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sexta-feira, 31 de agosto de 2012


    A perseguição de Assange é um assalto à liberdade e um insulto ao
    jornalismo

    *por John Pilger *

    Britânicos em frente à Embaixada do Equador manifestam solidariedade
    para com Assange. A ameaça do governo britânico de invadir a embaixada
    equatoriana em Londres e ali capturar Julian Assange tem significado
    histórico. David Cameron, o antigo homem de RP de um bufarinheiro da
    indústria da televisão e vendedor de armas para xeques, está bem
    colocado para desonrar convenções internacionais que têm protegido
    cidadãos britânicos em lugares sublevados. Assim como a invasão do
    Iraque cometida por Tony Blair levou directamente aos actos de
    terrorismo de Londres em 7 de Julho de 2005, das mesma forma Cameron e o
    secretário do Exterior William Hague comprometeram a segurança de
    representantes britânicos em todo o mundo.

    Ao ameaçar abusar de uma lei concebida para expulsar assassinos de
    embaixadas estrangeiros, enquanto difama um homem inocente como "alegado
    criminoso", Hague fez pouco caso dos britânicos em todo o mundo, embora
    esta visão seja quase sempre ocultada na Grã-Bretanha. Os mesmos bravos
    jornalistas e radialistas que defenderam a actuação britânica em crimes
    sangrentos brutais, desde o genocídio na Indonésia até as invasões do
    Iraque e Afeganistão, agora atacam o "registo de direitos humanos" do
    Equador, cujo crime real é enfrentar os tiranos em Londres e Washington.

    É como se os felizes aplausos olímpicos houvessem sido subvertidos da
    noite para o dia por uma exibição reveladora de selvajaria colonial.
    Testemunha disso é o oficial do Exército britânico-repórter da BBC Mark
    Urban ao "entrevistar" um vociferante Sir Christopher Meyer, antigo
    apologista de Blair em Washington, do lado de fora da embaixada
    equatoriana, ambos a explodirem com indignação ultra-conservadora porque
    o insociável /(unclubbable) /Assange e o insubmisso Rafael Correa
    estariam a desmascarar o sistema de ocidental de poder. Afronta
    semelhante é vivida nas páginas do /Guardian, /o qual aconselhou Hague a
    ser "paciente" e disse que assaltar a embaixada traria "mais perturbação
    do que isso vale". Assange, segundo declarou o /Guardian, /não era um
    refugiado político porque "nem a Suécia nem o Reino Unido em caso algum
    deportariam alguém que pode enfrentar tortura ou pena de morte".

    A irresponsabilidade desta declaração vai a par com o pérfido papel do
    /Guardian /em todo o caso Assange. O jornal sabe muito bem que
    documentos divulgados pelo WikiLeaks indicam que a Suécia tem-se
    submetido sistematicamente à pressão dos Estados Unidos em matéria de
    direitos civis. Em Dezembro de 2001, o governo sueco revogou
    abruptamente o estatuto de refugiados políticos de dois egípcios, Ahmed
    Agiza e Mohammedel-Zari, que foram entregues a um esquadrão de sequestro
    da CIA no aeroporto de Estocolmo e levados /("rendered") /para o Egipto,
    onde foram torturados. Uma investigação do defensor sueco para a justiça
    /(ombudsman) /descobriu que o governo havia "violado gravemente" os
    direitos humanos dos dois homens. Num telegrama de 2009 de embaixada dos
    EUA obtido pela WikiLeaks, intitulado "WikiLeaks coloca neutralidade no
    caixote de lixo da história", a louvada reputação de neutralidade da
    elite sueca é desmascarada como uma impostura. Um outro telegrama
    estado-unidense revela que "a extensão da cooperação [militar e de
    inteligência da Suécia com a NATO] não é amplamente conhecida" e se o
    segredo não for mantido "abriria o governo à crítica interna".

