguesa.
Nunca vi estes factos contados, por isso os conto aqui.
Para que esta memória não se perca e como homenagem
ao Malaquias, um Aveirense, Tenente Piloto da Academia da
Força Aérea, ao Valdemar Lobo, um Sargento Piloto natural
de Cabo Verde (foi, anos depois, Piloto Chefe dos TACV), aos
elementos da Polícia Aérea, com relevância para o Carlos Félix
e demais pilotos milicianos intervenientes.
Para que esta memória não se perca e como homenagem
ao Malaquias, um Aveirense, Tenente Piloto da Academia da
Força Aérea, ao Valdemar Lobo, um Sargento Piloto natural
de Cabo Verde (foi, anos depois, Piloto Chefe dos TACV), aos
elementos da Polícia Aérea, com relevância para o Carlos Félix
e demais pilotos milicianos intervenientes.
Éramos todos Combatentes na Província de Moçambique, no
final do ano de 1967 .
É uma história de vários heroísmos, como tantos outros
semelhantes que uma generosa geração perdida de
portugueses praticou em todo o vasto Império que
éramos, honrando a História, mas que hoje parece envergonhar
um país que se amparou nos ombros de tantos desses humildes
Soldados Desconhecidos, tentando esquecê-los agora, incómoda
memória para os ideais contemporâneos.
semelhantes que uma generosa geração perdida de
portugueses praticou em todo o vasto Império que
éramos, honrando a História, mas que hoje parece envergonhar
um país que se amparou nos ombros de tantos desses humildes
Soldados Desconhecidos, tentando esquecê-los agora, incómoda
memória para os ideais contemporâneos.
Na exacta medida em que hoje se valoriza quem, por diversas
razões que não me cabe qualificar, decidiu não participar
e é por isso reconhecido como tendo prestado relevantes
serviços à Pátria…
razões que não me cabe qualificar, decidiu não participar
e é por isso reconhecido como tendo prestado relevantes
serviços à Pátria…
Somos o que somos.
Vamos então ao acontecido...
No dia 14 de Outubro de 1967, na minha função de Sargento
Miliciano Piloto da Força Aérea em Comissão Voluntária de
Serviço em Moçambique, na Guerra do Ultramar, tive como
missão fazer um RVIS (Reconhecimento Visual de possíveis
posições do inimigo) no avião T-6 com matricula 1753, a partir
da minha Base em Vila Cabral (Lichinga, nome actual), a capital
Nortenha do Distrito do Niassa.
Esta missão seria executada em parelha com outro avião do
mesmo tipo pilotado por um camarada, o Sarg Ajudante Eiró
Gomes, num local que fica exactamente entre Vila Cabral e
Marrupa. A Sul de uma pequena povoação que hoje existe e se
chama Cassembe, aproximadamente na posição cujas
coordenadas são:
13º 26’ 55 51” S 36º 12’ 12 85” E
O sítio onde o rio Luambala contorna o Monte e a povoação de Cassembe |
Chegados ao local, cada um de nós procurou detectar, debaixo
da mata densa, sinais de vida recente, nomeadamente palhotas
em que o inimigo se abrigasse. Embora à vista um do outro,
escolhemos aleatoriamente dois locais diferentes. Eu fui um
pouco para Norte do Monte que existe a Sudeste da povoação
e o meu camarada procurava mais a Sul, junto ao rio Luambala .
da mata densa, sinais de vida recente, nomeadamente palhotas
em que o inimigo se abrigasse. Embora à vista um do outro,
escolhemos aleatoriamente dois locais diferentes. Eu fui um
pouco para Norte do Monte que existe a Sudeste da povoação
e o meu camarada procurava mais a Sul, junto ao rio Luambala .
O nosso objectivo era bombardear posições inimigas e por isso
íamos carregados com bombas, sem qualquer outro tipo de
armamento, como metralhadoras ou rockets.
E por ali nos mantivemos uns dez minutos a tentar descobrir
por debaixo das árvores quaisquer sinais de vida, operação
nem sempre bem-sucedida porque a camuflagem era muitas
vezes eficaz.
Os terrenos por onde eu andava não me pareciam ter sido
minimamente alterados por ninguém. A paisagem é belíssima,
como em todo o Niassa e a Natureza repousava tranquila,
indiferente àquela Guerra que não merecia.
- Forte reacção Antiaérea! Estou a ser alvejado!
Ouço subitamente pela rádio o meu camarada dizer-me.
Num instante aquela beleza, a tranquilidade daquele imenso
espaço em que eu voava e com o qual me sentia em comunhão,
cobriu-se com um espesso e agreste manto de crueldade. E todo
o meu ser acordou de súbito para a dureza dos tempos em que
eu vivia.
Aquele meu camarada, que se expressava sempre com grande
abundância de argumentos, talvez estivesse a exagerar... Pensei
eu. Aquela zona nunca tinha sido referenciada como capaz de
conter tão forte presença de elementos da Frelimo.
E como eu ainda tinha todas as bombas, voei para junto dele,
a um escasso minuto de voo de mim.
Ele afastou-se, disse-me que já não tinha armamento e
orientou-me para a posição que lhe parecia ser a origem de tão
inesperada actividade antiaérea.
Já a sobrevoar o local indicado por ele, entre o Monte e o rio,
procuro encontrar palhotas ou quaisquer outros sinais de
actividade humana recente. Claro está que nada vi, e muito
menos fogo de antiaérea.
Isto nos primeiros segundos… porque logo a seguir vi as
tracejantes!
Tracejantes, que sulcavam rapidamente os ares na tentativa
frenética de me encontrarem. Ainda hoje as vejo com toda a
nitidez.
Afinal era um caso demasiado sério e eu tinha que tomar
rapidamente uma decisão. Pela direcção das balas,exactamente
na vertical, eu devia estar mesmo em cima dos senhores meus
colegas naquela Guerra, do outro lado dos argumentos,
empenhados em cortarem-me as asas.
E eles queriam-me agora, a mim, lá em baixo…
Pareceu-me (e bem, como mais tarde se verificou) que se
largasse as bombas em “salvo” (todas de uma só vez) alguma
das quatro que tinha ficaria muito próximo do local dos
disparos. Além do mais eu voava agora o único avião no
local com armamento e em caso de necessidade não tinha
protecção alguma.
Por baixo de mim havia uma vasta área de terreno aparentemente
plano, sem floresta, entre um Monte escarpado e um rio, este sim
bordejado por uma espessa mas estreita mata.
Decisão tomada, larguei-lhes as bombas em cima com o
feroz desejo que fossem até à origem daquelas tracejantes que me
rodeavam como formigas inquietas.
Estávamos agora os dois aviões sem armamento. Nenhum de nós
estava equipado com rockets ou metralhadoras.
Já não podíamos fazer mais nada.
Voltámos então às nossas Bases, como planeado.
O meu camarada a Marrupa:
E eu a Vila Cabral.
Escrito o relatório pelo meu colega mais graduado, o
Estado-maior da FAP em Nampula, na ZAC (a Zona do
Ar Condicionado…) deliberou que alguém devia ir investigar.
Nomearam o Tenente Malaquias.
Este Aveirense, sempre que ia a Vila Cabral
ia a correr a minha casa ver se a minha
filha, de menos de 3 meses de idade, estava
ou não mais bonita que a dele, 2 dias mais nova.
A dele ganhou sempre, aos seus olhos risonhos…
- A minha Carla está mais bonita...
Dizia invariavelmente, com a minha Margarida ao colo…
A Carla nasceu em Nampula a 24 de Julho de 1967.
A cidade de Nampula |
Por uma coincidência estranha, 24 de Julho era o dia da
Cidade de Lourenço Marques. A minha filha Margarida nasceu
aí no dia 22 de Julho de 1967.
24 de Julho é, ainda hoje, um dia de grande significado para
todos os moçambicanos da minha geração
A Avenida com este nome ainda o mantém porque
comemora a data em que o único Presidente Monárquico
da França, Marechal Mc-Mahon decidiu, em arbitragem,
que a baia de Lourenço Marques pertencia a Moçambique
e não ao Transvaal - África do Sul.
Foi este mesmo Marechal que no dia 8 de Setembro de
1855 comandou as tropas que derrotaram o bastião
Malakoff, forçando os Russos a abandonar Sebastopol,
que agora retomaram à Ucrânia…
O Tenente Malaquias, 15 dias antes destes acontecimentos,
confessara à sua mulher, Fernanda, em Nampula, ter a noção que
não duraria muito mais tempo. Uma preocupação que o
consumia.
