Alerta, com raro alarde, o Governador do Banco de Portugal, para o risco de uma "euforia de crédito" no imobiliário. Respondem que "não" os banqueiros, e tranquilizam os portugueses com a fala mansa que já lhes conhecemos e que há muito nos sai demasiado cara.
Vão mais longe os banqueiros e dizem que o principal aumento dos preços se verifica em Lisboa e Porto e que não há, portanto, nada a temer, porque tais imóveis estão posicionados num mercado internacional que afasta o risco de bolha especulativa, sendo que o poder de compra dos compradores estrangeiros é bem superior ao português. Já o pessoal da comissão europeia, nos seus absolutamente indispensáveis relatórios de progresso sobre o Portugal bem-comportado, nos alerta em sentido contrário para a possibilidade de estarmos perante uma bolha especulativa, para a tendência de se verificar uma queda nos preços do imobiliário nos próximos anos e para o facto de a habitação se estar a tornar incomportável para as famílias de mais baixo rendimento.
Mas não se espantem, nada disso é dito com preocupação.
É assim uma espécie de "tudo vai bem porque corre como esperámos.
Ou seja, os pobres ficam sem casa porque as casas estão a subir o preço, o que é normal porque há uma bolha especulativa que é sintoma da ressaca dos anos da troika".
A verdade é que a Comissão Europeia reconhece a existência de um risco de bolha especulativa e o Banco de Portugal também.
Só os bancos não. Precisamente os que mais lucram com a existência de uma bolha, são os que negam a sua existência. Toda a gente sabe que comprar prédios à segurança social por uns milhares e vender por uns milhões não se enquadra no conceito de especulação, - nem para os radicais do Bloco de Esquerda! - e toda a gente sabe que isso de morar nas cidades é coisa do passado porque hoje o que rende é enfiar o máximo de turistas no mínimo espaço, pegar no pessoal dos bairros, mandá-los à fava e depois chamá-los à cidade nos transportes públicos caros e desarticulados para virem servir à mesa.
Só os bancos não. Precisamente os que mais lucram com a existência de uma bolha, são os que negam a sua existência. Toda a gente sabe que comprar prédios à segurança social por uns milhares e vender por uns milhões não se enquadra no conceito de especulação, - nem para os radicais do Bloco de Esquerda! - e toda a gente sabe que isso de morar nas cidades é coisa do passado porque hoje o que rende é enfiar o máximo de turistas no mínimo espaço, pegar no pessoal dos bairros, mandá-los à fava e depois chamá-los à cidade nos transportes públicos caros e desarticulados para virem servir à mesa.
Pois bem, os preços das casas em Lisboa, por força das políticas de direita dos últimos 42 anos, conjugados com uma visão de mercado na Câmara Municipal de Lisboa acentuada nos últimos 20 anos, têm vindo a tornar-se um novo maná para a banca e seus favorecidos. Pequenos senhorios expulsam os inquilinos das suas casas com a cenoura do alojamento local, ou - e é o que sucederá cada vez mais intensamente - para vender os prédios sem inquilinos, pronto a "habitar", que é como quem diz "pronto a fazer render".
O metro quadrado em Lisboa é hoje um mundo à parte do mundo dos portugueses e o do Porto já está no mesmo caminho.
Os trabalhadores não são bem-vindos na cidade, graças à comissão de negócios dos grandes grupos económicos que tomou conta das câmaras, pesem as diferentes filiações de cada presidente. CDS escondido num, PS assumido com o apoio do BE, noutro.
Os trabalhadores não são bem-vindos na cidade, graças à comissão de negócios dos grandes grupos económicos que tomou conta das câmaras, pesem as diferentes filiações de cada presidente. CDS escondido num, PS assumido com o apoio do BE, noutro.
Os trabalhadores de Lisboa e Porto, os idosos, antigos trabalhadores das cidades, razão de ser de cada espaço urbano e da própria existência de câmaras municipais, são escorraçados para a periferia, a habitação como direito foi sempre um sonho para tontos enquanto persistir capitalismo e dominar os órgãos de poder. E em Portugal, oh se domina!