    O ministro dos Negócios Estrangeiros sueco, Carl Bildt, desempenhou um
    notório papel de proa no Comité para a Libertação do Iraque de George W.
    Bush e mantém laços estreitos com a extrema-direita do Partido
    Republicano. Segundo o antigo director sueco de processo públicos,
    Sven-Erik Alhem, a decisão sueca de pedir a extradição de Assange por
    alegações de má conduta sexual é "não razoável e não profissional, bem
    como injusta e desproporcionada". Tendo-se oferecido ele próprio para
    interrogatório, foi dada permissão a Assange para deixar a Suécia com
    destino a Londres onde, mais uma vez, ele se ofereceu para ser
    interrogado. Em Maio, num julgamento de recurso final sobre a
    extradição, o Tribunal Supremo britânico introduziu mais farsa ao
    referir-se a "acusações" não existentes.

    A acompanhar isto tem havido uma campanha pessoal injuriosa contra
    Assange. Grande parte dela emanou do /Guardian, /o qual, como um amante
    rejeitado, voltou-se [contra] a sua antiga fonte, depois de ter
    aproveitado enormemente das revelações do WikiLeaks. Sem dar nem um
    centavo a Assange ou à WikiLeaks, um livro do /Guardian /levou a um
    lucrativo acordo cinematográfico com Hollywood. Os autores, David Leigh
    e Luke Harding, injuriaram Assange gratuitamente como "personalidade
    defeituosa" e "insensível". Eles também revelaram a password secreta que
    foi dada ao jornal em confiança, a qual era destinada a proteger um
    ficheiro digital contendo os telegramas de embaixadas dos EUA. Em 20 de
    Agosto, Harding estava do lado de fora da embaixada equatoriana,
    manifestando no seu blog o desejo de que "a Scotland Yard possa rir por
    último". É irónico, ainda que inteiramente adequado, que um editorial do
    /Guardian /a pisotear Assange tenha dado origem a uma semelhança incomum
    com a imprensa de Murdoch, com o seu previsível fanatismo sobre o mesmo
    assunto. Como a glória de Leveson
    <http://en.wikipedia.org/wiki/Leveson_Inquiry> , o Hackgate
    <http://www.opendemocracy.net/ourkingdom/william-davies/hack-gate-latest-cultural-contradiction-of-british-conservatism>
    e o jornalismo honrado e independente desvanecem-se.

    Os seus atormentadores chamam a atenção para a perseguição de Assange.
    Não acusado de qualquer crime, ele não é um fugitivo da justiça.
    Documentos do processo sueco, incluindo as mensagens textuais das
    mulheres envolvidas, demonstram para qualquer pessoa de mente razoável o
    absurdo das alegações sexuais – alegações quase inteiramente afastadas
    de imediato pelo promotor sénior em Estocolmo, Eva Finne, antes da
    intervenção de um político, Claes Borgstr? No pré julgamento de Bradley
    Manning, um investigador do Exército dos EUA confirmou que o FBI estava
    secretamente a mirar os "fundadores, proprietários ou administradores da
    WikiLeaks" por espionagem.

    Quatro anos atrás, um pouco noticiado documento do Pentágono, revelado
    pela WikiLeaks, descrevia como a WikiLeaks e Assange seriam destruídos
    com um campanha de difamação /(smear campaign) /que levaria a "processo
    criminal". Em 18 de Agosto, o /Sydney Morning Herald /revelou, numa
    divulgação de ficheiros oficiais no âmbito da [lei de] liberdade de
    informação, que o governo australiano havia reiteradamente recebido
    confirmação de que os EUA estavamn a conduzir uma perseguição "sem
    precedentes" de Assange e não havia levantado objecções. Dentre as
    razões do Equador para conceder asilo está o abandono de Assange "pelo
    estado do qual ele é cidadão". Em 2010, uma investigação da Polícia
    Federal Australiana descobriu que Assange e a WikiLeaks não haviam
    cometido crime. A sua perseguição é um assalto a todos nós e à liberdade.

    23/Agosto/2012
    *Ver também:
    # * *The British Siege of the Ecuadorian Embassy: Déjà Vu: Anglo-American
    disregard for International Law
    <http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=32452>

    O original encontra-se em www.johnpilger.com/...
    <http://www.johnpilger.com/articles/the-pursuit-of-julian-assange-is-an-assault-on-freedom-and-a-mockery-of-journalism>
    *

    *Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ . *

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