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sábado, 21 de julho de 2012



José Hermano Saraiva e Passos Coelho – “Percursos extraordinários”



Como já disse antes, não tenho estados de alma provocados pelo passamento de José Hermano Saraiva. Isso quer dizer que para mim o mundo ficaria exactamente igual, estivesse ele ainda vivo, ou como está agora. Quer dizer ainda que só muito relutantemente e com sentido do desperdício de tempo, vou gastar mais um balde de cal e duas badaladas com o famoso artista de variedades que se especializou no género de fábula histórica... um eufemismo para mentirolas descaradas.
O caso é que, entre as centenas de reacções das mais diversas pessoas, desde as que se limitam a dizer “já vai tarde”, aos que acham sempre bem fazer elogios aos mortos e os saudosos do fascismo, até aos que se têm desdobrado em insultos violentos, por toda parte, a quem ouse beliscar a figura do “grande português”, ou do “patriota”, ou ainda mais delirantemente, ao grande “historiador”, não resisto a destacar a reacção do pedestre Passos Coelho que, sendo certo que lhe fica bem, enquanto primeiro-ministro, dar os pêsames à família e amigos e alinhavar qualquer coisa genericamente simpática sobre o falecido, tipo “grande perda”, “grande comunicador”, etc., etc... escusava bem de se ter “esticado” ao afirmar que José Hermano Saraiva «foi uma personalidade que teve um percurso cívico extraordinário». A menos que o pense, efectivamente, como alguns pormenores do seu recente percurso político deixam adivinhar.
A ser assim, parto do princípio que Pedro Passos Coelho está a incluir no “percurso extraordinário” o salazarismo reivindicado até à morte, o elogio do fascismo português, segundo ele, a «única ditadura que não matou ninguém»(sim... acho que todos vocês repararam que ele tinha o hábito de mentir descaradamente sobre a História), o ministro responsável pela violência sobre estudantes e a interrupção abrupta das carreiras académicas de alguns mais reivindicativos, para irem cumprir compulsivamente o serviço militar na guerra colonial, o que acabou por resultar na morte prematura e inútil de alguns desses jovens universitários.
Como estas declarações de Passos Coelho foram feitas de improviso durante uma visita a Maputo, onde se deslocou para uma reunião da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, espero que logo a seguir tenha explicado aos representantes da Guiné, Moçambique, Cabo Verde, Angola e São Tomé, a forma “extraordinariamente cívica” que Hermano Saraiva usou para um dia dizer que «foram os portugueses que levaram a civilização para a África e que, com a saída dos portugueses, todos aqueles territórios ficaram menos civilizados».
Ah... e não me venham falar em perdão e essas tolices, pois isto aqui não é uma sacristia, muito menos um confessionário... e mesmo aí, consta, para que o sacerdote finja que perdoa, é necessário que o “pecador” pelo menos finja que se arrepende.

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