A questão grega
Os governos não existem: são pró-cônsules do império e mimetismos da senhora Merkel. O dr. Cavaco juntou-se aos intransigentes e decretou que não há excepções para os gregos. Os gregos continuam a dizer que estão permanentemente dispostos ao diálogo, sem que isso pressuponha terem de se humilhar ante os senhores da Europa. Não querem cortar nos salários e nas pensões, não querem aumentar os impostos ao nível da insanidade. Os gregos também querem decidir, e a verdade é que já condescenderam e abdicaram de muitas das suas concepções iniciais. Claro que neste conflito existe uma tenaz luta de classes. A Europa fraterna e solidária não existe nem nunca existiu. A princípio atirou umas migalhas para a periferia, e a periferia manifestou a sua gratidão, vergando-se ao novo esquema ideológico, saído de uma deformação moral.
O dr. Cavaco pertence a essa indignidade, que tem colocado a Alemanha numa hegemonia perversa e as nações pequenas numa absoluta servidão. Os governos não existem: são pró-cônsules do império, e mimetismos arrogantes da senhora Merkel. O pobre Hollande mete dó, impregnado do desejo de ser importante, não sendo mais do que aio subalterno da chanceler alemã.
Passos Coelho é outro que tal, e representa o que de pior existe no português obsequiador, dobrado ante a aparente superioridade do outro. O Syriza, rodeado de inimigos (até a pequenina Maria Luís se agiganta nesta indevida batalha), parece a imagem restituída de David enfrentando Golias.
Apesar de a Direita ter alcançado a supremacia política na União Europeia, acolitada por políticos de segundo plano, e apoiada pela grande finança, há quem não aceite nem admita a violência do trato. A questão não resulta de uma teimosia por parte dos gregos, mas sim de um conflito ideológico que pode reverter em uma situação de beligerância generalizada. A nenhum dos contendores interessa a saída da Grécia do euro. O efeito dominó seria provável, pois o descontentamento de muitos países europeus é uma evidência, e o desmantelamento da actual estrutura político-económica mais do que uma conjectura. A análise possível é a de que o braço-de-ferro terá uma solução aceitável, tendo em conta os estragos que uma solução inversa traria, sobretudo para a Alemanha. É extremamente curioso verificar como o poderio do império se transformou na sua própria armadilha.
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