A retórica do vazio
Ontem, assisti a um debate telivisivo centrado no tema candente do chamado segredo de justiça. De um lado, 3 meritíssimos de várias proveniências, um deles, talvez cinquentão, de lacinho e com gel a ordenar e a dar luzimento ao saraivado cabelo; do lado oposto, dois advogados e um jornalista. Como sempre, a habitual moderadora, um pouco amarelada (ou seria alaranjada?). Não fora o prof. Costa Andrade, a falar de Coimbra, com simplicidade e clarividência, o debate teria sido um mero exercício de banalidades, onde alguns tentavam deslumbrar, através da retórica, personificando uma pobre feira de vaidades, servida pelo tom empolado e vocabulário pretensamente rico e justiceiro, que parecia ressuscitar os "gargantas do Império" do antigo regime. Creio que, em geral, andamos muito mal servidos pelos representantes decisórios da justiça portuguesa...
Entretanto, e por outros lados, jornalistas menores e comentaristas medíocres, se na semana passada falavam, a propósito da Grécia, da 25ª hora, a partir de ontem, passaram a usar, num estertor sem nenhuma imaginação, a sigla 26ª hora. Enquanto os pivot televisivos, dia após dia, vão referindo, repetida e dramaticamente, em jeito de actores de telenovelas de segunda ordem: Amanhã será o dia decisivo!... O que se vai dizendo, no fundo, não tem importância nenhuma. Muitas vezes, nem sequer tem conteúdo.
Esta desadequação faz-me recordar um título de recensão a uma obra publicada que, nos anos 80, apareceu num jornal literário do Norte, subscrita por um plumitivo universitário pretensioso. Titulava ele o seu texto com um brilhante: "Inconcluso desejo no limiar do transe" (sic). Na altura, sei que me lembrei do coitus interruptus, embora ele não seja literário... Muito menos adequado a leitores inocentes. Que mais nos irá acontecer?
arpose.blogspot.pt
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