José Carlos Vilhena Mesquita
Há cerca de vinte e sete anos atrás publiquei no vespertino lisboeta «Diário de Notícias» um artigo em que recordava uma controversa visita de Simone de Beauvoir ao nosso país, a qual teve como particular ponto de referência a província do Algarve, e em especial a cidade de Faro. Nessa altura, o artigo pareceu-me oportuno e, talvez por isso, se justifique o bom acolhimento que recebeu da parte da comunidade literária. Estava, porém, longe de supor que a escritora francesa lhe sobrevivesse tão pouco tempo. Talvez por essa infeliz circunstância se possa explicar o facto da Biblioteca Nacional – numa exposição bibliográfica realizada logo após o desaparecimento da escritora – ter apresentado numa das suas vitrinas o artigo que pouco tempo antes lhe dedicara.
Tomando em consideração os anos decorridos e o interesse de que se reveste o próprio tema para a história cultural do Algarve, achei que deveria exumar o artigo das páginas do jornal para assim perpetuar a memória de uma das mais célebres escritoras da cultura europeia contemporânea. As relações culturais luso-francesas, que tantas tradições tiveram no Algarve na década de quarenta, constituem, por outro lado, um dos objectivos fundamentais deste despretensioso artigo.
Longe vai da memória dos presentes a meteórica passagem pelo Algarve da escritora francesa Simone de Beauvoir, nascida em Paris a 9-1-1908 e falecida na mesma cidade a 14-4-1986.
Ocorreu este feliz episódio em Março de 1945, por força de um convite que lhe fora oficialmente enviado pelo Instituto Francês em Portugal e pela sua delegação em Faro. Raras referências se tem feito a este acontecimento e a única excepção que conheço pertence ao Prof. Doutor João Medina, que no seu inteligente livro Salazar e França (Lisboa, Ed. Ática, 1977), lhe dedicou um capítulo intitulado «Simone de Beauvoir no Algarve» (Idem, pp. 144-l46), o qual aparece precedido duma extensa antologia retirada das obras A Força das Coisas e de Os Mandarins. Num estilo biográfico-memoralista, Simone de Beauvoir recorda a amarga impressão que lhe causou o clima Salazarista e a consequente situação económico-social, francamente desfavorável ao proletariado rural e fabril, materializada na fossilização dos conceitos de liberdade de expressão e de associação política. Um país pobre com sete milhões de habitantes, onde setenta mil comiam demasiado, enquanto os restantes passavam fome - afirmava e repetia Simone de Beauvoir nos seus livros. Sujo ocaso (“Sale hasard”) desabara sobre Portugal – parece ser a sua conclusão relativamente ao Estado Novo. Tamanhas “heresias” e “vitupérios” valeram-lhe a distinção de ver os seus livros proibidos no mercado livreiro português.
Há cerca de vinte e sete anos atrás publiquei no vespertino lisboeta «Diário de Notícias» um artigo em que recordava uma controversa visita de Simone de Beauvoir ao nosso país, a qual teve como particular ponto de referência a província do Algarve, e em especial a cidade de Faro. Nessa altura, o artigo pareceu-me oportuno e, talvez por isso, se justifique o bom acolhimento que recebeu da parte da comunidade literária. Estava, porém, longe de supor que a escritora francesa lhe sobrevivesse tão pouco tempo. Talvez por essa infeliz circunstância se possa explicar o facto da Biblioteca Nacional – numa exposição bibliográfica realizada logo após o desaparecimento da escritora – ter apresentado numa das suas vitrinas o artigo que pouco tempo antes lhe dedicara.
Tomando em consideração os anos decorridos e o interesse de que se reveste o próprio tema para a história cultural do Algarve, achei que deveria exumar o artigo das páginas do jornal para assim perpetuar a memória de uma das mais célebres escritoras da cultura europeia contemporânea. As relações culturais luso-francesas, que tantas tradições tiveram no Algarve na década de quarenta, constituem, por outro lado, um dos objectivos fundamentais deste despretensioso artigo.
Longe vai da memória dos presentes a meteórica passagem pelo Algarve da escritora francesa Simone de Beauvoir, nascida em Paris a 9-1-1908 e falecida na mesma cidade a 14-4-1986.
Ocorreu este feliz episódio em Março de 1945, por força de um convite que lhe fora oficialmente enviado pelo Instituto Francês em Portugal e pela sua delegação em Faro. Raras referências se tem feito a este acontecimento e a única excepção que conheço pertence ao Prof. Doutor João Medina, que no seu inteligente livro Salazar e França (Lisboa, Ed. Ática, 1977), lhe dedicou um capítulo intitulado «Simone de Beauvoir no Algarve» (Idem, pp. 144-l46), o qual aparece precedido duma extensa antologia retirada das obras A Força das Coisas e de Os Mandarins. Num estilo biográfico-memoralista, Simone de Beauvoir recorda a amarga impressão que lhe causou o clima Salazarista e a consequente situação económico-social, francamente desfavorável ao proletariado rural e fabril, materializada na fossilização dos conceitos de liberdade de expressão e de associação política. Um país pobre com sete milhões de habitantes, onde setenta mil comiam demasiado, enquanto os restantes passavam fome - afirmava e repetia Simone de Beauvoir nos seus livros. Sujo ocaso (“Sale hasard”) desabara sobre Portugal – parece ser a sua conclusão relativamente ao Estado Novo. Tamanhas “heresias” e “vitupérios” valeram-lhe a distinção de ver os seus livros proibidos no mercado livreiro português.
