A boneca feita de serradura
Era uma vez uma boneca feita de serradura, era dura, tão dura, que passava os dias com dores de cabeça. A Ludovina, tinha quatro anos quando lhe ofereceram a boneca. Era muito linda, tinha os cabelos muito pretos e compridos, um vestido amarelo de alças e uns sapatos pretos, pintados no corpo, era feita de pano a imitar a cor da pele, um cor-de-rosa desmaiado.
A Ludovina, deu vários nomes à boneca mas, nenhum lhe assentou bem, por isso ficou a boneca de serradura.
A boneca, andava sempre de mão em mão, as amigas da Ludovina, pegavam-lhe pelas pernas, pelos braços e rodopiam a coitada e, ela batia com a cabeça em tudo quanto era sítio. Era dura. Era de serradura. As crianças achavam graça à desgraçada da boneca, que por ser dura, tinham pouco cuidado com ela.
A face era desenhada, tinha sobrancelhas pretas, olhos redondos e as pestanas eram riscos verticais. Tinha duas rosetas vermelhas e os lábios a sorrir. Ora, quem é que adivinhava que lhe doía a cabeça? Ela bem tentava advertir as crianças, mas só se ouvia a si própria “ Ui, dói-me a cabeça”.
Até que um dia por descuido, a Ludovina, pegou-lhe pelos pés e arrastou-a até ao quarto com a cabeça pelo chão e, de repente fechou a porta do quarto e a cabeça ficou do outro lado. “ Mãe, mãe, mãe” gritava a menina” A boneca, a boneca”, e havia serradura espalhada em seu redor.
A boneca, ficou zonza, num ápice tentou perceber o que lhe tinha acontecido, olhou em seu redor e viu a mãe da Ludovina, muito espantada a olhar para ela. Pegou-lhe na cabeça, que estava menos dura, e apertou o buraco por onde saia a serradura, entrou no quarto da Ludovina, que chorava, com a outra parte da boneca na mão e, foi buscar a caixa de costura.
A boneca, quando viu a mãe da menina de agulha na mão, quase desmaiou, “ Ai a minha vida! Ai a minha cabeça, ai, ai, ai”. A mãe da menina com todo o cuidado costurou a cabeça da boneca ao corpo, enquanto a Ludovina enxugava as lágrimas e via a boneca renascer “Agora, vais ter mais cuidado com a boneca, até parece que a coitada estava numa aflição, Ludovina!”, disse a mãe, enquanto deitava a menina. Nessa noite a boneca sorriu por dentro, porque por fora estava sempre com os lábios naquela posição de contente. Dormiu na cama da Ludovina. E passou-lhe a dor de cabeça.
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