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quarta-feira, 3 de junho de 2015

A MORTE, O ASSASSINATO, O ÓDIO SEMPRE LIGADO A SEITAS E RELIGIÕES - Wirathu, o monge budista que apela ao genocídio dos rohingya na Birmânia

Wirathu, o monge budista que apela ao genocídio dos rohingya na Birmânia

O racismo contra uma etnia muçulmana birmanesa está a assumir proporções que não ficam atrás da aplicação das leis raciais nazis contra os judeus. E o seu porta-estandarte é um religioso.
Protestos na Indonésia contra o monge Wirathu BEAWIHARTA/REUTERS
A voz é tranquila, as palavras saem-lhe como um mantra repetido até se embalar a si próprio, e só os músculos retesados da face redonda deixam trair a violência do que diz o monge budista birmanês Ashin Wirathu: “Estamos a sofrer violações em todas as cidades, a ser sexualmente molestados em todo o lado, a ser agredidos por muçulmanos em toda a parte. Em todas as cidades são uma maioria bruta e selvagem
Os sermões racistas do influente Wirathu que caracterizam a minoria muçulmana como um perigo coincidiram com o início da onda de violência contra os rohingya, a minoria muçulmana a que o Estado birmanês retirou a cidadania em 1982. Em 2012, quando se deram os primeiros episódios graves de violência contra os rohingya, em Sittwe, e 140 mil pessoas foram obrigadas a fugir das suas casas, os discursos do monge gravados em DVD já eram distribuídos por todo o país. Em Sittwe, a maior parte das mesquitas da cidade foram incendiadas, e as zonas da cidade onde viviam muçulmanos foram completamente destruídas pelo fogo, transformadas em cinzas.
Wirathu tinha sido condenado em 2003 a 25 anos de prisão, por incitamento ao ódio religioso – as suas palavras tinham levado ao assassínio de uma família de dez pessoas, morta pelas chamas na sua própria casa na pequena cidade de Kiyauk Hse. Mas foi libertado numa das várias amnistias concedidas pela junta militar a partir de 2010 e tornou-se o líder do movimento 969, um grupo nacionalista radical que incita à violência contra os rohingya e ao boicote das empresas e lojas dos muçulmanos.


A prisão não fez abrandar o desprezo de Wirathu por esta minoria de pouco mais de um milhão de pessoas, que representa no máximo 5% da população birmanesa, mas que as Nações Unidas classificam como “a minoria étnica mais reprimida do mundo”.
Os rohingya são considerados estrangeiros, de etnia bengali porque a sua origem é o Bangladesh – mas vieram de lá no século XVI, numa primeira leva, e no século XIX, numa segunda onda migratória, desta feita incentivada pelos conquistadores britânicos. No entanto, apesar de terem raízes tão antigas na Birmânia, após a independência, e sobretudo depois do golpe militar de 1962, foram cada vez mais marginalizados. A partir de 1982, foram excluídos da lista de 135 etnias reconhecidas oficialmente na Birmânia e declarados apátridas. Aí radica a sua situação actual.
Não têm quaisquer direitos civis reconhecidos, nem sequer direito a um médico, ou a ir escola. Por isso tentam fugir em massa do país – e se tornaram protagonistas este mês de uma crise humanitária, com milhares de pessoas à deriva no mar, sem que nenhum país aceitasse recebê-las.
“Vão capturar o nosso país”
Apesar de ser um monge budista, de quem se espera ouvir mensagens de paz e tolerância, a sorte dos rohingya não inquieta Wirathu – aliás, não esconde que quer expulsá-los a todos do território birmanês ou eliminá-los, numa espécie de solução final. “Se não protegermos o nosso próprio povo tornar-nos-emos fracos, e vamos ter de enfrentar assassínios em massa, quando eles se tornarem tantos que nos vão ultrapassar”, disse a um jornalista da BBC.
A preocupação com a taxa de natalidade dos rohingya, superior à do resto da população, é uma constante no discurso do monge, que fala na “explosão populacional” dos muçulmanos birmaneses como um dado seguro, e que só pode ter um resultado: “Vão acabar por capturar o nosso país”, disse aoGuardian. Por isso tem feito lobby durante os últimos anos – e conseguiu, recentemente, fazer aprovar uma lei sobre o controlo da natalidade que gerou protestos internacionais, por se considerar que está redigida de forma a ser usada contra as minorias.
A lei aprovada a 14 de Maio prevê que os governos dos 14 estados e regiões birmanesas possam requisitar uma ordem presidencial para “organizar” as mulheres para que tenham um intervalo de 36 meses entre o nascimento dos seus filhos, cumprindo o prazo recomendado pela Organização Mundial de Saúde para reduzir a mortalidade infantil. Mas, segundo o Guardian, a lei considera como motivos válidos para pôr em acção esta medida também “um elevado número de migrantes na área, um elevado crescimento populacional e uma alta taxa de natalidade”.
O uso destes argumentos faz temer que a lei seja usada sobretudo para controlar a natalidade da comunidade muçulmana – que já foi alvo de medidas semelhantes no passado.
“Neo-nazi”
“Os muçulmanos só se comportam bem quando estão fracos”, afirmou à BBC, olhando para um dos cartazes que forram os muros exteriores do seu mosteiro, em Mandalay, a segunda maior cidade birmanesa: todos mostram cenas de enorme violência que ele afirma ter sido praticada pelos rohingya, como corpos cobertos de sangue e templos destruídos. “Estas imagens estão aqui para protegermos a nossa religião e os nossos interesses nacionais”, disse calmamente à BBC. “Se nos tornarmos fracos não protegeremos o nosso povo. E se eles ficarem fortes são como lobos ou chacais, caçam em matilhas como outros animais.”

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