Familiares no Algarve
A principal razão da sua vinda ao nosso país prendia-se a motivações de ordem familiar, interligada com factores de ordem cultural. Efectivamente, estamos em crer que o convite formulado pelo Instituto Francês fora sugerido pelo seu cunhado Lionel de Roulet, casado com Hélène de Beauvoir, ambos refugiados no nosso país pouco antes do colapso militar da França, em 1939. Colocado em Lisboa, como membro directivo do referido Instituto, em breve Lionel de Roulet se transferiria para o Algarve, procurando na amenidade do clima o eficaz tratamento para uma, presumível, tuberculose óssea. Certamente não seria essa a sua doença, mas o certo é que igualmente para aqui o atraíam a mãe, Hélène Laure de Coninck, e o padrasto, o pintor Carlos Porfírio, intelectual da mais fina têmpera, antigo companheiro e amigo de Almada Negreiros, Fernando Pessoa, Amadeu de Sousa Cardoso, Santa Rita Pintor e tantos outros, que em 1917 aparecerá distinguido com as honras de Director e Fundador da revista Portugal Futurista – um dos marcos miliários do movimento modernista português.
Com efeito, Carlos Porfírio[1] numa das suas estadias em Paris consorciara-se, em segundas núpcias com Hélène Laure de Coninck, mãe de dois filhos: Lionel e Chantal. Esta senhora, de esmerada cultura e delicada educação, que era irmã da mãe de Simone de Beauvoir[2], viria a falecer ao Faro, em Dezembro de 1964.
Lionel de Roulet era um homem culto – suponho que fora aluno de Jean-Paul Sartre no Liceu do Havre e do mestre do Existencialismo traduzira o conto Estátuas Volantes, dado à estampa pela Editorial Inquérito. À frente da delegação do Instituto Francês, em Faro, viria a relacionar-se com os mais proeminentes intelectuais algarvios desse tempo, na sua maioria republicanos, de índole pacifista e contemporizadora, que formalmente se declaravam oposicionistas ao regime de Salazar.
O Círculo Cultural de Camões em Faro.
Decorria, então, a época áurea da Comemoração dos Centenários e com ela nasceu a ideia de fundarem um organismo cultural onde se pudessem reunir e implementar na comunidade farense o apreço pelas Humanidades e pela Ciência em geral.[3]
Deram-lhe o nome de Círculo Cultural de Camões e sediaram-se na Praça Alexandre Herculano, nos baixos do “Palácio das Lágrimas”, curiosa designação cuja origem não vale a pena aqui explicar.[4]
Rapidamente se elaboraram os Estatutos, que foram aprovados pelas entidades oficiais em 1940. As actividades culturais iniciaram-se nos finais desse ano na sede do Instituto Francês. A situação financeira do Círculo dependia dum subsídio da Junta de Província, que inclusivamente lhes prometera cinco salas no edifício que então se construía no chamado Largo da Pontinha, hoje designado por Largo da Liberdade. Esta situação de dependência, aliada a outros factores de carácter particular, ditou mais tarde a sua extinção, de cujas cinzas nasceria em 1943 o actual Círculo Cultural do Algarve. Vem, contudo, a talho de foice revelar que António Ferro fizera sigilosas reuniões numa conhecida estalagem próxima de Faro com intelectuais afectos ao regime, propondo a conversão daquele organismo aos ideais vigentes. Felizmente, nem todos viram no Círculo Camões o perigo “reviralhista” que se lhe pretendeu atribuir, recusando-se, portanto, a tomar parte em quaisquer manobras de boicote ou de apropriação ilegal.
Patrocínio Cultural da França.
Apesar de todas as dificuldades o Círculo Camões promoveu ou participou em várias iniciativas culturais que marcaram a época e não deixaram no olvido a sua, ainda que efémera, existência. Assim, registe-se a vinda ao Algarve do célebre coro infantil «La Manécanterie des Petits Chanteurs à la Croix de Bois», dirigidos pelo Abade Maillet e patrocinados pelo Instituto Francês. O grupo coral chegou a Faro a 29-12-1940 e no dia imediato realizou um concerto cujo produto revertia a favor dos pobres. A recepção fez-se com grande aparato na Câmara Municipal, onde discursaram os Drs. Justino de Bivar Weinholtz, Joaquim Magalhães, Lionel de Roulet, Abade Maillet e Francisco Guerreiro Barros. Para anunciar o espectáculo, que decorre no Cine-Teatro Farense, foram afixados interessantes cartazes da autoria de Hélène de Beauvoir e do artista algarvio Tóssan.[5] O êxito foi retumbante e as instalações do Teatro foram insuficientes para conter as largas centenas de espectadores.[6]
Outras iniciativas se seguiram, todas elas organizadas ou patrocinadas pelo Instituto Francês, visto que o Círculo Camões era uma espécie de sua filial.
