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sexta-feira, 20 de setembro de 2013

O homem que inventou Snowden e Manning está vivo — e livre Ele trabalhou para um órgão de defesa do governo americano. Ele vazou documentos de guerra ultrassecretos. Ele foi acusado de traidor. Ele foi perseguido e processado por dizer a verdade. Se você pensou em parar de ler esse post agora achando que não há novidade nenhuma pois estamos falando de Edward Snowden ou de Bradley Manning (ops, Chelsea, como ela quer ser chamada), espere mais um pouco. Esse cara não é nenhum deles. Ele fez tudo isso há mais de 40 anos.


O homem que inventou Snowden e Manning está vivo — e livre

Ele trabalhou para um órgão de defesa do governo americano.
Ele vazou documentos de guerra ultrassecretos.
Ele foi acusado de traidor.

Ele foi perseguido e processado por dizer a verdade.
Se você pensou em parar de ler esse post agora achando que não há novidade nenhuma pois estamos falando de Edward Snowden ou de Bradley Manning (ops, Chelsea, como ela quer ser chamada), espere mais um pouco. Esse cara não é nenhum deles.
Ele fez tudo isso há mais de 40 anos. Principal analista político de defesa do governo americano, Daniel Ellsberg foi um dos responsáveis pelo planejamento da expansão da guerra do Vietnã.
Para entender melhor a guerra, Ellsberg saiu de trás de sua mesa na RAND Corporation, uma organização de pesquisa e análise para as forças armadas financiada pelo governo americano, e foi até a linha de batalha empunhar uma metralhadora.
Foi ao Vietnã não como militar, e sim como civil.
Vestiu farda, tentou comandar ataques de infantaria em arrozais no delta no norte do país, mas acabou presenciando uma guerra inútil que matou mais de 50 mil americanos e mais de 2 milhões de vietnamitas (um genocídio de pelo menos 1 milhão de civis). Viu a farsa, voltou e decidiu não trabalhar mais para um governo que omitia informações, manipulava o público e mentia para o país.
Daniel Ellsberg foi julgado pelo ato de espionagem por entregar ao NY Times, em 1971, o que depois ficou conhecido como os Pentagons Papers: milhares de páginas com informações confidenciais sobre a guerra do Vietnã. O jornal relutou temendo o tribunal mas não deixou de publicar.
Apesar de todo o esforço de Nixon em desqualificá-lo (ou até por conta do esforço desmesurado do presidente em tentar censurar a imprensa), Ellsberg foi absolvido.
Para Nixon foi o início de seu fim. Para Ellsberg e seu país, a vitória da liberdade de expressão.
No documentário O Homem Mais Perigoso da América, disponível no Youtube com legendas em português, o próprio Ellsberg narra essa história. O nome do filme vem de um depoimento do poderoso conselheiro de Nixon, Henry Kissinger, que chamou Ellsberg de “o homem mais perigoso da América” e disse que ele “tinha que ser parado a qualquer preço”.
Em um formato clássico de documentários históricos podemos assistir à entrevistas com os principais personagens do episódio: autores dos Pentagons Papers, funcionários do governo, veteranos do Vietnã, ativistas anti-guerra e jornalistas que cobriram o fato. Além de gravações de conversas telefônicas entre Nixon e seus assessores, imagens da guerra e diversas outras cenas de arquivo.
Numa delas, após seu julgamento, um repórter pergunta à Ellsberg se ele havia se preocupado com a possibilidade de ir para a prisão pelo que tinha feito.
Ele responde com um tiro certeiro: “Você não iria para a prisão para tentar acabar com essa guerra?”
Ellsberg é um herói. Aos 83 anos ele afirma em uma matéria no jornal britânico The Guardian que o vazamento de informações da National Security Agency feito por Snowden é mais importante na história americana do que os Pentagons Papers.
Só que por enquanto as coisas são diferentes. Snowden é fugitivo, Manning é condenado e quem espiona é o Obama. Quem será o homem mais perigoso da América?

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