Mas o mais grave desta estória, além de vermos serem expulsos da cidade todos quantos não têm suficiente poder de endividamento no banco para comprar um hostel - pelo menos! - além de vermos famílias inteiras ficarem sem casas, idosos tremendo com medo de serem lançados na agonia da rua a acrescentar à agonia da solidão, trabalhadores a trabalhar em dois empregos para mesmo assim não conseguirem pagar rendas e muito menos adquirir casa, é que somos nós quem paga a concentração de imobiliário nas mãos dos actuais compradores.
A conta é simples: a bolha especulativa tem como consequência a depreciação do valor dos activos sobreavaliados.
Quando a bolha rebenta, esse valor regressa a preços mais próximos do "normal do mercado", o que significa que os bancos hoje estão a emprestar dinheiros aos ricos - muitos deles accionistas de bancos escondidos atrás de testas de ferro ou de empresas em off-shore - para adquirirem activos cujo valor se depreciará intensamente nos próximos anos.
Quando a bolha rebenta, esse valor regressa a preços mais próximos do "normal do mercado", o que significa que os bancos hoje estão a emprestar dinheiros aos ricos - muitos deles accionistas de bancos escondidos atrás de testas de ferro ou de empresas em off-shore - para adquirirem activos cujo valor se depreciará intensamente nos próximos anos.
Essa desvalorização que acompanhará um arrefecimento da procura, no imobiliário e nos restantes sectores, terá como efeito primeiro o aumento dos incumprimentos de empréstimos bancários. Ou seja, com o arrefecimento da economia e com a explosão da bolha especulativa, os salários tenderão a baixar ou a ser impedidos de aumentar, os preços podem estagnar e no imobiliário decairão. Isso provoca insolvências fictícias dos ricos, principalmente através da insolvência das sociedades que agora adquirem os créditos para comprar Lisboa.
Esses imóveis, registados no balanço dos bancos como garantias para os empréstimos, verão os contratos de crédito renegociados, ou serão dados aos bancos para compensar os calotes. Seja qual for o caso, ficarão na mão dos grandes grupos económicos, mas o seu valor não será pago aos bancos que hoje atribuem créditos muito acima do valor dos imóveis fora de época. Isso significa que serão uma imparidade no registo contabilístico dos bancos. O que é uma chatice porque os bancos assim perdem dinheiro, diria o leitor.
Pois bem, sucedeu com BPN, com BPP, com BPI, com BCP, com Banif, com BES. Todos registaram quase 20 mil milhões de euros em perdas com créditos não pagos. Cada um desses milhões de euros foi pago com o orçamento do Estado, com os impostos dos trabalhadores portugueses. Os mesmos que pagam quase 8 mil milhões de euros de juros da dívida pública, em boa parte a bancos.
Os mesmos que ficaram sem escolas, centros de saúde, postos de correio, juntas de freguesia, pensões, transportes públicos, entre muitos outros serviços.
Os mesmos que ficaram sem escolas, centros de saúde, postos de correio, juntas de freguesia, pensões, transportes públicos, entre muitos outros serviços.
Isso significa que, não apenas ficas sem casa como ainda vais pagar com os teus impostos a casa ao gajo que ta tirou.
O que é grave é que resta pouco para assaltar e que nenhum banqueiro ficará satisfeito enquanto restar algo para explorar e extorquir, nem que seja apenas já o teu corpo despojado de todos os bens que lhe fazem falta.
Por isso, vale mais gritar "rebenta a bolha!", mas não é a especulativa. É a da dança habitual, em que há sempre cadeiras para todos - PS, PSD e CDS e às vezes até um lugarinho para o BE - do joguinho dos ricos a ganhar eleições com os votos dos pobres, da gargalhada nos banquetes dos boletins de voto.
Rebenta a bolha, dá as mãos aos que vivem como tu e pára de votar nos que compram casas à tua pala.
Rebenta a bolha, dá as mãos aos que vivem como tu e pára de votar nos que compram casas à tua pala.
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