Assim, decorreu entre 1941 e 1943 nas instalações do Círculo Camões vários cursos de línguas vivas, francês, inglês e alemão, embora suponha que este último nunca chegou a funcionar. Em Março de 1941, o crítico e professor de arte, Myron Malkiel Jirmounsky, pronunciou uma interessante conferência, no salão nobre da Câmara Municipal, subordinada ao tema «O Problema dos Primitivos Portugueses». No mesmo ano, Lionel de Roulet orientou no Círculo um curso de Literatura Francesa. A 14-11-1941 visitou o Algarve o ministro francês François Gentil, demorando-se nesta província três dias, tendo o Círculo Camões, de parceria com o Instituto, promovido algumas conferências daquele político, assim como um banquete de despedida nas instalações do Clube Farense. Por intermédio do mesmo ministro deslocou-se depois a Faro, em 9-12-1941, a pianista Reine Gianoli, aproveitando o Círculo para realizar alguns concertos pelo Algarve. Em Janeiro de 1942, Armand Guibert – conhecido tradutor de Fernando Pessoa – pronunciou uma palestra sob o patrocínio do Instituto Francês. Em Março, Lionel de Roulet inicia uma série de conferências sobre literatura francesa no séc. XIX. Em Maio, Bernard Michelin dava um concerto no Clube Farense, etc, etc. Não vale a pena continuar a enunciar as iniciativas conjuntas do Instituto Francês e do Círculo Cultural Camões, pois tornar-se-ia num vasto e enfastiante rol de concertos, conferências, exposições, cursos intensivos e outras manifestações culturais, que em Faro obtiveram assinalável êxito e muito contribuíram para o desenvolvimento cultural da região.
Outras iniciativas se seguiram, todas elas organizadas ou patrocinadas pelo Instituto Francês, visto que o Círculo Camões era uma espécie de sua filial.
Assim, decorreu entre 1941 e 1943 nas instalações do Círculo Camões vários cursos de línguas vivas, francês, inglês e alemão, embora suponha que este último nunca chegou a funcionar. Em Março de 1941, o crítico e professor de arte, Myron Malkiel Jirmounsky, pronunciou uma interessante conferência, no salão nobre da Câmara Municipal, subordinada ao tema «O Problema dos Primitivos Portugueses». No mesmo ano, Lionel de Roulet orientou no Círculo um curso de Literatura Francesa. A 14-11-1941 visitou o Algarve o ministro francês François Gentil, demorando-se nesta província três dias, tendo o Círculo Camões, de parceria com o Instituto, promovido algumas conferências daquele político, assim como um banquete de despedida nas instalações do Clube Farense. Por intermédio do mesmo ministro deslocou-se depois a Faro, em 9-12-1941, a pianista Reine Gianoli, aproveitando o Círculo para realizar alguns concertos pelo Algarve. Em Janeiro de 1942, Armand Guibert – conhecido tradutor de Fernando Pessoa – pronunciou uma palestra sob o patrocínio do Instituto Francês. Em Março, Lionel de Roulet inicia uma série de conferências sobre literatura francesa no séc. XIX. Em Maio, Bernard Michelin dava um concerto no Clube Farense, etc, etc. Não vale a pena continuar a enunciar as iniciativas conjuntas do Instituto Francês e do Círculo Cultural Camões, pois tornar-se-ia num vasto e enfastiante rol de concertos, conferências, exposições, cursos intensivos e outras manifestações culturais, que em Faro obtiveram assinalável êxito e muito contribuíram para o desenvolvimento cultural da região.
A revista «AFINIDADES»
Para além de tudo quanto ficou dito, merece especial destaque a publicação da revista «Afinidades», de cultura luso-francesa, que saiu em Setembro de 1942 sob a direcção do médico e musicólogo Dr. Francisco Fernandes Lopes e tendo como chefe da redacção Lionel de Roulet.[7]
A imprensa local acolheu com satisfação a nova revista[8] (de que se publicaram vinte números até Novembro de 1946), na qual colaboraram, entre outros, Joaquim Magalhães, Fernandes Lopes, Lionel de Roulet, Cândido Guerreiro, Abel Salazar, Ardré Gide, Moisés Amzalak, Paul Teyssier, Adolfo Casais Monteiro, Mário Dionísio, Saint-Exupéry, Albert Camus, Joel Serrão, Manuel da Fonseca, André Malraux, Jaime Brasil, Tomás Kim e Simone de Bauvoir, que assina um trabalho intitulado «D'un Novel Humanisme Français», que suponho ser o texto da sua conferência pronunciada em Faro. A capa foi desenhada por Hélène de Beauvoir e apresentava no centro uma vinheta com dois vultos medievais abraçados, como símbolo das afinidades existentes entre as culturas lusa e francesa. Aliás, desta talentosa pintora encontram-se em Faro, na sede da Alliance Française, dois painéis alegóricos, representando um a geografia literária da França e o outro a sinopse da história algarvia no contexto da História de Portugal. Em Fevereiro de 1943, Hélène de Beauvoir realizou no Secretariado de Propaganda Nacional uma exposição de pintura com 50 quadros, que mereceu da crítica grandes elogios.
