A consciência
O velho Sebastião sentava-se todos os dias numa cadeira de pau que tinha encostada à parede exterior da casa, junto à porta de entrada. Ficava ali observando a rua e quem por lá passava. Por vezes um ou outro vizinho parava junto dele e trocavam dois dedos de conversa. Depois seguiam caminho e ele mantinha-se ali, sentado, pensando na vida e lembrando-se do passado.
Havia assuntos de que ele não queria recordar-se mas que sistematicamente lhe vinham à memória. Abanava a cabeça tentando afugentar recordações que o embaraçavam, sabendo que já não poderia redimir-se junto de quem tanto havia prejudicado. Incomodado, acabava por se levantar de repente, recolhia a cadeira para dentro de casa e, ao olhar para o chão, via sempre um pequeno monte de detritos de uma cor que variava de dia para dia.
Intrigado e sem saber de onde surgia aquela espécie de serradura ia buscar uma vassoura e uma pá para a remover. O mais bizarro era que mal deitava fora aquela poeira desconhecida, o velho Sebastião esquecia-se do caso e só voltava a ficar preocupado com o estranho acontecimento no dia seguinte, quando encontrava nova serradura junto à cadeira onde passava os dias sentado, pensando no que tinha feito da vida.
Com o tempo começou a perceber que o volume de detritos acumulados diariamente junto à sua cadeira era tanto maior quanto mais se lembrava de uma injustiça que cometera na juventude. O velho Sebastião percebeu finalmente a razão do fenómeno. O facto é que, por não ter reconhecido a sua culpa quando devia, lhe roía agora a consciência. Roía-lhe de tal forma que se desfazia aos poucos aos pés da cadeira de pau onde se sentava todos os dias.
Publicada por luisa
aesquinadatecla.blogspot.pt
O velho Sebastião sentava-se todos os dias numa cadeira de pau que tinha encostada à parede exterior da casa, junto à porta de entrada. Ficava ali observando a rua e quem por lá passava. Por vezes um ou outro vizinho parava junto dele e trocavam dois dedos de conversa. Depois seguiam caminho e ele mantinha-se ali, sentado, pensando na vida e lembrando-se do passado.
Havia assuntos de que ele não queria recordar-se mas que sistematicamente lhe vinham à memória. Abanava a cabeça tentando afugentar recordações que o embaraçavam, sabendo que já não poderia redimir-se junto de quem tanto havia prejudicado. Incomodado, acabava por se levantar de repente, recolhia a cadeira para dentro de casa e, ao olhar para o chão, via sempre um pequeno monte de detritos de uma cor que variava de dia para dia.
Intrigado e sem saber de onde surgia aquela espécie de serradura ia buscar uma vassoura e uma pá para a remover. O mais bizarro era que mal deitava fora aquela poeira desconhecida, o velho Sebastião esquecia-se do caso e só voltava a ficar preocupado com o estranho acontecimento no dia seguinte, quando encontrava nova serradura junto à cadeira onde passava os dias sentado, pensando no que tinha feito da vida.
Com o tempo começou a perceber que o volume de detritos acumulados diariamente junto à sua cadeira era tanto maior quanto mais se lembrava de uma injustiça que cometera na juventude. O velho Sebastião percebeu finalmente a razão do fenómeno. O facto é que, por não ter reconhecido a sua culpa quando devia, lhe roía agora a consciência. Roía-lhe de tal forma que se desfazia aos poucos aos pés da cadeira de pau onde se sentava todos os dias.
Publicada por luisa
aesquinadatecla.blogspot.pt
Sem comentários:
Enviar um comentário