Ia ser muito triste ir para debaixo da terra, confessou.
Confrontado com esta atitude, ele insistiu. Devia ser muito
triste.
A sua mulher achava que ele estava a ficar com uma cor
esquisita, cor de terra. Pesava 60kg e media 1,81m de altura.
Não queria fazer exames médicos com medo de não o
deixarem voar mais. Não os fez.
Não podia ver sangue. Quando fez exames para o Ultramar
desmaiou ao fazer as análises. A enfermeira, na brincadeira,
disse-lhe que ele era pior que uma mulher.
Uma semana depois daquele ataque que o Eiró Gomes e eu
sofremos, o Tenente Malaquias chega a Marrupa.
Na 5ª Fª anterior sobrevoou a sua casa em Nampula e
despediu-se da sua mulher Fernanda e da sua filha Carla.
Malaquias, Carla e Fernanda, em Nampula. Agosto de 1967 |
A sua missão era inteirar-se do maior número possível de
elementos de modo a avaliar se era necessária ou não uma
operação combinada com as Forças Terrestres. Para se decidir
que tipo de acção, se com tropa regular ou pelos Comandos.
E no dia 22 de Outubro, um Domingo, saiu com uma patrulha
de 3 T 6. De Marrupa para aquele local, para ver o que poderia
por lá haver.
Dois dias antes de a Carla fazer 3 meses.
A patrulha era comandada por ele. Nos outros dois aviões iam
o Sargento Eiró Gomes e o Alferes Relego.
Este, acabado de chegar da Metrópole (Portugal Continental)
após o curso de piloto miliciano, na sua 1.ª missão que poderia ser
de combate. mas num avião sem rádio!
Por essa razão, o Relego foi avisado que deveria
ficar “lá em cima” enquanto os outros dois iam "lá abaixo cheirar”…
Já no objectivo, cerca de 45 minutos afastados de Marrupa, o
Tenente Malaquias disse pela rádio:
- Vou fazer uma passagem, eles disparam, vocês vêem
e bombardeiam a origem dos disparos.
O Tenente Malaquias, um piloto destemido, estimado e
admirado por todos, tinha dirigido do ar no seu T-6 uma
companhia dos Comandos pouco tempo antes para o local de
uma outra antiaérea, noutro sítio perto de Metangula junto ao
Lago Niassa.
Nós dizíamos que ele tinha apanhado a arma “à mão” porque
entrou em combate directo com eles para sinalizar a posição
aos Comandos. E a antiaérea foi neutralizada.
Mas naquela manhã não foi assim.
O Tenente Malaquias entrou baixo, a ver...
Na esperança de ser visto e assim desmascarar a posição do
fogo inimigo.
No sopé do Monte, naquela zona plana, junto ao rio Luambala
que se serpenteava entre árvores de grande porte que já
descrevi, um cenário de grande beleza, uma guarnição de
atiradores estava há já uns minutos a municiar a arma.
A mesma de um conjunto de três que tão perto estivera de
abater os nossos dois aviões uma semana antes. No silêncio
da mata os operadores da antiaérea já tinham detectado há
uns bons 15 minutos aqueles barulhentos aviões que se
aproximavam.
Estava marcado um encontro.
Foi fácil prepararem-se. E já não era a primeira vez. Tiveram
tempo para tudo.
O nº2 da parelha de T 6, o Eiró Gomes, ficou mais atrás e mais
acima, como combinado para poder ter outro ângulo de visão.
E o 3º elemento, o Relego, ainda mais acima, observava o
desenrolar dos acontecimentos, mudo e quedo, sem comunicações rádio
e ainda sem nenhuma experiência de combate.
O T-6 do Tenente Malaquias começa a sobrevoar aquele espaço
quando a antiaérea isolada, no sopé do Monte à sua direita, mais
adiante, já lhe estava apontada. As outras duas estavam perto
uma da outra, junto ao rio, mais para a sua esquerda.
O Tenente Malaquias tinha o Monte à frente, à sua direita e o
rio ao seu lado. Voava apontado a Oeste.
O que via era aproximadamente isto:
O seu olhar procurava balas tracejantes.
E elas não se fizeram esperar!
No chão, o artilheiro com o primeiro avião sempre
na mira, não hesitou. Carrega decidido uma primeira vez no
gatilho e uma saraivada de balas parte em direcção do avião da
frente, fazendo um tracejado de luzes.
O Tenente Malaquias reage e aponta-lhe as duas
metralhadoras e dispara também na tentativa de o eliminar.
O Eiró Gomes, mais atrás, também dispara contra a anti-aérea.
Argumentos extremos numa luta feroz de razões contrárias.
O artilheiro, experiente de outro episódio recente, frustrado, há
tanto tempo preparado para aquele momento único, aguentou
estoicamente, esperou pelo segundo exacto, o dedo
nervosamente encostado ao gatilho da arma, as balas dos
aviões a voarem a toda a sua volta, a mira a voar com o avião,
o olho direito enfiado no alinhamento do T-6 da frente, a raiva
de guerrilheiro controlada, o pensamento na Pátria que queria
Libertar… e então apertou com um pouco mais de força,
devagarinho, com toda a certeza do Mundo, aquele pequeno
gatilho... Só um pouco mais...
- Fui atingido!
Grita o Tenente Malaquias pela rádio, o braço direito
praticamente decepado.
- Fui atingido! Nossa Senhora me valha!
As suas últimas palavras...
E o Relego, lá em cima sem ouvir nada, sem saber de nada, viu
o T-6 do seu Chefe entrar pelo chão dentro e imobilizar-se numa
nuvem de pó.
Sem arder.
Sem mais uma única rajada de fogo inimigo.
Não fizeram mais fogo.
O Sarg. Ajudante Eiró Gomes, assumindo agora a função de
comandante da parelha como piloto mais antigo e qualificado
juntou-se rapidamente ao Alferes Relego e fez-lhe sinal para o
seguir para a Base, em Marrupa.
O Tenente Malaquias ficou naquele planalto, entregue a si,
gravemente ferido, provavelmente já sem vida depois daquela
“aterragem” forçada, sem possibilidade de ajuda daqueles dois
que tudo viram mas nada mais podiam fazer. E os rádios VHF
dos aviões tinham um alcance limitado. Ninguém no Mundo os
ouviria se pedissem socorro.
Regressados os dois a Marrupa, entregues àquele desespero, o
Eiró Gomes, pela rádio ainda em voo e assim que teve contacto,
uma boa meia hora depois, pediu que se preparasse o
Helicóptero para se ir recuperar o Tenente Malaquias ao mato.
E já no chão, sem esperarem por ordens superiores de
ninguém, deliberaram em conjunto com todo o pessoal
maior daquele Aeródromo de Manobra que tinha que se ir
buscar o Tenente Malaquias.
O destacamento militar do Exército mais próximo do local
do acidente, de seu nome “América”, ficava a 50km.
Seria difícil executarem a missão em tempo útil.
O “pessoal maior” eram três Pilotos de T-6, um Piloto de
Helicóptero Alouette III, o Sargento Miliciano Piloto Valdemar
Lobo, o Alferes Bento e o Furriel Félix da Polícia Aérea.
Lobo, Fernando Figueiredo e Cardoso |
ia buscar o Tenente Malaquias, onde ele estivesse.
O Alferes Bento também se ofereceu e encarregou o Furriel
Félix, um jovem muito alegre e brincalhão, de arranjar
voluntários entre o restante pessoal para lá irem com o Lobo.
O Furriel Carlos Félix, meses depois destes acontecimentos |
Feita a apressada ronda, o Furriel Félix só conseguiu um
voluntário e ao chegar ao Alferes este perguntou-lhe:
- Quem vai connosco?
A resposta foi lenta (como é que eu lhe vou conseguir dizer?):
- O 1º Cabo Simplício e… eu…!
E lá partiram.
A pilotar o Helicóptero ia o Lobo que dispensou o Cabo
Especialista do Helicóptero para que não corresse riscos
desnecessários e também porque tinham ainda que contar
com o peso do Tenente Malaquias, acompanhado dos três
elementos da Polícia Aérea, esses sim, indispensáveis.
Helicóptero Alouette III |
Recordo que os elementos da Polícia Aérea tinham a única
função de protecção e policiamento das unidades da Força Aérea
e não tinham nenhum treino de combate na mata. Aqueles três
elementos não estavam, de todo, tecnicamente preparados para
o que se propunham fazer.
