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quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Êxodos dantescos e guerras imperialistas: Crimes do capitalismo











































"Tenta-se esconder que o saqueio e as denominadas “guerras humanitárias” perpetradas pela UE e os Estados Unidos contra a África, têm como lógica consequência o êxodo massivo. Os grandes capitalistas impõem midiaticamente uns bodes expiatórios para ocultar as verdadeiras causas do êxodo. Responsabilizam pela contínua tragédia do Mediterrâneo e do Atlântico as supostas “máfias” de transporte de pessoas, quando se sabe que em muitas ocasiões o suposto “mafioso” não é outra coisa que um pescador que já não pode sobreviver da pesca em um mar saqueado pela ação das grandes transnacionais; um pescador reconvertido em condutor de embarcações que, clandestinamente, tentam passar pelas fronteiras da Europa-Fortaleza. Inclusive, ainda que muitos transportadores destas viagens clandestinas se aproveitem das pessoas em situação de êxodo, não podem ser tidos como os responsáveis por esta tragédia, por estes crimes de lesa humanidade, a menos que se queira encobrir os verdadeiros responsáveis. Na ONU apresentaram como “solução” outro plano militar. O fascismo avança como ferramenta para a manutenção do capitalismo."


Continua o crime de lesa humanidade que o capitalismo e a UE estão perpetrando contra dezenas de milhares de pessoas forçadas a migrar, gerando uma terrível catástrofe, ante a qual não podemos ficar calados, e ante a qual não podemos cometer a obscenidade de adotar por certas as teorias falaciosas que tentam culpar supostas “máfias” pelo drama.

Culpar as supostas “máfias de migrantes” é tentar encobrir os verdadeiros responsáveis. O capitalismo é o responsável por esta tragédia: os que lucram com o suor alheio e com o saqueio do planeta. As transnacionais ampliam suas fortunas na base da tortura dos povos: viabilizam o saqueio mediante guerras imperialistas e o paramilitarismo. 85 multimilionários possuem uma riqueza igual à riqueza compartilhada pela metade da população do planeta (1); 3.570 milhões de pessoas que sobrevivem exploradas em buracos, tendo que comer os lixos, tendo que vender seus órgãos ou seu sangue, tendo que prostituir-se desde a infância, ou tendo que empenhar-se em êxodos terríveis, cujo resultado não será outro que a morte por afogamento em vida, tendo que padecer com a exploração extrema na Europa-Fortaleza, em caso de sobreviver à viagem.

1. Uma catástrofe descomunal: uma crise de refugiados do saqueio capitalista e das guerras imperialistas

Milhares de pessoas perderam a vida no Mediterrâneo só no ano de 2015 na tentativa de chegar à Europa: concretamente, trinta vezes mais em comparação com o mesmo período do ano passado. A Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) estima em 137.000 o número de migrantes que chegaram durante os seis primeiros meses de 2015 às costas europeias, após cruzar o Mediterrâneo. Em 2014, a Itália resgatou não menos que 170.000 pessoas; um aumento de 277% a respeito de 2013 (2). “A grande maioria das milhares de pessoas que fez a perigosa viagem por mar nos seis primeiros meses de 2015, fugia da guerra, do conflito ou da perseguição. Isso converte a crise no Mediterrâneo em uma crise dos refugiados”, expressou a ACNUR em seu último informe (3). “Os óbitos aumentam significativamente no segundo semestre do ano, durante os meses do verão; se espera que continuem aumentando” (Ibid.). Aproximadamente 90 mil pessoas cruzaram a Europa entre 1° de julho e 30 de setembro de 2014 e, ao menos, 2.200 perderam a vida.

As vítimas “registradas” são somadas às desaparecidas, aquelas cujos cadáveres não são encontrados. E as vítimas do êxodo por saqueio que falecem no Mediterrâneo precisam ser somadas às milhares de vítimas no deserto. A elas somam-se as vítimas assassinadas nas cercas de Ceuta e Melilla e nos centros de “internamento”.

Existe um aumento no êxodo, com tragédias como a das mil mortes em uma semana, no mês de abril de 2015 (4). São pessoas fugindo da miséria na qual o saqueio é perpetrado pelo grande capital, que submete a África. Seguem a rota que previamente seguiram as imensas riquezas extraídas de seus países. O continente africano padece novas perdas com esta tragédia: perde juventude com tudo que isso implica para a sociedade. Os familiares das vítimas nunca saberão o que ocorreu com seus entes queridos, pois nem todos os cadáveres são recuperados, e os que são recuperados são enterrados como indigentes na maior parte das vezes.

