Combate à desertificação é prioridade Personalidades levantam a voz ‘Pró Futuro de Alcoutim’ 01-02-2012
Entre os 50 fundadores do movimento “Pró Futuro de Alcoutim”, a terra que mais gente perdeu em todo o país, estão os escritores Teresa Rita Lopes, Mário Zambujal e Carlos Brito, o engenheiro Gaspar Santos ou o médico e autarca Francisco Amaral.
Como não há futuro sem gente, um dos combates é contra a desertificação já que Alcoutim perdeu 23,2% da população e 14,5% das famílias entre 2001 e 2011.
“Os fenómenos do envelhecimento e da desertificação que a provocaram podem mesmo ser agravados pela presente política de contenção orçamental e outras medidas de austeridade em curso. Até onde? Para quem gosta de Alcoutim, esta ameaça é alarmante e inaceitável”, alerta o manifesto do grupo fundador.
Por isso, a intenção é “trabalhar para a promoção de Alcoutim” de uma forma conjugada e nas respetivas áreas de influência dos membros.
Ficou expressa no almoço que marcou a primeira reunião do movimento, a 21 de janeiro, a disponibilidade das personalidades presentes para, “em conjugação” com os órgãos autárquicos, as associações de desenvolvimento local e cívicas, mas também os partidos políticos, “exercerem pressão junto das estâncias políticas e administrativas centrais e regionais, seja para contrariar medidas adversas para o concelho, seja para acelerar medidas que o favoreçam”.
A ideia é, também, criar parcerias com entidades e instituições de setores como a comunicação social, a cultura, os negócios e a economia, aqui com destaque para o turismo, de forma a criar uma rede em que se incluirão outras localidades, para dinamizar, por exemplo, atividades culturais.
Há razões para recear que a sangria (da população) continue
No manifesto fundador do Movimento aborda-se uma das questões mais prementes, cuja dimensão foi revelada pelos Censos 2011:
Alcoutim perdeu cerca de um quarto da população nos últimos 10 anos.Para os ativistas do movimento Pró Futuro de Alcoutim há motivos para “recear que esta sangria continue”.
Em breve análise sobre as razões “da sangria”, o manifesta alerta para o facto de, nos últimos anos, não terem existido projetos de desenvolvimento económico local, “capazes de criar postos de trabalho, garantir emprego, fixar e atrair população”.
Pelo contrário, em sua opinião, as “poucas” iniciativas que surgiram “tiveram de enfrentar tantos obstáculos e exigências burocráticas da parte de organismos centrais”, designadamente das entidades ligadas ao ambiente e ao ordenamento, que os investidores desistiram.
Mas também terá existido, segundo o movimento Pró Futuro de Alcoutim “falta de vontade política”. Um dos exemplos é a ponte entre Alcoutim e Sanlúcar do Guadiana, que poderia ter contribuído para “atenuar a situação extremamente periférica e de «fim da linha» em que o concelho se encontra”.
A obra acabou por sair da carteira de investimentos oficiais de Portugal e Espanha, “por razões economicistas, ao que se diz, mas verdadeiramente por falta de vontade política”.
Média de alojamentos por família em Alcoutim é de 2,5
Os censos de 2011 confirmam que Alcoutim perdeu 23,2% da população e 14,5% das famílias entre 2001 e 2011,
Dados que contrastam ainda mais pois o Algarve foi a região do país que registou o maior crescimento populacional (14%) passando para 450.484 habitantes, mais 55.250 indivíduos do que os 395.218 registados pelos censos em 2001.
Mas os Censos também indicam que no mesmo período de tempo se registou um acréscimo de alojamentos de 18,8% em Alcoutim. Assim, o número médio de alojamentos por família, em Alcoutim é de 2,5 (Castro Marim atinge o máximo com 3 alojamentos por família e Faro o mínimo com 1,4).
São estes números que levam o Observatório das Dinâmicas Regionais que colige dados sobre a economia do Algarve de diversas fontes, designadamente do Instituto Nacional de Estatística (INE), a considerar que “esta realidade indicia que, no mínimo, deverá ser relativizado o papel de entrave ao crescimento das áreas interiores, muitas vezes atribuído aos atuais instrumentos de gestão territorial”.
Algarve a 2 velocidades, com o Nordeste quase em marcha atrás
Na análise sobre o Censo de 2011 o Observatório das Dinâmicas Regionais conclui: “Verifica-se, genericamente, um crescimento a duas velocidades, com uma dinâmica superior à média regional nas freguesias da “faixa do Barrocal” e acentuando-se o declínio das freguesias da serra e do Nordeste Algarvio”.
Ou seja, no Algarve interior, de forma transversal de Este a Oeste, “consolidou-se a tendência de regressão populacional”, com Alcoutim a ser o concelho mais penalizado e Monchique o segundo.
Porém, “a dinâmica do alojamento superou largamente a dinâmica populacional, indiciando a manutenção de um modelo territorial e socioeconómico centrado na imobiliária com usos sazonais”.
Por isso, o Observatório das Dinâmicas Regionais alerta para a necessidade de análises socioeconómicas devido à “continuada tendência de diminuição do número de indivíduos por famílias, que confirma uma alteração nas estruturas familiares, a contemplar nas análises e nos planos de intervenção social”.
Neste contexto, o processo será mais complexo do que as regras do ordenamento e ambientais serem restritivas, dado o crescimento verificado no alojamento. E também não será unicamente pela “vontade política” ou falta dela, quando se verifica uma alteração que atinge as estruturas familiares.
Para dar o seu “contributo” e “ajudar a modificar” estes dados, as quase cinco dezenas de personalidades que assinaram o manifesto e integram o movimento “Pró Futuro de Alcoutim” terão outros desafios para que, num Algarve reconhecidamente a duas velocidades, o Nordeste algarvio não continue a fazer marcha atrás.
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observatório do Algarve
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