3 T-6 armados com metralhadoras acompanharam o Heli não só
para sinalizar o local ao Lobo mas também para dar a protecção
ao resgate do Tenente Malaquias.
Aos comandos os pilotos, por ordem de antiguidade na Força
Aérea, Sargento Ajudante Eiró Gomes, Alferes Miliciano Baguinho
de Sousa e Furriel Miliciano Borges Ferreira.
Da esq p a dta: Furriel Borges Ferreira, Alferes Nunes (Instrutor) e Alferes Baguinho de Sousa no dia do Brevetamento |
Foto cedida pelo meu amigo Baguinho de Sousa
45 minutos depois, chegados ao local do acidente,
a baixa altitude, o Eiró Gomes, pela rádio, orientou o helicóptero
para o local do T-6 caído.
O Lobo localizou logo o T 6 abatido no chão e reparou que o
avião tinha caído e parado, sem fazer rasto algum. Não houve,
portanto, nenhuma tentativa de aterragem forçada. O trem de
aterragem estava recolhido. O capim não tinha ardido.
O terreno tinha sido anteriormente desmatado, com as árvores
cortadas pela base das copas. Havia vários troncos nus com
mais de 1,5m de altura espalhados por toda a área.
Provavelmente um deles arrancou a asa direita do T-6 que ali
estava feito uma máquina sem alma, provavelmente um túmulo
improvisado.
O local teria sido anteriormente preparado para machambas
(hortas) com as árvores cortadas e agora com muito capim já
bastante alto, cerca de 2m de altura.
Era afinal um vasto largo de onde se avistavam, não muito
longe, grandes palhotas escondidas que agora rente ao
chão se viam bem, debaixo das grandes árvores que o
rodeavam segundo o Lobo me disse. Albergavam certamente,
ou talvez já não, muita gente.
O Lobo não encontro de início um espaço seguro para aterrar o
helicóptero perto do avião abatido: havia muitas árvores
cortadas, com troncos bastante altos. Um grande perigo para o
rotor de cauda, por não se ver o que poderia haver escondido
dentro daquele capim tão alto, com a agravante de não ter a
preciosa ajuda do Cabo Especialista do helicóptero, impedido de
ir a bordo naquela arriscada missão.
O Lobo deu outra volta e encontrou então um pequeno troço de
picada e aterrou sem assistência para verificar a segurança do
rotor de cauda, sempre a recear o pior.
Aterrou a 50/100m do avião abatido.
Lá em cima, os T-6 do Eiró Gomes, Baguinho e Borges Ferreira
mantinham-se vigilantes, às voltas sobre eles.
O Alferes Baguinho conseguia ver perfeitamente várias palhotas
com bastantes sinais de vida actual o que o levou a perceber
haver, com toda a certeza, bastante gente que ali vivia
actualmente.
O Furriel Félix antes de sair do helicóptero ainda ouviu o Sarg
Ajudante Eiró Gomes dizer pela rádio ao Lobo:
- Ao 1º tiro ou sinal de hostilidades dos Turras sai daí!
A ameaça bem conhecida das antiaéreas não impediu nenhum
dos pilotos que fazia a protecção ao helicóptero de se manter
sobre a equipa de resgate, alvos fáceis, a proteger um
helicóptero acabado de aterrar, imóvel, o piloto e os três
ocupantes completamente à mercê de uma simples pistola, uma
catana até, relativamente perto de várias e bastante grandes
palhotas dissimuladas.
A gravidade da acção levou aqueles três pilotos a ignorarem por
completo que voavam exactamente por cima das três antiaéreas
que no espaço de uma semana tinham alvejado 4 aviões a
abatido um deles após um breve combate, menos de dus horas
antes.
Os três elementos da Polícia Aérea saltaram do helicóptero e
desataram a correr, com a maca, desarmados para melhor se
mexerem.
Acho que nenhum destes três jovens sabia exactamente o que
estava a fazer mas, como dizia um camarada nosso, Oficial do
Exército, “cada um tinha o Inimigo que merecia”.
Escrevi “Inimigo” com letra maiúscula porque este Inimigo
mereceu-nos também.
O Lobo tinha aterrado junto da Base Provincial de Instrução
da Frelimo, soubemos depois, uma das mais importantes em
Moçambique. Onde haveria dezenas de combatentes.
A verdade é que o Furriel Félix os viu perfeitamente.
Eles estavam "LÁ mesmo!"
“Nas janelas das palhotas com os canhangulos apontados
ao pessoal”, contou-me.
Expectantes e sem reacções.
Talvez paralisados pelo inacreditável da acção.
Se calhar manietados pelo espanto.
Ao ver um piloto de helicóptero aterrar calmamente no meio
de uma das mais importantes bases da Frelimo com três
simples "polícias" que, desarmados, avançavam
completamente indiferentes ao que quer que os esperasse, com
um único objectivo: resgatar o Tenente Malaquias abatido há
um par de horas.
Ou talvez tivessem achado por bem que a Força Aérea
Portuguesa, perante aquele espectáculo de heroísmo desvairado,
merecia que um dos seus pilotos pudesse ser resgatado.
Foi a impressão com que se ficou naquela altura.
Ou então, se calhar, talvez nunca venhamos a saber, resolveram
evacuar do local à pressa a maior parte do pessoal para
preservar os efectivos, com receio de represálias maiores.
Afinal era uma grande Base de Instrução.
Provavelmente também terá contribuído uma hipotética
neutralização da antiaérea.
Os primeiros passos ao afastarem-se do helicóptero, a terem
de lutar contra o capim alto que lhes tapava a visibilidade, sem
saberem o que os esperava junto ao avião derrubado, levaram à desorientação momentânea do Alferes. O Furriel Félix só conseguiu “reanima-lo” com uma saraivada de impropérios bem à moda do Porto, aos gritos, que o fizeram recuperar…
A caminhada daqueles três na direcção do T-6 abatido, no meio
daquele capim, pareceu-lhes uma eternidade. E o Furriel Félix,
na sua corrida atabalhoada, encontrou no chão um braço ainda
enfiado na manga do fato de voo, que carregou consigo até ao
corpo a que pertencia.
Ainda hoje o Carlos Félix tem insónias quando se lembra do que
viu ao chegar ao avião abatido, quando aquela imagem lhe
reaparece, amiúde, teimosamente:
"o Ten/PILAV MALAQUIAS, sentado em cima do
pára-quedas a olhar para mim...
Palavras para quê? ...As lágrimas teimam em
aparecer".
Inerte no seu posto, dentro dos destroços do avião em que
executou a sua derradeira missão.E no helicóptero, sentado no seu posto, o motor a trabalhar,
as grandes pás do rotor a girar num crescente nervosismo,
aquele barulho todo a soar como um Requiem naquela grande
Catedral que era aquele lugar impoluto, o Lobo não tinha a
mínima visibilidade. Estava rodeado de mato, capim alto quase
à distância de um braço, sem horizonte algum!
Sem ver absolutamente nada!
Sem saber o que se ia passando!
E esperou.
Sozinho…
Lá de cima os três aviões de segurança descobriram entretanto
um guerrilheiro armado a uns 20m do helicóptero. Fizeram
vários voos em picada ao local gritando pela rádio ao Lobo para
sair dali porque corria perigo.
Mas ele não podia abandonar os outros três!
E esperou.
Rodeado de capim. Completamente desprotegido.
Esperou...
5 infindáveis minutos…
Os mais compridos 5 minutos da sua vida!
Ajudando-se mutuamente, os três elementos da Polícia Aérea, o
Alferes, o Furriel e o 1º Cabo, retiraram o corpo sem vida de
dentro do T-6, recolheram o material que não devia ali ficar e
regressaram rapidamente ao helicóptero com a maca, onde
depositaram os restos mortais do Tenente Malaquias e o pouco
material recolhido.
Em cima do corpo colocaram-lhe rapidamente o braço direito.
Visão terrível, confessou-me o Lobo.
Relato do então Furriel Félix numa mensagem que me enviou:
<< A história do Malaquias está contada por quem viveu parte
dela pelo ar e a outra pelo que viu ou lhe contaram, a minha, é
aquela que foi vivida "in loco", com um Alferes quase a desmaiar
quando deixa de me ver, eu a ver os Turras a espreitar-nos e o
Simplício à espera do sinal, para vir com a maca e transportarmos
o Ten/PILAV Malaquias, que julgávamos vivo e que infelizmente
já estava morto.
