.Ai senhor das furnas Que escuro vai dentro de nós Rezar o terço ao fim da tarde Só para espantar a solidão Rogar a Deus que nos guarde Confiar-lhe o destino na mão . Que adianta saber as marés Os frutos e as sementeiras Tratar por tu os ofícios Entender o suão e os animais Falar o dialecto da terra Conhecer-lhe o corpo pelos sinais . | ..E do resto entender mal Soletrar assinar em cruz Não ver os vultos furtivos Que nos tramam por trás da luz . . Aí senhor das furnas Que escuro vai dentro de nós A gente morre logo ao nascer Com olhos rasos de lezíria De boca em boca passar o saber Com os provérbios que ficam na gíria . | ..De que nos vale esta pureza Sem ler fica-se pederneira Agita-se a solidão cá no fundo Fica-se sentado à soleira A ouvir os ruídos do mundo E a entendê-los à nossa maneira . . Carregar a superstição De ser pequeno ser ninguém E não quebrar a tradição Que dos nossos avós já vem |
Composição de Carlos Tê / Rui Veloso
Canta Isabel Silvestre
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