2. A desculpa das “máfias”: cai como uma luva para encobrir os saqueadores

Tenta-se esconder que o saqueio e as denominadas “guerras humanitárias” perpetradas pela UE e os Estados Unidos contra a África, têm como lógica consequência o êxodo massivo. Os grandes capitalistas impõem midiaticamente uns bodes expiatórios para ocultar as verdadeiras causas do êxodo. Responsabilizam pela contínua tragédia do Mediterrâneo e do Atlântico as supostas “máfias” de transporte de pessoas, quando se sabe que em muitas ocasiões o suposto “mafioso” não é outra coisa que um pescador que já não pode sobreviver da pesca em um mar saqueado pela ação das grandes transnacionais; um pescador reconvertido em condutor de embarcações que, clandestinamente, tentam passar pelas fronteiras da Europa-Fortaleza. Inclusive, ainda que muitos transportadores destas viagens clandestinas se aproveitem das pessoas em situação de êxodo, não podem ser tidos como os responsáveis por esta tragédia, por estes crimes de lesa humanidade, a menos que se queira encobrir os verdadeiros responsáveis. Na ONU apresentaram como “solução” outro plano militar. O fascismo avança como ferramenta para a manutenção do capitalismo.

3. Nova operação militar europeia contra a Líbia, com um pretexto banal

A operação militar europeia leva o nome EUNAVFOR MED e atua pela OTAN (5). Possui um orçamento de 11,82 milhões de euros para os dois primeiros meses e, a princípio, se manterá durante um ano (6). Cinco navios de guerra, dois submarinos, seis aviões e helicópteros, dois Drones e aproximadamente 1.000 militares europeus começam a avançar pelas águas internacionais próximas à Líbia (Ibid.).

Trata-se da primeira missão militar que a UE coloca em marcha sob o pretexto de “desmantelar as máfias que traficam com migrantes”. Os ministros europeus aprovaram o projeto militar em junho. No momento, esta nova agressão europeia contra a Líbia não conta com uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que permita entrar no território líbio, graças ao fato da Rússia ter se mantido firme em sua oposição a uma nova intervenção na Líbia e à destruição militar de barcos. A Rússia exige obter a solicitação prévia de um Governo de unidade líbia. O enviado especial das Nações Unidas para a Líbia, Bernardino León, há meses tenta, porém os líbios resistem em dar um aval para uma nova invasão. “Fontes da diplomacia europeia confiam na possibilidade de darem o aval à operação na Líbia com o Governo de Tobruk” (Ibid.), internacionalmente reconhecido para que sirva a estes fins belicistas. Uma dezena de Estados europeus participará da operação contra a Líbia, entre eles: Espanha, Reino Unido, Alemanha, França e Itália. Os militares estão preparados para passar da “coleta de informações” à etapa de apreensão de barcos em águas internacionais e na zona territorial líbia. Em uma terceira fase, “inutilizariam” barcos sob o pretexto de ser de supostos “traficantes”. Tudo isso permitiria uma nova presença militar em território líbio.

Várias vozes se elevam contra esta operação militar, como a de vários sindicatos: “Não estamos de acordo com medidas de tipo militar como o bombardeio das embarcações. Além de colocar em risco a vida dos migrantes, cerceia o direito de escapar de uma situação dramática e solicitar o status de refugiado” (7). Reclamam: “Voltar a implantar o programa humanitário e de resgate Mare Nostrum 1 (*), desta vez com o apoio logístico e econômico dos países da UE. (…) É preciso criar corredores humanitários para os migrantes que fogem de situações de violência, perseguição e guerra, priorizando a atenção às pessoas que solicitam o status de refugiado” (Ibid.).

4. O Atlântico: a maior dificuldade imposta nas rotas migratórias, maior quantidade de desaparecidos

Esta iniciativa militar contra a Líbia é alheia a Frontex, que agora conta com um orçamento triplicado para os dois programas do Mediterrâneo (Tritão e Poseidon): estes programas têm um enfoque repressivo, de “defesa” das fronteiras europeias, que torna mais difícil as rotas de migração, aumentando assim a periculosidade das mesmas.