Simone de Beauvoir no Algarve.
Como já disse, a escritora Simone de Bauvoir esteve na capital algarvia em Março de 1945, demorando-se no nosso país cerca de vinte dias. Dessa visita resultaram algumas das impressões que inspiraram não só os seus livrosA Força das Coisas e Os Mandarins, como ainda uma série de artigos, publicados sob pseudónimo, no jornal «Le Combat»[9], os quais provocaram grande celeuma nos meios políticos e nos órgãos de informação nacional.
A sua conferência, pronunciada a 9 de Março pelas 21,30 na sede do Instituto Francês em Faro[10], obteve da imprensa local elogiosas referências. Vejamos um exemplo:
«Na Delegação do Instituto Francês em Faro, sob a presidência do Sr. Governador Civil (Dr. Antero Cabral) ladeado pelas autoridades locais, realizou a sua anunciada conferência sobre “A Vida Literária em França, da Ocupação à Libertação”, a distinta professora e publicista Simone de Beauvoir que foi apresentada pelo Prof. Lionel de Roulet.
A conferente que durante duas horas teve o condão de prender a atenção do auditório, sem o fatigar, fez uma brilhante prelecção e conseguiu comover e emocionar o seu numeroso auditório. O Sr. Governador Civil, agradecendo, extraiu o significado da lição de patriotismo dada pela França e posta em relevo pela conferente.
No final houve uma recepção íntima nas dependências da Pensão Sota, sendo exibidos bailados regionais algarvios e trocados afectuosos brindes».[11]
O clima hostil aos ideais democráticos que se vivia no país deve ter, pelo menos parcialmente, comedido a agressividade política da sua palestra. Simone de Beauvoir vinha distinguida como primeira enviada intelectual duma França renovada e livre, e apesar de se confrontar com uma audiência aburguesada, acomodada e protectora do Estado Novo, nem por isso deixou de atacar a ferocidade nazi e o demoníaco holocausto perpetrado nos campos de concentração:
«... não me amedrontava falar; mas havia uma distância, que por vezes me desencorajava, entre a experiência que evocava e o público. Este vinha escutar-me por ociosidade, snobismo e frequentemente, com malevolência: muitos auditores conservavam total afeição pelo fascismo; a sala manteve-se gelada; ninguém queria acreditar nos campos, nas execuções e nas torturas; quando me levantei, o agente consular disse-me:Pois bem, agradeço-lhe por ter contado estas coisas, que ignorávamos completamente».[12]
A ideia que Simone de Beauvoir levou do nosso país não foi a mais favorável e embora se referisse ao Algarve com algum pictorismo, o certo é que também não lhe escaparam os pormenores de desolação e pobreza que então grassavam nas classes rurais, por serem as mais desprotegidas:
«...Vi uma terra de cores africanas, florida de mimosas e eriçada de agaves, falésias abruptas chocando com um oceano tranquilizado pela doçura do céu, aldeias caiadas de branco, igrejas de um barroco mais circunspecto que o de Espanha; (...) De longe a longe avistava grupos de homens e mulheres curvados para o solo, que sachavam num movimento ritmado: vermelhas, azuis, amarelas, laranja, as roupas brilhavam ao sol. Mas já não me deixava iludir; havia uma palavra que começava a medir o peso: a fome. Sob os tecidos coloridos, aquelas pessoas tinham fome; andavam descalças, cara fechada; e nas aldeias falsamente graciosas, reparei nos seus olhares hebetados; debaixo do sol esmagador, queimava-os um desespero selvagem».[13]
Durante a sua estadia percorreu o país de norte a sul. Gostou do Minho, apreciou os nossos vinhos, o artesanato, os costumes etnográficos, as feiras, o mar e a gastronomia. Mas por todo o lado o seu olhar forasteiro tecia impiedosas críticas à frugalidade em que viviam as camadas populares. Impressionaram-na os inúmeros pedintes, na sua maioria crianças que apresentavam sinais de evidente desnutrição. «O povo era deliberadamente mantido na porcaria e na ignorância»[14], conclui Simone de Beauvoir.
De qualquer modo, a visita foi compensadora para a escritora francesa, mercê da compensação financeira de que foi dotada a sua deslocação, podendo assim dar-se ao luxo de adquirir imenso vestuário, algum calçado e saborear pitéus, que em França o clima de guerra tornara de todo impensáveis.
