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Manter o Tejo limpo
Andam por aí uns artistas dizendo que a crise europeia se deve ao facto de portugueses gregos e mais um ou outro irresponsável terem comido uns bifes a mais. Até o nosso Durão Barroso que começou nesta vida com uma mão à frente e outra atrás que hoje anda ceio de dinheiro porque fugiu do país com a ajuda daqueles em quem acreditou quando lhe disseram que o Sadam tinha armas químicas anda por aí a dizer umas postas de pescada.
Para estes rapazes a política económica resume-se às consequências de dois tipos de agentes, os que trabalham que desunham e são poupadinhos e os que são uns gandulos e gostam de comer à fartazana e de preferência com o dinheiro dos outros. Os primeiros são os bons, as formiguinhas, os que têm imenso dinheiro em poupanças e que merecem viver bem, os segundos são os malandros, os mandriões, os tesos que merecem ser chicoteados por um governo a mando dos primeiros.
Depois há os economistas que com patacoadas digna de uma licenciatura à Relvas aparecem em procissão nas televisões justificando as chicotadas, após o que vão lampeiros cobrar as benesses pelo serviço prestado, para isso servem as EDP e outros negócios de milhões que apesar de tanta gandulagem ainda vão existindo por aqui. É lindo ouvir as patacoadas de gente que nunca estudou política económica, como o Medina Carreira ou o João Duque, a pronunciarem-se sobre políticas de austeridade. É como se o comentário da saúde fosse assumido pelo endireita de Caneças, aliás, todos eles são endireitas pois nenhum sabe rodar para a esquerda.
O Fernando Ulrich, dr. Ulrich para os nossos jornalistas mais sabujos, acha que isto tem de ser endireitado para que as acções do seu banco possam valer mais do que uma bica, o Pires de Lima acha que só os funcionários públicos é que devem ser endireitados pois dá-lhe jeito que pelo menos os do privado continuem nas imperiais, o Catroga acha que basta endireitar o suficiente para que se espremam os cinquenta mil pentelhos com que aderiu à revolução cultura resultante deste ménage à trois do Portas mais o Relvas e o Passos Coelho. Enfim, a dívida soberana continua a aumentar a bom ritmo, o Estado continua com pele de laranja, os impostos continuam a descer mas há que apertar esta gente e espremer bem para que não se sinta a falta de dinheiro fácil.
De vez em quando aparecem por cá os três estarolas da troika que vão dizendo ao governo se pode apertar mais um bocadinho e onde pode aliviar, a regra é sempre a mesma, apertar o mais possível nos que trabalham para ganhar e aliviar tanto quanto se pode aos outros. Apertam tanto que até se admiram não ouvir um gemido por parte do povo, dizem que os portugueses parecem as vacas a que os Massai furam o pescoço para lhes beber o sangue, são manos que nem cornos mansos.
Pois, mas o divertimento está a acabar e o triplo A da Alemanha está a acabar, este modelo de zona monetária combinada com livre circulação de mercadorias que favorece uns e transfere a riqueza dos mais pobres para os mais ricos está a acabar. O modelo de enriquecimento acelerado de uma Alemanha que beneficiou da livre circulação e da globalização para vender os seus produtos de luxo, atraindo as compras, a riqueza, os capitais e os quadros dos seus parceiros mais pobres está a terminar.
De repente percebe-se que se uns comeram demais os outros não lhes deram só o dinheiro, também lhes venderam os produtos. É como se os traficantes de heroína emprestassem o dinheiro aos viciados e depois se queixassem dos malandros que são viciados, ou como os bancos que emprestam a torto e a direito e depois se queixam dos incobráveis. A Alemanha foi a grande beneficiada pelo empobrecimento do sul da Europa, agora chega a hora de também sofrer as consequências, corre o risco de ter de provar a austeridade que exige aos outros.
Quanto aos nossos economistas à Relvas talvez esteja na hora de os atirar ao Tejo, bem talvez seja melhor mandá-los para a estação de tratamento de Alcântara, agora que o rio está a ficar despoluído seria um crime atirar-lhe com estes cagalhões.
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