Eu gosto dos “loucos”, dos velhos, dos tímidos e dos indecisos… porque são gente de quem muitos esperam pouco.
Eu gosto deles. Destes e de muitos outros. Os exemplos, neste caso, só servem para atrapalhar o leitor.
Do que não gosto, de todo, é dos acomodados; muitos… passam o tempo a dizer que sim (com veemência, para que se saiba e veja), quando o que querem dizer é não. E todas as razões são boas para justificar o que não tem justificação, mesmo que os argumentos rocem o irracional. Posturas e modos de encarar a vida. O resto dos dias, lá vão andando, sempre correctos, não vá parecer mal…
Também não gosto dos certinhos, programados para agradar, racionais e pouco emotivos (há quem diga ser uma qualidade nos dias de hoje), obstinados por alcançar os seus objectivos, mesmo que a via escolhida, para lá chegar, tenha pouco de humano.
Não gosto dos Ministros, do Presidente e de outros que tais.
Não gosto das guerras e das ameaças nucleares, das valas comuns, como se de cemitérios se tratassem, dos (neo) liberais, da fome, do desemprego, dos que nos impõem (até quando?) esta Europa, quando o caminho preferencial é o do mar (num abraço, bem forte, capaz de transpor oceanos), ao encontro das Áfricas (dos países irmãos de língua oficial portuguesa), do Brasil, de Timor, e com eles cooperar nos mais diversos domínios, reforçando os laços de povos amigos que podem, e devem, juntos, criar e construir um futuro melhor para todos.
Não gosto nem compreendo os vetos reiterados dos países grandes que bloqueiam o apoio necessário a populações indefesas, reféns da tirania e condenadas, aos milhares, à morte por um poder déspota. Como é que se pode tolerar uma besta assim?
“Vemos, ouvimos e lemos não podemos ignorar!”[1]
Do que eu não gosto é desta modorra, onde quase todos fingem estar a “dormir”, lado a lado, ombro com ombro, no silêncio dos silêncio, resignados, com medo – o medo que paralisa a acção e cega o raciocínio –, com receio de fazer ruído, de incomodar. Há, no entanto, uma certeza. Ao mantermo-nos perfilados e com medo, de cócoras e não de pé, tudo fica igual ou pior ao que está. Ninguém fará por nós o que a nós cabe fazer.
É por isso que gosto dos espanhóis, porque não se calam, porque não desistem, porque resistem e lutam.
O que eu queria era afrontar este marasmo quotidiano e transformar o pensamento e o modo de agir… Será possível?
P.S.
“Eras sobre eras se somem
 No tempo que eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!”[2]

[1] Sofia de Mello Breyner
Praça do Bocage
[2] Fernando Pessoa