Por causa da repressão, nas rotas do océano Atlântico as saídas de embarcações se fazem cada vez mais ao sul; saindo agora do Senegal, quando antes saíam do Marrocos ou Mauritânia, o que aumenta os dias de viagem em alto mar e submete as pessoas migrantes a um perigo ainda maior de ser arrastadas pelas correntes marítimas. O oceano Atlântico é outro imenso cemitério de mulheres e homens falecidos tentando buscar uma saída para sobreviver às condições de miséria causadas pelo saqueio capitalista: ali os desaparecimentos são dantescos, dado que as pessoas são arrastadas à metade do Atlântico, falecendo de sede e fome, nas condições de tortura a que são obrigadas pelas novas rotas migratórias que impõe a Europa-Fortaleza (8). A Ditadura do Capital obriga as pessoas a empreender êxodos terríveis, em condições de perigo extremas.

5. A agressão contra a Líbia em 2011: a serviço do Grande Capital Transnacional

A tragédia do falecimento de milhares de pessoas oriundas da Líbia é também uma das consequências da invasão contra a Líbia, perpetrada pela OTAN em 2011. A invasão da Líbia foi uma intervenção a serviço do Grande Capital Transnacional, empreendida com a ajuda de mercenários paramilitares infiltrados na Líbia a partir dos serviços secretos europeus e estadunidenses. Esta invasão se articulou com a total cumplicidade do aparato midiático do capitalismo transnacional, que chamavam os paramilitares mercenários de “rebeldes” com a finalidade de justificar a invasão e genocídio contra o povo líbio e seu governo de então. Durante o governo de Kadaffi, a Líbia era o país com o maior nível de vida da áfrica; razão pela qual na Líbia se estabeleceram muitíssimos africanos de outras regiões. Estes africanos hoje se somam aos que tentam chegar à Europa-Fortaleza: a essa UE que saqueia as riquezas da África, porém depois não quer as pessoas.

A Líbia foi o alvo da cobiça capitalista por várias razões: tem em sem solo um petróleo dos mais leves do mundo e um potencial produtivo estimado em mais de 3 milhões de barris diários. Desde 2009, Kadaffi adiantava um plano para nacionalizar o petróleo líbio. O plano de nacionalização foi impedido por opositores no próprio seio do governo. Muitos destes opositores à nacionalização assumiram o papel de “chefes rebeldes” a serviço dos interesses transnacionais.

Além de a Líbia possuir uma imensa reserva hídrica subterrânea estimada em 35.000 quilômetros cúbicos de água, que constitui o Sistema Aquífero Núbio de Arenito (NSAS, sigla em inglês), a maior reserva fóssil de água do mundo. Nos anos oitenta, a Líbia iniciou um projeto de grande escala de abastecimento de água: o Grande Rio Artificial da Líbia, considerado um dos maiores projetos de engenharia, que provinha água a partir dos aquíferos fósseis. O sistema uma vez finalizado cobriria a Líbia, Egito, Sudão e Chade, potencializando a segurança alimentar de uma região afetada pela escassez de água para cultivos. Isso evitaria que esses países recorressem aos fundos do FMI: algo que se oporia à aspiração do monopólio global dos recursos hídricos e alimentares por parte do Ocidente.

Por outro lado, a Líbia possuía 200 bilhões de dólares de reservas internacionais que foram confiscados por seus agressores.

Depois da agressão imperialista, a Líbia ficou destruída, sem infraestrutura aquífera nem rodoviária, nem escolas, nem hospitais, já que até estes foram bombardeados. Antes da invasão imperialista, na Líbia as mulheres viviam com muito mais liberdade que em outros países da região; após a invasão, uma das primeiras medidas do governo de mercenários enaltecido pela OTAN, foi decretar a lei da Sharia, atrozmente cruel com as mulheres, tudo sob os aplausos da UE e dos EUA. Outra das consequências da invasão à Líbia é o surgimento de grupos de terrorismo paramilitar em diferentes países da região: os mercenários empregados pelos serviços secretos europeus e estadunidenses se reciclam em outras operações do terror. Destas operações surge o Estado Islâmico.

A Líbia foi torturada pelo que a falsa mídia teve o cinismo de chamar de “bombardeios humanitários”. Uma absurda operação do imperialismo com vistas à apropriação dos recursos líbios.

6. As 10 pessoas mais ricas da Europa, a capitalização da riqueza e a fábula das “ajudas

A riqueza das 10 pessoas mais ricas da Europa equivale a 217 bilhões de euros e supera a “ajuda” total que a Europa diz dar aos países empobrecidos (8). Países empobrecidos precisamente pela ação de multinacionais que saqueiam e exploram sob a proteção de regimes mantidos mediante a repressão e o extermínio dos opositores políticos, quando não de golpes e genocídios impulsionados diretamente dos serviços secretos e militares dos Estados Unidos e da UE. Multinacionais cujos maiores acionistas não são outros que os detentores dessas grandes fortunas da Europa e do mundo. Resta dizer que muitas dessas grandes fortunas se consolidaram graças à deportação e escravização de africanos, graças ao saqueio colonial e graças ao atual saqueio imperialista.