Ao longo das suas memórias denota não só um acerado espírito crítico – por vezes injusto e até exagerado – como também um intrínseco burguesismo (chegou inclusivamente a comprar um casaco de peles, sapatos de fina pelica e meias de vidro), atitude que contrariava as suas ideias políticas, mas que se devem desculpar a uma mulher que, apesar de tudo, não gostava que lhe chamassem vaidosa.
Os tempos passaram e com eles despontou o reconhecimento público do seu inigualável talento literário, demonstrado pela sua numerosa lista de obras, que lhe granjearam desafogados meios de sobrevivência, um carisma e uma invejável celebridade. Após o desaparecimento de Jean-Paul Sartre (seu marido à hora da morte), viveu despreocupadamente os anos que ainda lhe restavam, de certo modo já afastada daquela atribulada e sensacional vida cultural, que pela sua obra deixou vincadas marcas na intelectualidade francesa e nas gerações europeias contemporâneas.
Mas no remanso da sua acolhedora residência, preenchida de fabulosas recordações dum passado a todos os títulos brilhante, certamente já não se lembrava daquela auspiciosa primavera de 1945, nem daquele deslumbrante Algarve de «falésias abruptas chocando com um oceano tranquilizado pela doçura do céu». E o Algarve esta hoje tão diferente... A vida passa... mas ficam as recordações.
NOTAS
[1] Pintor e cineasta, Carlos Filipe Porfírio nasceu em Faro a 29-3-1895 e faleceu nesta cidade a 25-11-1970. Herdou os seus dotes de artista do pai, José Filipe Porfírio (pintor, decorador e conservador do Teatro Lethes), estudou nas Belas Artes e conviveu de perto com os homens do «Orpheu». Em 1917 surge na direcção da revista «Portugal Futurista», cuja edição de 10.000 exemplares foi em grande parte apreendida pela polícia. Viajou pela Europa e fixou-se em Paris, onde estudou com artistas famosos. Em 1918 realizou em Faro um exposição de parceria com Jorge Barradas, Lyster Franco e Raul Carneiro. Foi o mentor da página futurista do jornal farense «O Heraldo», dirigido pelo pintor Lyster Franco. No salão da «Ilustração Portuguesa» realizou ao 3-2-1923 uma exposição de assinalável êxito. Com o enteado Lionel de Roulet fundou o Círculo Cultural Camões, em Faro, e já em Lisboa notabilizar-se-ia como cineasta ao realizar os filmes Um Grito na Noite, que obteve grande sucesso, e Sonho de Amor. Entretanto em 1940, por ocasião das Comemorações dos Centenários, promoveu a memorável Exposição Regional Algarvia. Mas a sua obra imortal foi, sem sombra de dúvida, o excelente Museu Etnográfico por ele instituído em Faro e para o qual pintou excelentes quadros retratando as lendas algarvias, os costumes populares e as festas religiosas. Acometido por grave enfermidade na garganta, passou os últimos anos de vida completamente afónico e impossibilitado de comunicar com os seus inúmeros amigos e admiradores. Faleceu vítima de um enfarte do miocárdio.
[2] Não tenho a certeza desta filiação, muito embora o Prof. João Medina, baseado em informações cedidas pelo Dr. Joaquim Magalhães, a dê como certa e verosímil.
[3] Neste centro de cooperação intelectual e de formação cultural pretendiam-se atingir objectivos à escala regional, nacional e universal:
«Sur le plan régional il s'appliquera à mieux faire connaître tout ce qui concerne l'Algarve, tous les traits qui font sa personnalité géographique et historique. Il créera une ambiance favorable capable de stimuler les créateurs ou les chercheurs qui se trouvent dans cette province. Il pourra même avoir un certain rôle social (...)
Sur le plan national, il s'agira surtout de faire connaître à la province les personnalités qui font la gloire de la science des lettres ou des arts portugais, au moyen des conférences, d'expositions, de concerts, etc...
Le plan de l'information en général concerne toutes les questions d'ordre culturel. Mais sont spécialement prévus: des cours de vulgarisation scientifique sur le thème: "Histoire des découvertes qui firent le monde modern; lumière électrique, photographie, T.S.F., aviation, etc" et des conférences destinées à procurer une représentation de l'Univers conforme aux derniers données de la science: astronomie, physique, etc...»
Institut Français au Portugal, Le Cercle Culturel Camoens Faro, s/l, Ed. du Bulletin d'Etudes Portugaises, 1941, p. 2.
[4] Aproveito para explicar agora essa origem. Segundo reza a tradição, naquela casa viveu o compositor Militão Coelho que sendo um musicólogo verdadeiramente genial, era também uma pessoa muito livre e atreita a compromissos ou a qualquer tipo de sujeição. Por vezes ficava dias sem sair á rua, outras vezes saía de Faro e só aparecia passados vários meses. Ora aconteceu que em determinada altura ficou noivo de uma senhora de Faro, de boas famílias, com a qual casou talvez um pouco precipitadamente. Pelo seu feitio, livre e distraído, parece que não fazia a senhora muito feliz. Até que um dia, sem que nada o fizesse prever, foi para Lisboa e nunca mais voltou para a sua casa de Faro. Numa cidade provinciana este exemplo de abandono do lar conjugal causou o maior escândalo. Não sei se com verdade ou se por pena da esposa preterida, o certo é que o povo deu em chamar àquela belíssima residência no antigo Largo da Alagoa, como o “Palácio das Lágrimas”, pois que supostamente a senhora passava os seus dias a carpir a chamada “viuvez de vivo”.