No Heli, fui o último a entrar, primeiro a maca, mais o Malaquias,
entretanto o Alferes também já lá estava dentro e eu por fim.
Quando conseguiram guindar-me para dentro do Heli, "aterro"
em cima do já cadáver. Olho para o braço direito colocado ao
contrário em cima do peito, olho para a combinação de voo e
reparo nas calças levantadas, pele morena, parecia um filme de
terror, passei-me dos "carretos"...
Falas da eventual pouca preparação técnica que os 3 PA's teriam
para efectuar uma missão de tanto risco! É natural que sim,
porém a raiva que todos sentimos por sabermos que um Oficial
que ainda no dia anterior tinha estado a brincar com a sua cadela Diana... tinha sido abatido e quando o telegrafista de serviço ao posto de rádio (era de Gaia), disse a chorar que o Malaquias tinha sido abatido, ficamos em estado de choque.
É uma história que me persegue ao longo de algumas noites de
insónia e que a recordo com bastante frequência, nas minhas
longas noites de pesca à beira-mar. O mar é a minha válvula de
escape para tudo o que passei nos longos 366 dias que passei
em Marrupa.
Vá lá que também ainda estou vivo para contar, lembras-te?
(dirigindo-se ao Lobo numa mensagem que me enviou para ele)
Com tantos tiros dos aviões a darem-nos cobertura, tu aos
zig-zagues com medo que atrás das medas de capim estivesse
alguma anti-aérea e eu aos saltos para entrar no Héli. Parecia o
VIETNAM. Com pouco mais de 20 anos tínhamos que estar
preparados para a Guerra, a geração de hoje com 20 e muitos
ainda estão com RSI! >>
O helicóptero levantou logo voo com a sua triste carga e com os
cinco Ilustres Soldados Desconhecidos, um deles já cadáver, em
direcção a Marrupa.
Sem nenhuma reacção do Inimigo…
Poucas horas após o resgate do corpo do Tenente Malaquias,
portanto nesse mesmo Domingo, sobrevoei o local no T-6
matriculado 1780, sem de nada saber, em trânsito de
Vila Cabral para Marrupa, operação já prevista anteriormente
para colaborar noutras acções.
Aterrei em Marrupa antes do fim desse dia 22 de Outubro de
1967, no meio de um ambiente de cortar à faca.
Um dos nossos tinha sido abatido…
Eu em Marrupa, por essa altura |
A notícia já chegara via rádio a Nampula e o Aeródromo
já estava reforçado em pilotos mais graduados para tomar conta
da situação.
A operação há muito planeada em que eu devia participar
integrado no grupo dos meus camaradas de Marrupa teria início
exactamente ao raiar do dia seguinte, 23 de Outubro de 1967,
razão pela qual todos nós pilotos ficámos impedidos de ir velar o
corpo do Tenente Malaquias à Vila de Marrupa, a poucos
quilómetros dali.
Na altura pareceu-me completamente inconcebível…
Como a minha consciência mo pedia, “fugi” literalmente do AM
(Aeródromo de Manobra) num jeep do Exército e fui estar uns
momentos com ele, nessa noite ainda, na sua câmara ardente,
muito perto da casa onde o meu Pai, a minha
Mãe a minha irmã mais nova e eu tínhamos vivido uns seis
anos antes.
O meu Pai foi Administrador de Marrupa em 1961/62.
E foi ele que construiu ali uma pista que mais tarde seria o AM.
Já não sei, mas enquanto ali estive, sem mais ninguém no local,
não me lembro se numa capela ou numa sala de aula de uma
pequena escola primária, a urna sobre uns bancos, devo ter-lhe
falado das nossas filhas que várias vezes se tinham “encontrado”,
sem nunca se terem visto.
E de como eu o admirava e profundamente lamentava a sua
sorte e a
da sua família. No fundo senti-me bem por ter representado os
sentimentos de todos os pilotos da Força Aérea que não podiam
estar ali.
Foi a pequena e sentida homenagem que ele tanto merecia.
Como bom português, lembro-me que não o saudei militarmente.
Nem me lembrei... Afinal, ali estava agora o Homem, mais que o
Militar.
Nem fui ver a casa em que vivi com os meus Pais, pela última
vez em que estivemos todos juntos.
Marrupa tem para mim este estigma de felicidade temperada
com saudade, distância e tragédia. A lonjura daquilo que
amamos e perdemos subitamente, sem retorno.
Onde perdi definitivamente a minha convivência em família.
Nunca mais vivi sob o mesmo tecto com o meu Pai.
E onde outra família se perdeu, irremediavelmente, para todo o
sempre.
O condutor anónimo do Jeep do Exército que tinha ficado à
porta à minha espera levou-me logo de volta à Base.
Um grande gesto de nobre solidariedade. Obrigado amigo.
À direita, de tronco nu, o "Branco" no Jeep AM-32-76 e
à esquerda do helicóptero o bombeiro Izidoro |
Na madrugada seguinte, ao nascer do Sol estávamos já a
descolar em direcção ao objectivo que devíamos eliminar.
Nessa operação, eu fui o Nº 2 a bombardear a posição sinalizada
pelo Nº1, o Eiró Gomes. E quando já ia em voo picado, olhos no
sítio onde queria depositar a minha 1ª bomba, ouvi-o
dizer após ter largado a sua:
- Antiaérea!
Larguei a bomba no sítio, mas não vi nenhuma reacção do
inimigo.
Uma semana depois disto, o combate recomeçou no local
onde o Tenente Malaquias fora abatido. Junto àquele Monte
onde já 8 aviões e um helicóptero, no espaço de uma semana,
se tinham encontrado num diálogo tenebroso que tinha que ser
acabado!
Desta vez fui eu o encarregue de mostrar a uma Companhia
do Exército o sítio exacto das antiaéreas. Tinham-se deslocado
por terra, previamente, para o local aproximado mas precisavam
de um sinal que lhes indicasse uma posição mais concreta.
Sinais óbvios de que a operação não estava a ser conduzida
pelos Comandos…
Como já disse, as antiaéreas eram 3. Duas no fim da clareira,
junto ao rio e outra mais longe, no sopé do Monte.
Era a terceira vez que voava por ali e da primeira tinha sido um
alvo falhado, por pouco...
Tinha uma ideia mais ou menos precisa do sítio onde estariam
as duas antiaéreas mais perto do rio.
E preparei-me para o que me esperava. Teria de avançar
sozinho e aparecer sem ser identificado para não espantar os
homens das antiaéreas. Os outros aviões apareceriam logo de
seguida, mas numa manobra de diversão de modo a permitir ao
Exército progredir sem perigo de os bombardearmos.
Se voasse alto talvez escapasse às tracejantes. Mas quanto
mais alto maior seria a indefinição da área a sinalizar, tendo em
conta que as comunicações rádio entre aviões e Exército
funcionavam normalmente muito mal.
A meia altura eu seria certamente um alvo fácil o que muito
provavelmente de nada serviria a ninguém, a não ser ao inimigo.
Por incrível que pareça, todas estas conjecturas se deram na
minha cabeça no momento exacto de ter de executar a minha
missão. Não houve instruções prévias de como a executar. Foi só:
“- Vais mostrar o sítio aos gajos”…
Pareceu-me que o mais baixo possível seria a melhor solução.
Além do “factor surpresa”, eles teriam pouco tempo para se
prepararem por não saberem de onde eu vinha e o ângulo de
tiro seria demasiado baixo. E se disparassem denunciariam a sua posição ao nosso Exército.
Sendo assim, decidi apontar de longe ao sítio provável, baixei
ao nível das árvores, meti motor a fundo e no sítio exacto fiz
uma volta apertada, a subir.
Os camaradas em terra perceberam onde era… mesmo sem
ninguém ter disparado contra mim.
E não mais nos contactaram.
Ainda nos mantivemos por perto uns minutos e regressámos
depois a Marrupa.
Viemos depois a saber que as antiaéreas tinham sido todas
apanhadas!
As bombas que eu largara 15 dias antes tinham caído muito
perto das duas armas mais próximas uma da outra, junto ao rio,
segundo o relato dos camaradas do Exército.
Havia estragos visíveis.
A arma que atingira o Malaquias deveria ter sido a da base do
Monte, já que estava à sua direita durante a aproximação
quando foi atingido no braço direito.
Pois bem, destes factos nem uma palavra mais foi ouvida... na
altura.
A guerra não podia parar e todos os dias novos episódios nos
esperavam a todos.