E quanto à suposta “ajuda”, falta dizer que essa “ajuda” provavelmente é ineficiente: posto que as somas são dirigidas a investimentos decididos pelos que as outorgam, destinando-as, na maioria das vezes, a quebrar o campesinato local, a fortalecer mecanismos de submissão econômica e de dependência, a financiar grandes contratos que reinvertem as somas no capitalismo metropolitano (mediante a aquisição de maquinário cujas peças criam vínculos de dependência, mediante a aquisição de sementes transgênicas, mediante a introdução de costumes alimentares que contribuam para quebrar toda soberania alimentar, mediante a imposição de modelos produtivos, etc). A suposta “ajuda” também é destinada a fortalecer projetos cívicos articulados para amparar projetos militares, projetos funcionais de cooptação política, a fortalecer ONGs em detrimento da luta popular, e a fortalecer especificamente certas ONGs em detrimento de outras, sendo sempre um condicionante para que estas se dobrem a adoção das linhas impostas pelos think tanks funcionais à manutenção do sistema capitalista. Isso para não mencionar os interesses de grande parte da “ajuda”.

7. Dramáticos êxodos populacionais: consequências do sistema capitalista

Os êxodos populacionais, tanto da África e da Ásia para Europa, como da América Latina para os Estados Unidos (essencialmente), continuarão aumentando enquanto permanecer o saqueio capitalista. Milhões de seres humanos se veem obrigados a migrar para que suas famílias possam sobreviver. E a este drama da desintegração familiar e da remoção forçada, se somam as perigosíssimas condições do êxodo, produto das políticas migratórias dos países para os quais se dirigem as populações em êxodo que, não por acaso, são os mesmos países destinatários das riquezas saqueadas dos países de origem dos migrantes. As pessoas não vão para o “sonho” europeu ou estadunidense, fogem do pesadelo no qual as transnacionais se converteram em todo o planeta: continuam a rota que previamente seguiram as imensas riquezas extraídas de seus países. Porém, os países da metrópole capitalista querem as riquezas, mas não as pessoas.

Este sistema funciona na base do saqueio e da exploração, e produz incessantes guerras imperialistas e regimes a serviço do grande capital que não vacilam em agredir as populações das zonas cobiçadas, mediante seus exércitos oficiais, ou a implantação do paramilitarismo (ferramenta do Terrorismo de Estado). E são as lógicas inerentes ao capitalismo as que produzem leis migratórias cínicas e desumanas, e que produzem também grupos que se aproveitam das pessoas em situação de extrema vulnerabilidade. Já abordamos o exagerado tema das “máfias”, assinalando que muitos transportadores não são outra coisa que pescadores sedentos por redes de arrasto, que também colocam suas vidas em perigo. Apontamos que, inclusive considerando os transportadores que exploram os migrantes nessas rotas do êxodo, se deve incluir o fenômeno no contexto que o gera e não usá-lo como bode expiatório para isentar os verdadeiros responsáveis por este drama. O fenômeno de exploração dos migrantes é inerente ao próprio sistema. Existem grupos criminosos que sequestram migrantes na rota que passa pela América Central para os Estados Unidos, para pedir recompensas a suas famílias, para escravizá-los sexualmente ou extrair órgãos para o tráfico de órgãos. A cumplicidade da polícia não é casualidade: o “negócio” é o que prima no sistema capitalista. Da mesma forma abundam os exploradores dos imigrantes uma vez na Europa: aproveitando-se de sua condição de “ilegais” para cobrar aluguéis inflacionados, explorando-os com salários mais miseráveis ainda que o dos “legais”, ou em troca de comida pelo modo de escravidão, explorando-os sexualmente, etc. Toda essa barbárie é inerente ao capitalismo.

É importante lutar contra um sistema que produz barbárie. E é um imperativo ético combater o uso de bodes expiatórios para viabilizar mais guerras imperialistas e ocultar os verdadeiros responsáveis pelo colapso humanitário: os grandes capitalistas. É hora de compreender onde estão as causas e onde estão as consequências, e deixar de aceitar a obscenidade que consiste em tentar inverter virtualmente as causas e as consequências. Milhares de olhos de mulheres, homens e crianças estão nos olhando da espuma do mar: vítimas do sistema capitalista, de uma barbárie que se tenta cobrir e perpetuar com cinismo.



Cecilia Zamudio, 

mafarricovermelho.blogspot.pt

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