[5] O cartaz de Hélène de Beauvoir apresentava ao centro uma criança a cantar, ladeada por três anjos e três jovens tambores, enquanto o de Tóssan mostrava uma criança ajoelhada com a seguinte legenda: «Meu Deus faz com que o papá me compre um bilhete para ir ouvir os pequenos cantores».
[6] Vieram a Faro camionetas de Loulé (duas), Olhão e São Braz de Alportel. O espectáculo que contou com a presença do bispo D. Marcelino Franco, foi apresentado pelo Dr. Mário Lyster Franco, que pronunciou um brilhante discurso, e a organização esteve a cargo do Dr. Joaquim Magalhães, Aleixo da Cunha, Carlos Porfírio e Lionel de Roulet.
[7] Vide José Carlos Vilhena Mesquita, História da Imprensa do Algarve, 2 vols. , Faro, Ed. da Comissão de Coordenação da Região do Algarve, 1988-1989, vol. I, pp. 102-104.
[8] «Em Faro, capital do sul, acaba de nascer uma revista que se propõe exprimir as afinidades profundas de Portugal e da França. E, por isso, escolheu o título “Afinidades”. Entre outras actividades propõe-se esta revista manter o público ao corrente dos mais recentes movimentos literários, artísticos e científicos franceses e relacionar oportunamente o passado cultural comum aos dois países. Nas grandes crises espirituais que periodicamente nos arrancam à nossa quietude, habituamo-nos a voltar-nos para a França (...) Qual será a contribuição francesa para o novo humanismo em formação ? É este o inquérito que “Afinidades” tem como próximo e primacial objectivo.
E é neste espírito que trabalha um grupo de colaboradores portugueses e franceses. O Dr. Fernandes Lopes, que dirige a revista, é um notável exemplo destes homens, cuja cultura é tão vasta que abrange as riquezas espirituais de duas nações. Este primeiro número é um êxito completo.
Sob a capa cor de creme, ornada de uma vinheta de estilo medieval, símbolo da amizade luso-francesa, encontramos uma apresentação agradável e variada com belas gravuras, sugestivas reproduções e 96 páginas de texto...»
In «Correio do Sul», semanário de Faro, n.º 1333 de 1-11-1942.
[9] Cf. A Força das Coisas, Amadora, Livraria Bertrand, 1978, p. 41.
[10] Vide «Correio do Sul», n.º 1451 de 8-3-1945.
[11] In «O Algarve», de 25-3-1945.
[12] In A Força das Coisas, op. cit., pp. 39-40.
[13] In Idem, p. 38.
[14] In Idem, p. 40.
A sua conferência, pronunciada a 9 de Março pelas 21,30 na sede do Instituto Francês em Faro[10], obteve da imprensa local elogiosas referências. Vejamos um exemplo:
«Na Delegação do Instituto Francês em Faro, sob a presidência do Sr. Governador Civil (Dr. Antero Cabral) ladeado pelas autoridades locais, realizou a sua anunciada conferência sobre “A Vida Literária em França, da Ocupação à Libertação”, a distinta professora e publicista Simone de Beauvoir que foi apresentada pelo Prof. Lionel de Roulet.
A conferente que durante duas horas teve o condão de prender a atenção do auditório, sem o fatigar, fez uma brilhante prelecção e conseguiu comover e emocionar o seu numeroso auditório. O Sr. Governador Civil, agradecendo, extraiu o significado da lição de patriotismo dada pela França e posta em relevo pela conferente.