Não sei pormenores sobre o que teria acontecido mais tarde,
muito mais tarde, mas ouvi dizer, sem confirmação, que um
elemento da Polícia Aérea se suicidou, anos depois, já na
disponibilidade, na sua terra.
Quando resolvi contar esta história procurei documentar-me
melhor e tentei contactar o ex-Sargento Piloto Miliciano Lobo em
Cabo Verde através de procura na Blogosfera e Facebook.
Pedi ajuda ao ex-Capitão Piloto Aviador António Mira
Godinho, meu amigo desde 1967.
Pedi também ajuda ao Ex-Alferes Piloto Miliciano Cardoso
Ferreira, meu amigo desde 1967 e mais tarde meu colega na
TAP, que obteve a colaboração também do Ex-Alferes Piloto
Miliciano Relego.
Tive também a preciosa colaboração do Alferes Baguinho, hoje
colega reformado da actividade de Comandante de Linha Aérea.
Consegui chegar à fala com o Lobo através da sua simpática
mulher, Rita, via Skype, onde me contou a história com os
fidedignos pormenores que aqui divulgo.
Fiquei então a saber que a Força Aérea lhe reconheceu
o mérito tendo sido duplamente louvado: pelo A.B. 5 em Nampula
e pela 3ª região Aérea, Moçambique.
Na net procurei também chegar a familiares do Tenente
Malaquias.
No Google escrevi o seu nome e na 6ª ou 7ª página depois, encontrei uma referência positiva: o seu nome é o de uma das ruas principais da Freguesia de Aradas, Concelho de Aveiro, a Sul da Cidade, de onde era natural.
A rua fica bem no centro de Aradas e perto da Junta de Freguesia |
No site da Junta de Freguesia de Aradas mandei um email ao Presidente
da Junta, David Paiva Martins, que me respondeu:
“Caro Sr. Cavaleiro:
O Tenente Malaquias é de facto o que foi morto em combate
em Moçambique em 22 de Outubro de 1967. Consigo, voou; comigo,
foi amigo de infância.
Como hoje não consegui falar com a sua viúva,
contactá-la-ei na próxima semana e indicar-lhe-ei o seu número
de telefone para que ela, se quiser, possa falar consigo.
Os meus melhores cumprimentos.
David Paiva Martins
Presidente da Junta de Freguesia de Aradas”
A viúva do Tenente Malaquias contactou-me dias depois e
falámos longamente.
Entre outras coisas fiquei a saber que na pequena Capela do
Cemitério de Aradas que mandou construir para que ele repouse
em Paz, todos os anos vai lá um ex-militar no dia 1 de Novembro
estar com ele uns momentos.
Será um dos membros da Polícia Aérea de Marrupa?
Sei que o Carlos Félix não é.
Vamos ter de confirmar no próximo dia 1 de Novembro
de 2012 …
(Nem em 2012 nem em 2013 se conseguiu identificar ninguém
relacionado com estes acontecimentos)
Como remate conto-vos que o Lobo me disse que o Comte de
Esquadra da BA5 na altura, Moura de Carvalho, lhe quis dar
uma repreensão por ter arriscado material e vidas no resgate
do corpo do Malaquias. Facto confirmado pelo ex-Furriel Félix
que estava convencido, ainda agora, que o Lobo tinha sido
castigado com 5 dias de detenção…
Por seu lado a viúva do Tenente Malaquias disse-me que o
mesmo Moura de Carvalho director da Academia da Força
Aérea por volta de 1987, nos 20 anos da sua morte deu o nome
do Tenente Malaquias ao Curso da Academia, em cerimónia em
que ela esteve também presente.
O Furriel Carlos Ferreira Félix, entretanto já 2º Sargento, foi
distinguido com o Prémio Governador-Geral de Moçambique,
Dr. Baltazar Rebelo de Sousa, Pai do actual Concelheiro de
Estado Professor Marcelo Rebelo de Sousa.
Foi também agraciado pela Força Aérea como a foto seguinte
mostra num recorte de um jornal da época:
A legenda da foto é a seguinte:
« Prémio Governador-Geral de Moçambique » - O Secretário
de Estado da Aeronáutica, brigadeiro Fernando Alber Oliveira,
recebeu no seu gabinete o 2º sargento PA Carlos Ferreira Félix,
distinguido com o <<Prémio Governador-Geral de Moçambique>>,
por acções de campanha. O louvor que lhe foi conferido refere
que se ofereceu como voluntário para tomar parte na missão
de recuperação de um piloto e material que fosse possível, apesar
de saber que o avião tinha caído numa área fortemente infestada
de terroristas, que seria diminuta a força transportada no
helicóptero e que as forças do exército se encontravam longe
da área, para poderem dar qualquer protecção.
A audaciosa missão foi levada a efeito com êxito a que
não foi estranha a bravura, decisão energia e sangue frio deste
graduado como auxiliar directo do chefe da missão. O Secretário
de Estado da Aeronáutica felicitou o 2º sargento Ferreira Félix e
teve palavras de muito apreço pela forma como tem sabido
cumprir a sua comissão de serviço no Ultramar, com verdadeiro
espírito de sacrifício, verdadeiro exemplo para camaradas e
subordinados. O 2º sargento Ferreira Félix foi também recebido
pelo Chefe de Estado Maior da Força Aérea, general Brilhante
Paiva, de quem recebeu, igualmente, vivas felicitações. »
O Carlos Ferreira Félix seguiu depois a carreira Militar tendo
passado à Reserva depois de estar 12 anos na Base Nato de
Ovar como Oficial de Segurança Nato e da Força Aérea, no posto
de Capitão da Polícia Aérea.
E para que se perceba melhor porque é que considero estes
Heróis Soldados Desconhecidos, digo-vos a título de exemplo
que o Lobo, que foi português durante 35 anos até à
independência de Cabo Verde, 10 anos piloto da Força Aérea
Portuguesa, com 2 anos de comissão na Guerra do Ultramar,
louvado assim:
« Pelo Comandante do AB 5 (Nampula) por proposta do
Comandante da Esquadra Operacional, porque durante os dois
anos que serviu no AB 5, se ter revelado um piloto muito
competente e muito sensato na maneira como desempenhou
as mais diversas missões operacionais, quer em DO 27, quer
em Alouette-II e Alouette-III. Piloto muitíssimo hábil, o seu
sangue frio, coragem e capacidade de decisão ficaram bem
patentes quando, com risco da própria vida, recuperou um
camarada seu que se despenhou no desempenho de uma
missão na zona operacional. Piloto muitíssimo hábil, calmo e
discreto, o 2º Sargento Lobo primou sempre pela execução das
cerca de 500 missões operacionais que efectuou em helicóptero
algumas das quais debaixo de fogo inimigo, e em que sempre se
mostrou corajoso e consciente da missão do dever. A sua
acção na Província foi altamente honrosa, do que resultou
prestígio para a Força Aérea (OS Nº 28 de 2 de FEV 1968 do
AB 5) »
e assim:
« Pelo Comandante da 3ª R. Aérea (Moçambique) porque no
dia 22 de Outubro de 1967 ao ter conhecimento que tinha sido
abatido o avião do Comandante do AM 62, se prontificou
como voluntário para tentar recuperar o piloto e o material
que fosse possível, utilizando o helicóptero por ele pilotado,
apesar de saber que o avião tinha caído numa área
fortemente infestada pelos terroristas poderosamente
armados e que as nossas forças de terra mais próximas se
encontravam a cerca de 50km de distância e contando apenas
com a protecção de uma parelha de T-6, tendo levado a efeito a
sua arriscada missão nas imediações do inimigo,
demonstrando com a sua acção elevado dote de
coragem, sangue frio e grande desprezo pelo perigo.
Militar de muito valor profissional, de notável espírito de
iniciativa e cooperação, aliando a estas qualidades muita
modéstia e simplicidade que mais as realçam e o tornam um
elemento digno do maior apreço e admiração de todos os
seus camaradas e superiores (OS Nº 020, de 15 FEV68, do
COMRA 3 e OS Nº 49, de 27 FEV 68, do AB 5) »
dizia eu para que se perceba melhor porque é que considero
estes Heróis Soldados Desconhecidos, o Lobo pediu há tempos a
Dupla Nacionalidade.
- Foi-lhe recusada!
“Ditosa pátria que tal filho teve!”
Disse Camões sobre D. Nuno Álvares Pereira, no Canto VIII
Desgraçada pátria que tal filho renega!
