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sexta-feira, 23 de maio de 2014

POLÍCIAS E TAMPINHAS DE PLÁSTICO

Sindicatos da polícia contestam participação da PSP em separação de tampinhas

Estruturas sindicais consideram que essa não é a função da polícia e pedem explicações ao comando metropolitano.
DANIEL ROCHA
Os sindicatos da polícia estão a receber mensagens de descontentamento por parte de agentes por irem participar na separação de tampinhas recicláveis que serão utilizadas, no próximo dia 10 de Junho, para criar uma mega-bandeira nacional. Os polícias não contestam o evento de cariz solidário mas consideram que não é missão da autoridade de segurança participar neste tipo de iniciativas.Em parceria com outras entidades, a PSP vai apoiar a candidatura mundial aoGuinness World Records do projecto a Bandeira da Esperança. A bandeira, que terá 45x30 metros, vai ser formada por cerca de 10 milhões de tampinhas recicláveis, num total de 15 toneladas, debaixo da pala do Pavilhão de Portugal, em Lisboa.
Na terça-feira, a 2.ª divisão da PSP terá enviado um email a ordenar a alguns elementos da polícia que participassem na separação por cores das tampinhas, o que teria início às 8h de quarta-feira, num armazém.
O PÚBLICO tentou confirmar se a participação de agentes na separação de tampinhas seria voluntária ou resultou de uma ordem. Contactada a 2.ª divisão, esta remeteu declarações para o Cometlis. O comando metropolitano indica, por sua vez, que a polícia vai participar “numa iniciativa de intervenção social junto da comunidade”, através do “voluntariado da PSP e da sociedade civil”. “É essa a informação de que dispomos”, indicou o gabinete de relações públicas do comando ao PÚBLICO, admitindo que se está a averiguar se foi dada alguma ordem nesse sentido.
A Direcção Nacional da PSP, através do seu porta-voz, o subintendente Paulo Flor, confirmou que tem “conhecimento da iniciativa”, que esta foi autorizada, mas que foi o comando de Lisboa que “assumiu determinados compromissos” e cabe-lhe “assumir as suas responsabilidades”. A participação no evento Bandeira da Esperança “merece o respeito” da direcção nacional mas é um assunto secundário perante o envolvimento da PSP nos eventos deste fim-de-semana - final da Liga dos Campeões, eleições europeias e arranque do Rock in Rio. 
Paulo Flor sublinhou que, “neste momento, a prioridade da polícia é a final da Liga dos Campeões”. Ao jornal i, a Direcção Nacional da PSP assumiu ainda que os polícias “nomeados” para a iniciativa serão “compensados num futuro próximo”.
A participação da polícia foi anunciada pelo Comando Metropolitano de Lisboa (Cometlis) a 2 de Maio. Através da 2.ª divisão da PSP iria estar presente na construção da bandeira, o “contributo” da polícia para celebrar o Dia de Portugal – Dia de Camões. Além da sensibilização da população para causas ambientais, o Cometlis disse que a bandeira será “igualmente um incentivo à selecção nacional de futebol”, que dias depois inicia a sua participação no Mundial de futebol, no Brasil.
“Obrigar nada tem a ver com a prontidão”
Com os três eventos a decorrer, e para os quais foram chamados milhares de agentes de todo país, as estruturas sindicais não receberam bem a mobilização da polícia para mais esta iniciativa.
O presidente da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia afirmou ao PÚBLICO que a estrutura “não põe em causa a iniciativa e todas as que tenham um objectivo solidário”, mas questiona a forma como os polícias vão participar. “Se tivesse sido lançado um apelo voluntarioso para ajudar, provavelmente apareciam muitos polícias disponíveis”, diz Paulo Rodrigues. O sindicalista defende que “obrigar nada tem a ver com a prontidão” da polícia”. “[Os polícias] só devem fazer essas actividades fora da sua missão e como voluntariado”, reforçou. A associação sindical quer saber por que os agentes terão sido obrigados, se haverá alguma forma de compensação e de que forma será feita.
O Sindicato Nacional da Polícia (Sinapol) critica a alegada ordem da 2.ª divisão da PSP de Lisboa e só aceita que a polícia participe neste tipo de iniciativas “nas suas horas vagas e se o fizer voluntariamente”. “Os polícias não estão a aceitar bem. Já recebi feedback de que a decisão caiu mal. É um sentimento nacional”, salientou o presidente do Sinapol, Armando Ferreira. O sindicalista adianta que esse mal-estar foi  manifestado durante quarta-feira nas redes sociais, com “posições sempre muito críticas”. “Não é missão de um polícia fazer isto. Os sindicatos já estão a receber sinais de descontentamento sobre a situação”, exemplificou Armando Ferreira.
Peixoto Rodrigues, presidente do Sindicato Unificado da Polícia de Segurança Pública, lamenta que o Cometlis alegue que desconhece se a participação da PSP na separação das tampinhas partiu de uma ordem, afirmando que isso “não corresponde à verdade”. Peixoto Rodrigues reconhece a hipótese de que “haja elementos voluntários” mas os que se negarem a cumprir ordens “vão sofrer depois as consequências”.
“É lamentável que dada a urgência deste fim-de-semana tenham sido cortadas folgas e férias aos efectivos de vários comandos do país. Sem folgar, como é que retiram elementos para fazer separação de tampinhas?”, questiona. O sindicalista defende que este tipo de situação “nada contribui para a imagem da polícia e das polícias”.

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