A aldeia da Indonésia onde se dança o vira e se canta em português
http://www.vortexmag.net
Quando os holandeses conquistaram a cidade de Malaca a Portugal, em 1641, escravizaram os sobreviventes portugueses e os seus descendentes que viviam nesta cidade malaia.
Alguns destes escravos foram a seguir levados para a cidade de Jacarta, que os holandeses crismaram de Batavia (nome que os antigos romanos haviam dado à Holanda) e da qual fizeram o principal centro de actividades da Companhia Holandesa das Índias Orientais.
Aos escravos portugueses e mestiços trazidos de Malaca, vieram juntar-se outros portugueses e respectivos descendentes, capturados e escravizados na Índia, Ceilão e outras paragens.
Em Jacarta, os holandeses esforçaram-se por eliminar as marcas culturais portuguesas que estes escravos traziam, obrigando-os a adoptar nomes holandeses ou, pelo menos, com uma sonoridade holandesa, e forçando-os a trocar a fé católica pelo calvinismo.
Obrigaram-nos ainda a viver num pedaço de terra situado a 10 km do centro da velha Batavia, chamado Tugu (Toegoe na ortografia holandesa), que agora se chama Kampung Tugu.
Os escravos portugueses e mestiços de Tugu foram libertados em 1661. Foram então chamados Mardijker, palavra que significa “Libertos” e que é originária do sânscrito. É desta que deriva a palavra que em língua indonésia significa “Liberdade”: Merdeka.
Apesar dos esforços feitos pelos holandeses no sentido de levar esta gente a perder a sua identidade própria, ela conservou-a até aos nossos dias, teimosamente. Estas pessoas continuam a acarinhar Portugal, trezentos e setenta anos depois de lhes terem cortado os laços que as uniam a este país, um país que elas não conhecem e que não esperam poder algum dia visitar, porque está no outro lado do mundo. Mas que é um país que elas também consideram seu.
Se dúvidas houver relativamente a este facto, elas certamente desaparecerão depois de se ver a reportagem que se segue, que é de uma estação de televisão indonésia. A reportagem está em indonésio, embora nela intervenham, em inglês, o embaixador de Portugal em Jacarta e uma leitora de português na universidade local. Mesmo que não se entenda uma única palavra da reportagem, as imagens são sobejamente eloquentes sobre os sentimentos dos Tugus relativamente a Portugal.
O idioma que se falava em Tugu era o Papiá Tugu, um crioulo de base portuguesa muito semelhante ao Papiá Cristão que ainda é falado em Malaca. Infelizmente já ninguém sabe falar Papiá Tugu em Jacarta, à excepção de algumas palavras avulsas. O último falante deste crioulo, Jacob Quiko, faleceu em 1978.
O Papiá Tugu subsiste apenas em alguns poemas e canções, como a canção que se pode ouvir nos vídeos que se seguem.
vídeos
Sem comentários:
Enviar um comentário