Digo eu…
Desconheço qual o reconhecimento que o Alferes Bento e o
Primeiro Cabo Simplício tenham tido.
O mesmo se passa quanto aos três pilotos de T-6.
Ao Tenente Malaquias foi, obviamente, atribuída uma
Cruz de Guerra de 1ª classe.
___________________________________
E para rematar esta estória...
Cerca de um ano depois destes trágicos acontecimentos, estava
o meu amigo Tenente Mira Godinho em Marrupa quando o
avisaram que o guerrilheiro da Frelimo que tinha abatido o
Tenente Malaquias tinha sido apanhado, provavelmente pela
PIDE. E estava preso.
Naturalmente a vontade de descarregar toda a raiva sobre
aquele homem acompanhou o Mira Godinho até à sua presença.
Ali estava o homem que abatera o colega e muito amigo
Malaquias!
À sua frente!
A grande raiva, a vontade de desforra, de vingança, toda a
mágoa contida prestes a explodir se desvaneceu perante um
homem como ele. Um simples e humilde ser humano que
combatia como nós. Um inimigo indefeso feito prisioneiro.
O Tó Mira Godinho, como os amigos o conhecem, saloio
(da zona Oeste dos "saloios") não conseguiu sentir mais nada
senão compreensão perante aquele homem que tinha feito o
mesmo que nós, combater pelo que acreditava.
Exigiu que o prisioneiro não fosse maltratado e deu-lhe um
maço de cigarros e uma Coca Cola.
Contrariamente ao que se conta, o homem não tinha sido
mutilado durante aquele combate. Uma única bala tinha atingido
somente o punho da sua antiaérea.
E foi graças a esta história que um amigo que a leu, o Olegário
Guerreiro Silva alertou o Carlos Félix para entrar em contacto
comigo para me dar a sua versão dos factos, o que me levou a
refazê-la toda de modo a tentar aproximá-la o mais possível da
verdade
________________________________________
Com um pouco de reconstituição da História, espero ter dado
um vislumbre do que tantos milhares de portugueses fizeram
em 13 anos de guerra, dos enormes sacrifícios porque alguns
passaram, alguns trocando a própria vida pela dignificação dos
valores que nos ensinaram pagando assim tributo a tantos heróis
que povoam os mais de 800 anos de Portugal.
Valeu a pena?
A sensação que muitos de nós teremos é que não...
Aquilo que vivemos parece ter sido atirado contra nós enquanto novos valores emergiram.
Eu não disse Mais Altos.
Disse só novos...
A História de Portugal é uma coisa chata, esquecida, desvalorizada
mesmo e que até parece que começou no dia 5 de Outubro de 1910.
Ou pior ainda, em 1974...Num desvirtuado 25 de Abril
_______________________________________
Outras fotos da época:
Da dtª para a esq, Ten Malaquias, Cap Mantovani e outros não identificados |
Escudeiro e Ten Malaquias |
Ten Malaquias, Alf Firmino Paixão e o cão Leão |
Um interessante documento histórico:
Nesta foto, com o barrete na cabeça, está o ex- Presidente da República,
General Ramalho Eanes, na altura colocado em Tenente
Valadim.
Cap Mantovani, Gen Ramalho Eanes, Ten Malaquias e Alf Aidos |
Capa do Jornal do Liceu Nacional de Aveiro, 1969... |
...com a homenagem ao Ilustre ex-aluno Manuel Malaquias de Oliveira |
Chipmunk, em Aveiro, em Maio ou Junho de 1960. Nela estão,
da esq p a dta, Manuel Lourenço Barbosa Caridade, Ferdinando
Antunes Caixas e o Tenente Malaquias.
Foto cedida pelo meu Amigo Caixas:
Caridade, Caixas e Malaquias |
O Lobo e eu, na Piscina do Ferroviário, em Nampula. 1967 |
O Sarg Brochado em 1º plano, o Alf Relego, eu e o controlador de tráfego Aéreo de Vila Cabral, Caetano. |
Fotos actuais do Lobo com a sua mulher Rita Spencer:
O Carlos Félix hoje com o produto de mais uma noite de insónia |
_______________________________________
Ao ler esta história e depois de ver estas últimas fotografias do
Lobo, o Carlos Félix ainda me pediu para lhe transmitir estas
palavras:<< Para o Lobo amigo um abraço apertado de amizade,
quem te viu e quem te vê, tás velhote, mas com um rosto
sereno e uns olhos de Paz, com a certeza ABSOLUTA DO DEVER CUMPRIDO,
eu diria, para além do DEVER, pois fizeste a evacuação sem
autorização do comando da 3ª Região Aérea
(Lourenço Marques), e até hoje estava plenamente convencido
que tinhas sido punido com 5 dias de detenção. Vá lá que
também ainda estou vivo para contar, lembras-te? Com tantos
tiros dos aviões a darem-nos cobertura, tu aos zig-zagues com
medo que atrás das medas de capim estivesse alguma
anti-aérea e eu aos saltos para entrar no Héli. Parecia O
VIETNAM. Com pouco mais de 20 anos tínhamos que estar
preparados para a Guerra, a geração de hoje com 20 e muitos
ainda estão com RSI! >>
_______________________________________
As fotos aqui exposta pertencem, umas ao meu arquivo,
outras colhidas na net ou enviadas pela Viúva do Ten Malaquias,
Srª D. Fernanda, ou pela mulher do Lobo, Srª D. Rita Spencer
Lobo, ao Carlos Félix e a última ao Ferdinando Antunes Caixas.
A todos muito agradeço.
Obrigado Lobo pela contida descrição do que viveu
(contida como ele sempre foi) ao Tó Mira Godinho
pela identificação dos retratados junto ao Ten Malaquias e
outras importantes correcções e actualizações. Obrigado
também ao Cardoso ao Relego e ao Baguinho pelos elementos
cedidos. Finalmente obrigado ao Carlos Félix pelo relato
impressionante do que viveu e ainda hoje o magoa.
Que ao menos as tuas noites de insónia te tragam a
compensação de um bom almoço de peixe bem grelhado...
____________________________
____________________________
Do lado da Frelimo este episódio está também
oficialmente descrito.
Num documento do Mozambique Liberation Front,
(Mozambican revolution, no. 31, Oct.-Nov. 1967) criado
peloInformation Department, Dar Es Salaam, Tanzania,
cujo original está arquivado no Boeckmann Center for
Iberian and Latin American Studies, (Publisher of the Digital Version: University of Southern California. Libraries):
Página 13 deste documento:
Nesta página pode ler-se:
<< On the 22nd of October, at 3.30 pm. a Portuguese military
aircraft was shot down in NGAZELO. It was part of the
Portuguese local air force, which had been bombing the whole
zone of Marrupa. Our fighters opened fire against these aircraft,
three in all, shooting down one of them. Its identification
number is T 6 - G, 52-8603, registration number, 1739. Our
fighters captured the documents of the pilot - LIEUTENANT
MANUEL MALAQUIAS DE OLIVEIRA - and his pistol, no. 113202.
The pilot himself was dead. The equipment of the aircraft,
which included 6 machine guns, was captured but in the crash
it had been damaged beyond repair >>
Mais uma prova de que o resgate do Tenente Malaquias se
fez com o óbvio conhecimento e complacência dos responsáveis
locais da Frelimo naquele importante local. Sede de uma das
suas mais importantes Bases, equipada com 3 antiaéreas.
Esta preciosa informação foi-me facultada pela Catarina Aleixo,
filha do Comandante Aleixo, que poucos meses depois deste
episódio, foi destacado para o AB6, Nova Freixo, como Piloto
Miliciano, com quem ainda voei em missões de soberania.
(Actualização desta história em 17 de Abril de 2014)
riodosbonssinais.blogspot.pt
Operação
«NANDA»
Tombaram pela
Pátria!
Pátria!
Para visualização dos conteúdos clique
nos sublinhados que se
seguem:
nos sublinhados que se
seguem:
Resumo da ocorrência:
- Em 08Mai1965 morrem dois militares em combate na zona de
Batassano:
António Manuel Dias, Soldado Atirador, n.º 708/63,
natural da freguesia de Reboredo, concelho de Vinhais,
mobilizado pelo Regimento de Infantaria 15 (RI15) para
servir na Região Militar de Angola integrado na Companhia
de Caçadores 551 do Batalhão de Caçadores 554. Tombou
em combate no dia 8 de Maio de 1965. Está sepultado na
campa 34-3, do talhão militar, do cemitério de Cabinda.
natural da freguesia de Reboredo, concelho de Vinhais,
mobilizado pelo Regimento de Infantaria 15 (RI15) para
servir na Região Militar de Angola integrado na Companhia
de Caçadores 551 do Batalhão de Caçadores 554. Tombou
em combate no dia 8 de Maio de 1965. Está sepultado na
campa 34-3, do talhão militar, do cemitério de Cabinda.