No final houve uma recepção íntima nas dependências da Pensão Sota, sendo exibidos bailados regionais algarvios e trocados afectuosos brindes».[11]
O clima hostil aos ideais democráticos que se vivia no país deve ter, pelo menos parcialmente, comedido a agressividade política da sua palestra. Simone de Beauvoir vinha distinguida como primeira enviada intelectual duma França renovada e livre, e apesar de se confrontar com uma audiência aburguesada, acomodada e protectora do Estado Novo, nem por isso deixou de atacar a ferocidade nazi e o demoníaco holocausto perpetrado nos campos de concentração:
«... não me amedrontava falar; mas havia uma distância, que por vezes me desencorajava, entre a experiência que evocava e o público. Este vinha escutar-me por ociosidade, snobismo e frequentemente, com malevolência: muitos auditores conservavam total afeição pelo fascismo; a sala manteve-se gelada; ninguém queria acreditar nos campos, nas execuções e nas torturas; quando me levantei, o agente consular disse-me:Pois bem, agradeço-lhe por ter contado estas coisas, que ignorávamos completamente».[12]
A ideia que Simone de Beauvoir levou do nosso país não foi a mais favorável e embora se referisse ao Algarve com algum pictorismo, o certo é que também não lhe escaparam os pormenores de desolação e pobreza que então grassavam nas classes rurais, por serem as mais desprotegidas:
«...Vi uma terra de cores africanas, florida de mimosas e eriçada de agaves, falésias abruptas chocando com um oceano tranquilizado pela doçura do céu, aldeias caiadas de branco, igrejas de um barroco mais circunspecto que o de Espanha; (...) De longe a longe avistava grupos de homens e mulheres curvados para o solo, que sachavam num movimento ritmado: vermelhas, azuis, amarelas, laranja, as roupas brilhavam ao sol. Mas já não me deixava iludir; havia uma palavra que começava a medir o peso: a fome. Sob os tecidos coloridos, aquelas pessoas tinham fome; andavam descalças, cara fechada; e nas aldeias falsamente graciosas, reparei nos seus olhares hebetados; debaixo do sol esmagador, queimava-os um desespero selvagem».[13]
Durante a sua estadia percorreu o país de norte a sul. Gostou do Minho, apreciou os nossos vinhos, o artesanato, os costumes etnográficos, as feiras, o mar e a gastronomia. Mas por todo o lado o seu olhar forasteiro tecia impiedosas críticas à frugalidade em que viviam as camadas populares. Impressionaram-na os inúmeros pedintes, na sua maioria crianças que apresentavam sinais de evidente desnutrição. «O povo era deliberadamente mantido na porcaria e na ignorância»[14], conclui Simone de Beauvoir.
De qualquer modo, a visita foi compensadora para a escritora francesa, mercê da compensação financeira de que foi dotada a sua deslocação, podendo assim dar-se ao luxo de adquirir imenso vestuário, algum calçado e saborear pitéus, que em França o clima de guerra tornara de todo impensáveis.
Ao longo das suas memórias denota não só um acerado espírito crítico – por vezes injusto e até exagerado – como também um intrínseco burguesismo (chegou inclusivamente a comprar um casaco de peles, sapatos de fina pelica e meias de vidro), atitude que contrariava as suas ideias políticas, mas que se devem desculpar a uma mulher que, apesar de tudo, não gostava que lhe chamassem vaidosa.
Os tempos passaram e com eles despontou o reconhecimento público do seu inigualável talento literário, demonstrado pela sua numerosa lista de obras, que lhe granjearam desafogados meios de sobrevivência, um carisma e uma invejável celebridade. Após o desaparecimento de Jean-Paul Sartre (seu marido à hora da morte), viveu despreocupadamente os anos que ainda lhe restavam, de certo modo já afastada daquela atribulada e sensacional vida cultural, que pela sua obra deixou vincadas marcas na intelectualidade francesa e nas gerações europeias contemporâneas.
Mas no remanso da sua acolhedora residência, preenchida de fabulosas recordações dum passado a todos os títulos brilhante, certamente já não se lembrava daquela auspiciosa primavera de 1945, nem daquele deslumbrante Algarve de «falésias abruptas chocando com um oceano tranquilizado pela doçura do céu». E o Algarve esta hoje tão diferente... A vida passa... mas ficam as recordações.
NOTAS
[1] Pintor e cineasta, Carlos Filipe Porfírio nasceu em Faro a 29-3-1895 e faleceu nesta cidade a 25-11-1970. Herdou os seus dotes de artista do pai, José Filipe Porfírio (pintor, decorador e conservador do Teatro Lethes), estudou nas Belas Artes e conviveu de perto com os homens do «Orpheu». Em 1917 surge na direcção da revista «Portugal Futurista», cuja edição de 10.000 exemplares foi em grande parte apreendida pela polícia. Viajou pela Europa e fixou-se em Paris, onde estudou com artistas famosos. Em 1918 realizou em Faro um exposição de parceria com Jorge Barradas, Lyster Franco e Raul Carneiro. Foi o mentor da página futurista do jornal farense «O Heraldo», dirigido pelo pintor Lyster Franco. No salão da «Ilustração Portuguesa» realizou ao 3-2-1923 uma exposição de assinalável êxito. Com o enteado Lionel de Roulet fundou o Círculo Cultural Camões, em Faro, e já em Lisboa notabilizar-se-ia como cineasta ao realizar os filmes Um Grito na Noite, que obteve grande sucesso, e Sonho de Amor. Entretanto em 1940, por ocasião das Comemorações dos Centenários, promoveu a memorável Exposição Regional Algarvia. Mas a sua obra imortal foi, sem sombra de dúvida, o excelente Museu Etnográfico por ele instituído em Faro e para o qual pintou excelentes quadros retratando as lendas algarvias, os costumes populares e as festas religiosas. Acometido por grave enfermidade na garganta, passou os últimos anos de vida completamente afónico e impossibilitado de comunicar com os seus inúmeros amigos e admiradores. Faleceu vítima de um enfarte do miocárdio.
