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quarta-feira, 21 de março de 2012
A VIZINHANÇA POBRE DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Por decreto régio de 25 de Janeiro de 1906 criou o Jardim Colonial, que nos primeiros anos esteve instalado nas estufas do Conde de Farrôbo. Em 1912 foi transferido para a Cerca do Palácio de Belém. Em 1944 passou a designar-se como Jardim e Museu Agrícola Colonial. Em 1951 foi rebaptizado de Jardim e Museu Agrícola do Ultramar. Em 1974 passou a integrar a Junta de Investigação do Ultramar, antecessora do actual Instituto de Investigação Científica Tropical (IICT). Em 1983 mudou novamente de nome e passou a chamar-se Jardim-Museu Agrícola Tropical.
Agora chama-se Jardim Botânico Tropical e no seu sítio na Internet é apresentado como “um mundo, uma herança a explorar, divulgar e conservar”. Tem como objectivos “desenvolver e assegurar a manutenção de colecções de plantas vivas das zonas tropicais e subtropicais, ao ar livre ou em ambiente confinado, com classificação e catalogação actualizadas, que constituem material de estudo e ensino”.
O Jardim Botânico Tropical tem uma área de 7 hectares e é um dos jardins mais notáveis de Lisboa, aliando a qualidade paisagística à excepcional riqueza botânica (no catálogo elaborado pela investigadora Maria Cândida Liberato, publicado em 1994, constam 430 espécies).
Localizado numa das mais nobres zonas da capital, tendo inclusivamente dois portões de ligação ao jardim do Palácio de Belém, o Jardim Botânico Tropical tem vindo a degradar-se de forma preocupante.
Junto à entrada principal, na Travessa dos Ferreiros de Belém, o muro que ostenta uma placa com a indicação “Património do Estado”, é usado para secar a roupa da vizinhança pobre do Presidente da República.
Dentro do centenário jardim são evidentes as lacunas na catalogação das espécies e gritante a falta de manutenção em alguns dos sectores. A área dedicada às plantas suculentas está abandonada e algumas das estufas são irrecuperáveis. O Jardim Botânico Tropical não está a funcionar como espaço de educação ambiental e deixa muito a desejar como espaço de divulgação científica.
As fotografias, registadas na visita de estudo que ontem realizei, mostram que esta unidade funcional do Instituto de Investigação Tropical, presidido pelo Doutor Braga de Macedo, antigo ministro das finanças dum governo presidido pelo Professor Cavaco Silva, é mais um triste exemplo da insensibilidade e do desprezo pelo património natural e cultural .
Quando na Cerca do Palácio de Belém o património está tão mal tratado, que poderemos esperar do resto do país?
Raimundo Quintal
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