Manuel Lamelas, Soldado Atirador, n.º 1122/63, natural de
Seninha, freguesia de Valdreu, concelho de Vila Verde,
mobilizado pelo Regimento de Infantaria 15 (RI15) para
servir na Região Militar de Angola integrado na Companhia
de Caçadores 551 do Batalhão de Caçadores 554. Tombou
em combate no dia 8 de Maio de 1965. Está sepultado na
campa 33-3, do talhão militar, do cemitério de Cabinda.
Seninha, freguesia de Valdreu, concelho de Vila Verde,
mobilizado pelo Regimento de Infantaria 15 (RI15) para
servir na Região Militar de Angola integrado na Companhia
de Caçadores 551 do Batalhão de Caçadores 554. Tombou
em combate no dia 8 de Maio de 1965. Está sepultado na
campa 33-3, do talhão militar, do cemitério de Cabinda.
- Em 20Jun1965 durante a Operação Cerr'os Dentes, um pelotão da
Companhia de Cavalaria 679 do Batalhão de Cavalaria 682 é alvo de
emboscada e sofre um morto e quatro feridos graves.
Companhia de Cavalaria 679 do Batalhão de Cavalaria 682 é alvo de
emboscada e sofre um morto e quatro feridos graves.
Francisco António Rosa Parrinha, Soldado Apontador de
Metralhadora, n.º 2150/63, natural da freguesia de Nossa
Senhora das Neves, concelho de Beja, mobilizado pelo
Regimento de Cavalaria 3 (RC3) para servir na Região
Militar de Angola integrado na Companhia de Cavalaria
679 do Batalhão de Cavalaria 682. Tombou em combate no
dia 20 de Junho de 1965. Está sepultado no cemitério de
Cabinda.
Metralhadora, n.º 2150/63, natural da freguesia de Nossa
Senhora das Neves, concelho de Beja, mobilizado pelo
Regimento de Cavalaria 3 (RC3) para servir na Região
Militar de Angola integrado na Companhia de Cavalaria
679 do Batalhão de Cavalaria 682. Tombou em combate no
dia 20 de Junho de 1965. Está sepultado no cemitério de
Cabinda.
O comandante do sector avança com a Operação Nanda, prevista para
lançar 150 grupos de combate em linha, entre o posto fronteiriço do
Miconge e o Caio-Guembo, no extremo norte de Cabinda.
lançar 150 grupos de combate em linha, entre o posto fronteiriço do
Miconge e o Caio-Guembo, no extremo norte de Cabinda.
O grupo de combate do alferes miliciano de cavalaria Moraes
Alçada [Cruz de Guerra, de 4.ª classe], desloca-se para o Luáli em
reforço ao Pelotão de Caçadores 964 adido ao Batalhão de Caçadores
554, estando este sediado a 12km.
Alçada [Cruz de Guerra, de 4.ª classe], desloca-se para o Luáli em
reforço ao Pelotão de Caçadores 964 adido ao Batalhão de Caçadores
554, estando este sediado a 12km.
Naquele destacamento ficam apenas alguns militares em pior forma
física e o restante efectivo segue para a operação.
física e o restante efectivo segue para a operação.
Em 19Out1965, após as primeiras baixas com minas antipessoal e
alguns tiros isolados, a confusão instala-se entre as tropas de
quadrícula. Soldados isolados na mata regressam à picada principal
Luáli-Dinge, onde a operação é reorientada, passando a cumprir-se em
marcha os dias previstos para a sua conclusão.
alguns tiros isolados, a confusão instala-se entre as tropas de
quadrícula. Soldados isolados na mata regressam à picada principal
Luáli-Dinge, onde a operação é reorientada, passando a cumprir-se em
marcha os dias previstos para a sua conclusão.
Em 22Out1965, o tenente-coronel comandante do Batalhão de
Caçadores 554, em vez de enviar reabastecimentos para o
destacamento do Pelotão de Caçadores 964 no Luáli, ordena aos
que lá estão para os ir buscar ao quartel-sede: mas o MPLA, sabendo
onde se encontram deslocados os efectivos daquele sector e quantos
ficaram no Luáli, monta uma emboscada.
O alferes miliciano de infantaria António Leitão Malcatanho
[Cruz de Guerra, de 3.ª classe], comandante daquele destacamento,
deixa o cabo Branco, o cozinheiro Crossas e um soldado
(com problemas de epilepsia), seguindo com os restantes em dois jipes
para a sede do batalhão.
[Cruz de Guerra, de 3.ª classe], comandante daquele destacamento,
deixa o cabo Branco, o cozinheiro Crossas e um soldado
(com problemas de epilepsia), seguindo com os restantes em dois jipes
para a sede do batalhão.
Após 2km de marcha caem na emboscada e o jipe da frente é atingido
em cheio por uma granada de LGF inimiga, causando a morte imediata
de 3 primeiros-cabos do Pelotão de Caçadores 964 e de 1 soldado
da Companhia de Cavalaria 679, ficando o soldado-condutor José
Fernandes atingido no rosto e na cabeça por estilhaços do pára-brisas,
que lhe provocam cegueira parcial; sob intenso tiroteio inimigo, o
condutor salta da sua viatura, recolhe as armas dos camaradas mortos
e dispara sobre os atacantes enquanto se abriga junto do segundo
jipe, onde foram mortalmente atingidos outros dois soldados da
CCav679, o alferes Malcatanho está ferido pela primeira rajada
em ambas as mãos, o 1º Cabo Ângelo dos Santos Rodrigues
[promovido por distinção a Furriel e agraciado com o grau de Cavaleiro,
com palma, da Ordem da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito]
está totalmente cego de um dos olhos, o soldado-maqueiro
Manuel Marques Sardão [a título póstumo, promovido por distinção
a Furriel e agraciado com o grau de Cavaleiro, com palma, da Ordem
da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito] está gravemente
ferido e apenas resta ileso o soldado Orlando de Jesus Costa
[Cruz de Guerra, de 4.ª classe], que utiliza eficazmente a sua arma e
impede o inimigo de avançar para a picada.
em cheio por uma granada de LGF inimiga, causando a morte imediata
de 3 primeiros-cabos do Pelotão de Caçadores 964 e de 1 soldado
da Companhia de Cavalaria 679, ficando o soldado-condutor José
Fernandes atingido no rosto e na cabeça por estilhaços do pára-brisas,
que lhe provocam cegueira parcial; sob intenso tiroteio inimigo, o
condutor salta da sua viatura, recolhe as armas dos camaradas mortos
e dispara sobre os atacantes enquanto se abriga junto do segundo
jipe, onde foram mortalmente atingidos outros dois soldados da
CCav679, o alferes Malcatanho está ferido pela primeira rajada
em ambas as mãos, o 1º Cabo Ângelo dos Santos Rodrigues
[promovido por distinção a Furriel e agraciado com o grau de Cavaleiro,
com palma, da Ordem da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito]
está totalmente cego de um dos olhos, o soldado-maqueiro
Manuel Marques Sardão [a título póstumo, promovido por distinção
a Furriel e agraciado com o grau de Cavaleiro, com palma, da Ordem
da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito] está gravemente
ferido e apenas resta ileso o soldado Orlando de Jesus Costa
[Cruz de Guerra, de 4.ª classe], que utiliza eficazmente a sua arma e
impede o inimigo de avançar para a picada.
António Gomes Guerra, 1.º Cabo Atirador, n.º 141/64, natural
da freguesia e concelho de Figueira Castelo Rodrigo,
mobilizado pelo Regimento de Infantaria 2, para servir na
Região Militar de Angola, integrado no Pelotão de Caçadores
964, adstrito ao Batalhão de Caçadores 554. Tombou em
combate no dia 22 de Outubro de 1965. Está sepultado no
cemitério da freguesia de naturalidade.
da freguesia e concelho de Figueira Castelo Rodrigo,
mobilizado pelo Regimento de Infantaria 2, para servir na
Região Militar de Angola, integrado no Pelotão de Caçadores
964, adstrito ao Batalhão de Caçadores 554. Tombou em
combate no dia 22 de Outubro de 1965. Está sepultado no
cemitério da freguesia de naturalidade.