[2] Não tenho a certeza desta filiação, muito embora o Prof. João Medina, baseado em informações cedidas pelo Dr. Joaquim Magalhães, a dê como certa e verosímil.
[3] Neste centro de cooperação intelectual e de formação cultural pretendiam-se atingir objectivos à escala regional, nacional e universal:
«Sur le plan régional il s'appliquera à mieux faire connaître tout ce qui concerne l'Algarve, tous les traits qui font sa personnalité géographique et historique. Il créera une ambiance favorable capable de stimuler les créateurs ou les chercheurs qui se trouvent dans cette province. Il pourra même avoir un certain rôle social (...)
Sur le plan national, il s'agira surtout de faire connaître à la province les personnalités qui font la gloire de la science des lettres ou des arts portugais, au moyen des conférences, d'expositions, de concerts, etc...
Le plan de l'information en général concerne toutes les questions d'ordre culturel. Mais sont spécialement prévus: des cours de vulgarisation scientifique sur le thème: "Histoire des découvertes qui firent le monde modern; lumière électrique, photographie, T.S.F., aviation, etc" et des conférences destinées à procurer une représentation de l'Univers conforme aux derniers données de la science: astronomie, physique, etc...»
Institut Français au Portugal, Le Cercle Culturel Camoens Faro, s/l, Ed. du Bulletin d'Etudes Portugaises, 1941, p. 2.
[4] Aproveito para explicar agora essa origem. Segundo reza a tradição, naquela casa viveu o compositor Militão Coelho que sendo um musicólogo verdadeiramente genial, era também uma pessoa muito livre e atreita a compromissos ou a qualquer tipo de sujeição. Por vezes ficava dias sem sair á rua, outras vezes saía de Faro e só aparecia passados vários meses. Ora aconteceu que em determinada altura ficou noivo de uma senhora de Faro, de boas famílias, com a qual casou talvez um pouco precipitadamente. Pelo seu feitio, livre e distraído, parece que não fazia a senhora muito feliz. Até que um dia, sem que nada o fizesse prever, foi para Lisboa e nunca mais voltou para a sua casa de Faro. Numa cidade provinciana este exemplo de abandono do lar conjugal causou o maior escândalo. Não sei se com verdade ou se por pena da esposa preterida, o certo é que o povo deu em chamar àquela belíssima residência no antigo Largo da Alagoa, como o “Palácio das Lágrimas”, pois que supostamente a senhora passava os seus dias a carpir a chamada “viuvez de vivo”.
[5] O cartaz de Hélène de Beauvoir apresentava ao centro uma criança a cantar, ladeada por três anjos e três jovens tambores, enquanto o de Tóssan mostrava uma criança ajoelhada com a seguinte legenda: «Meu Deus faz com que o papá me compre um bilhete para ir ouvir os pequenos cantores».
[6] Vieram a Faro camionetas de Loulé (duas), Olhão e São Braz de Alportel. O espectáculo que contou com a presença do bispo D. Marcelino Franco, foi apresentado pelo Dr. Mário Lyster Franco, que pronunciou um brilhante discurso, e a organização esteve a cargo do Dr. Joaquim Magalhães, Aleixo da Cunha, Carlos Porfírio e Lionel de Roulet.
[7] Vide José Carlos Vilhena Mesquita, História da Imprensa do Algarve, 2 vols. , Faro, Ed. da Comissão de Coordenação da Região do Algarve, 1988-1989, vol. I, pp. 102-104.
[8] «Em Faro, capital do sul, acaba de nascer uma revista que se propõe exprimir as afinidades profundas de Portugal e da França. E, por isso, escolheu o título “Afinidades”. Entre outras actividades propõe-se esta revista manter o público ao corrente dos mais recentes movimentos literários, artísticos e científicos franceses e relacionar oportunamente o passado cultural comum aos dois países. Nas grandes crises espirituais que periodicamente nos arrancam à nossa quietude, habituamo-nos a voltar-nos para a França (...) Qual será a contribuição francesa para o novo humanismo em formação ? É este o inquérito que “Afinidades” tem como próximo e primacial objectivo.
E é neste espírito que trabalha um grupo de colaboradores portugueses e franceses. O Dr. Fernandes Lopes, que dirige a revista, é um notável exemplo destes homens, cuja cultura é tão vasta que abrange as riquezas espirituais de duas nações. Este primeiro número é um êxito completo.
Sob a capa cor de creme, ornada de uma vinheta de estilo medieval, símbolo da amizade luso-francesa, encontramos uma apresentação agradável e variada com belas gravuras, sugestivas reproduções e 96 páginas de texto...»
In «Correio do Sul», semanário de Faro, n.º 1333 de 1-11-1942.
[9] Cf. A Força das Coisas, Amadora, Livraria Bertrand, 1978, p. 41.
[10] Vide «Correio do Sul», n.º 1451 de 8-3-1945.
[11] In «O Algarve», de 25-3-1945.
[12] In A Força das Coisas, op. cit., pp. 39-40.
[13] In Idem, p. 38.
[14] In Idem, p. 40.
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