António José Ferreira Marques, 1.º Cabo Atirador,
n.º 1/64, natural de Celeirô, da freguesia de São Nicolau,
concelho de Cabeceiras de Basto, mobilizado pelo Regimento
de Infantaria 2, para servir na Região Militar de Angola,
integrado no Pelotão de Caçadores 964, adstrito ao Batalhão
de Caçadores 554. Tombou em combate no dia 22 de Outubro
de 1965. Está sepultado no cemitério de Cabinda, em Angola,
no talhão militar, campa 6-1-B.
n.º 1/64, natural de Celeirô, da freguesia de São Nicolau,
concelho de Cabeceiras de Basto, mobilizado pelo Regimento
de Infantaria 2, para servir na Região Militar de Angola,
integrado no Pelotão de Caçadores 964, adstrito ao Batalhão
de Caçadores 554. Tombou em combate no dia 22 de Outubro
de 1965. Está sepultado no cemitério de Cabinda, em Angola,
no talhão militar, campa 6-1-B.
Óscar Gomes Pires, 1.º Cabo Atirador, n.º 320/64, natural de
tremoceira, da freguesia de Pedreiras, concelho de Porto Mós,
mobilizado pelo Regimento de Infantaria 2, para servir na Região
Militar de Angola, integrado no Pelotão de Caçadores 964, adstrito ao
Batalhão de Caçadores 554. Tombou em combate no dia 22 de Outubro de 1965. Está sepultado no cemitério de Cabinda, em Angola, no talhão militar, campa 8-1-B
tremoceira, da freguesia de Pedreiras, concelho de Porto Mós,
mobilizado pelo Regimento de Infantaria 2, para servir na Região
Militar de Angola, integrado no Pelotão de Caçadores 964, adstrito ao
Batalhão de Caçadores 554. Tombou em combate no dia 22 de Outubro de 1965. Está sepultado no cemitério de Cabinda, em Angola, no talhão militar, campa 8-1-B
António Alcobia, Soldado Atirador, n.º 1767/63, natural da
reguesia de Pias, concelho de Ferreira do Zêzere, mobilizado pelo
Regimento de Cavalaria 3, para servir na Região Militar de Angola,
integrado na Companhia de Cavalaria 679 do Batalhão de Caçadores
682. Tombou em combate no dia 22 de Outubro de 1965. Está
sepultado no cemitério de Cabinda, em Angola, no talhão militar, campa 11-1-B
reguesia de Pias, concelho de Ferreira do Zêzere, mobilizado pelo
Regimento de Cavalaria 3, para servir na Região Militar de Angola,
integrado na Companhia de Cavalaria 679 do Batalhão de Caçadores
682. Tombou em combate no dia 22 de Outubro de 1965. Está
sepultado no cemitério de Cabinda, em Angola, no talhão militar, campa 11-1-B
Fernando Lourenço Mota, Soldado Atirador, n.º 1602/63, natural
da freguesia da Barroca, concelho do Fundão, mobilizado pelo
Regimento de Cavalaria 3, para servir na Região Militar de Angola,
integrado na Companhia de Cavalaria 679 do Batalhão de Caçadores
682. Tombou em combate no dia 22 de Outubro de 1965.
Está sepultado no cemitério de Cabinda, em Angola, no talhão militar,
campa 9-1-B
da freguesia da Barroca, concelho do Fundão, mobilizado pelo
Regimento de Cavalaria 3, para servir na Região Militar de Angola,
integrado na Companhia de Cavalaria 679 do Batalhão de Caçadores
682. Tombou em combate no dia 22 de Outubro de 1965.
Está sepultado no cemitério de Cabinda, em Angola, no talhão militar,
campa 9-1-B
Francisco de Jesus Esteves Lucas, Soldado Atirador,
n.º 1765/63, natural de Rochas de Baixo, da freguesia de
Almaceda, concelho de Castelo Branco, mobilizado pelo Regimento
de Cavalaria 3, para servir na Região Militar de Angola, integrado
na Companhia de Cavalaria 679 do Batalhão de Caçadores 682.
Tombou em combate no dia 22 de Outubro de 1965. Está sepultado
no cemitério de Cabinda, em Angola, no talhão militar, campa 10-1-B.
n.º 1765/63, natural de Rochas de Baixo, da freguesia de
Almaceda, concelho de Castelo Branco, mobilizado pelo Regimento
de Cavalaria 3, para servir na Região Militar de Angola, integrado
na Companhia de Cavalaria 679 do Batalhão de Caçadores 682.
Tombou em combate no dia 22 de Outubro de 1965. Está sepultado
no cemitério de Cabinda, em Angola, no talhão militar, campa 10-1-B.
Os 5 sobreviventes continuam a disparar seguindo as instruções do
oficial
[Alferes Malcatanho] e o tiroteio é ouvido no destacamento do Luáli,
de onde arrancam no único jipe o cabo e o cozinheiro, que durante o
trajecto vão disparando curtas rajadas. No local da emboscada, o
inimigo interrompe o ataque e o soldado-condutor Fernandes
[Cruz de Guerra, de 1.ª classe] aproveita a pausa para pôr o segundo
jipe em andamento em direcção ao destacamento em busca de
socorros, ignorando que os seus camaradas vêm a caminho; os
atacantes, permanecendo emboscados e preparados para descer à
picada, liquidar os feridos, esfacelar os mortos e capturar o armamento,
ao ouvir o tiroteio aproximar-se pensam tratar-se de fortes reforços e
retiram apressadamente, deixando no terreno uma bazooka e
outro material-de-guerra; logo de seguida o soldado-maqueiro
[Manuel Marques Sardão], apesar de gravemente ferido, procura socorrer os
camaradas feridos e morre no local do combate, no exercício da função da sua especialidade.
oficial
[Alferes Malcatanho] e o tiroteio é ouvido no destacamento do Luáli,
de onde arrancam no único jipe o cabo e o cozinheiro, que durante o
trajecto vão disparando curtas rajadas. No local da emboscada, o
inimigo interrompe o ataque e o soldado-condutor Fernandes
[Cruz de Guerra, de 1.ª classe] aproveita a pausa para pôr o segundo
jipe em andamento em direcção ao destacamento em busca de
socorros, ignorando que os seus camaradas vêm a caminho; os
atacantes, permanecendo emboscados e preparados para descer à
picada, liquidar os feridos, esfacelar os mortos e capturar o armamento,
ao ouvir o tiroteio aproximar-se pensam tratar-se de fortes reforços e
retiram apressadamente, deixando no terreno uma bazooka e
outro material-de-guerra; logo de seguida o soldado-maqueiro
[Manuel Marques Sardão], apesar de gravemente ferido, procura socorrer os
camaradas feridos e morre no local do combate, no exercício da função da sua especialidade.
Manuel Marques Sardão, Soldado Maqueiro, n.º 1898/63,
natural de Santo Amaro da Boiça, da freguesia de Maiorca,
concelho da Figueira da Foz, mobilizado pelo Regimento de
Infantaria 15, para servir na Região Militar de Angola,
integrado na Companhia de Comando e Serviços (CCS)
do Batalhão de Caçadores 554. Tombou em combate no dia
22 de Outubro de 1965. Está sepultado na localidade de
nascimento.
natural de Santo Amaro da Boiça, da freguesia de Maiorca,
concelho da Figueira da Foz, mobilizado pelo Regimento de
Infantaria 15, para servir na Região Militar de Angola,
integrado na Companhia de Comando e Serviços (CCS)
do Batalhão de Caçadores 554. Tombou em combate no dia
22 de Outubro de 1965. Está sepultado na localidade de
nascimento.
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1 comentário:
Parabéns pela excelente descrição do RESGATE DO TENENTE MALAQUIAS! Classifico esse acontecimento como uma das páginas de Honra e Glória que os nossos camaradas mobilizados escreveram durante a Guerra do Ultramar! Parabéns ao Autor e a todos os envolvidos que lhe facultaram a veracidade dos detalhes ocorridos, que estão magistralmente descritos! Essa odisseia deveria figurar nos compêndios escolares, em oposição à ignorância, à borga desenfreada e ao facilitismo intelectual que proliferam no seio dos nossos adolescentes e jovens. Mas, infelizmente, esta pobre Nação vive sob o jugo da cobardia, da corrupção instituída e do liberalismo económico extremo que nos levará ao colapso social. Um grande abraço para todos vós, ilustres patriotas que tão bem honrastes Portugal!
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