Descrentes, desinteressados, apáticos ou indiferentes são as palavras com que mais se tem caracterizado a relação dos jovens portugueses com a política.
Segundo um estudo da Universidade de Lisboa, apenas 21,9% dos jovens entre os 15 e os 24 anos se identificam com os partidos políticos portugueses. Mas, se uns olham para o lado, outros veem “política em tudo” e, antes do mais, querem ter uma voz ativa. Apesar de as listas dos partidos para as legislativas ainda não estarem todas fechadas, há várias caras (muito) novas já confirmadas.
Com apenas 18 anos, Inês Alves Rodrigues é a sétima candidata da CDU pelo círculo eleitoral de Braga.
A mais nova aspirante ao Parlamento, do sexo feminino, inscreveu-se na Juventude Comunista Portuguesa (JCP) aos 16 anos e, passado um ano, no PCP, contou ao i a militante comunista de Guimarães. O facto de o pai fazer parte de um movimento sindical também pesou no seu precoce interesse pela política.
Ainda assim, a estudante do ensino secundário garantiu que se identificou em particular com o PCP “por constatar que está todos os dias no terreno ao lado dos estudantes e trabalhadores” e por se rever “em toda a sua plenitude nas propostas do partido”. Sobre a fraca probabilidade de se sentar na Assembleia da República (AR) na próxima legislatura, Inês Rodrigues recorda que o seu objetivo não é chegar a um cargo político específico: “Seja como militante ou deputada, a luta é a mesma”, sublinhou, reforçando que espera principalmente que a sua candidatura inspire outros jovens a participarem na vida partidária. “Os jovens interessam-se por política, por vezes não têm é consciência disso. Quando falam sobre os transportes públicos ou sobre o preço dos passes não percebem que isso é política”, esclareceu.
Jovens movem-se por causas
Já para Eva Pinho, de 20 anos, 20.a candidata por Lisboa do PSD, o problema entre a política e os jovens está na comunicação realizada pelos partidos. “Considerando que os jovens têm demonstrado que se mobilizam por causas e associações, temos de transpor esse interesse para as estruturas partidárias”, sugeriu a candidata mais nova dos sociais-democratas ao i, propondo uma maior aposta nos novos média. “Há falta de investimento na área de marketing digital por parte dos partidos. Os jovens não veem televisão, não reparam num cartaz na estrada e nem ligam ao candidato que está a falar na rua”, apontou a cascalense, que se encontra atualmente a estudar Direito na Universidade Católica, “orgulhosamente” com bolsa de mérito. “A comunicação que passa na televisão devia passar no YouTube”, aconselhou a social-democrata. Vinda de uma “família com convicções de esquerda”, Eva Pinho destacou a importância de não se reproduzir as crenças dos outros na política e quis deixar claro que aceitou fazer parte das listas para o hemiciclo por um motivo que acredita ser maior do que as suas próprias convicções. “Tenho noção de que não chegarei a deputada, mas vejo a minha candidatura como uma mensagem muito importante e clara: há caras jovens na política com um grande interesse em fazer diferente”.
Lutar pela mudança
Também interessado “em fazer diferente” está Sebastião Bugalho, de 23 anos, número seis da lista por Lisboa do CDS, que em conversa com o i se mostrou especialmente preocupado com o possível cenário de “uma maioria de dois terços das esquerdas unidas” na próxima legislatura. “Se isso acontecer, quer dizer que a geringonça pode mudar a Constituição. Portanto, logo aí, a direita terá de assumir um combate político sério e corajoso”, focou o jovem lisboeta, licenciado em Ciência Política pela Universidade Católica, que se candidata como independente. Caso o PS consiga obter uma maioria absoluta, Sebastião Bugalho também salientou a necessidade de serem defendidos três aspetos “fundamentais”: “A liberdade de imprensa, a independência dos tribunais, a autonomia do Ministério Público e valorização do Parlamento, como instituição de escrutínio à política”. Depois de ter sido jornalista durante dois anos, o candidato explicou ao i que foi convidado para as listas pela própria Assunção Cristas e que aceitou por uma simples razão: “Não sou socialista e estou farto de ver o PS a enterrar o meu país. Logo, podem contar comigo para tudo aquilo que seja combater isso. Nunca hei de dizer não quando me pedem para servir o meu país”, destacou.
Para além da esquerda/direita
Porém, se para uns o problema está na esquerda, para outros também está na direita. “As ideologias de esquerda e de direita e o sistema contemporâneo de partidarização são dos maiores entraves à política nacional e internacional”, considerou Diogo Quintelho, de 20 anos, o candidato mais novo do PAN nas legislativas. Em terceiro lugar na lista de Viseu do partido de André Silva, o jovem estudante de Direito da Universidade Lusíada-Norte, no Porto, explicou ao i que começou a interessar-se por política “desde cedo ao ver mais do mesmo com o passar dos anos e ao verificar que os maiores problemas, aqueles que colocam a presença na Terra em perigo, eram ignorados”. Filiado no PAN desde os 18 anos, vegetariano “pelos direitos dos animais e pela causa ecológica” desde os 17, Diogo Quintelho dá a cara pelo partido pelas causas que este defende, e não por uma ideologia política específica. Prioridade? Promover a “harmonia entre as pessoas, a natureza e todas as formas de vida”. Numa ótima semelhante, Miguel Martins, de 18 anos, o candidato mais novo do BE, também se juntou ao partido pela componente ativista dos bloquistas. “Relacionei-me logo com o BE porque é constituído por ativistas que defendem causas pelas quais luto desde os 16 anos, tais como a defesa dos direitos LGBTI, a promoção do feminismo e o combate ao racismo”, começou logo por dizer ao i o número quatro da lista de Braga do BE. Tendo já sido candidato ao cargo de coordenador nacional de Jovens do Bloco e às eleições europeias deste ano, o ativista social e estudantil de Barcelos garantiu que já não vê a sua “vida sem ser politicamente ativo”.
Carreira política fora das ambições
“Participo politicamente com absoluto desprendimento”, assegurou ao i Joana Sá Pereira, a candidata número sete do círculo de Aveiro do PS. Com 26 anos, a advogada deixou claro que encara a sua vida política “como um serviço ao país” que desempenha paralelamente ao trabalho que realiza na área jurídica. A presidente da Federação Distrital de Aveiro da Juventude Socialista e candidata mais nova do PS nas últimas eleições europeias reforçou também que se juntou ao partido pela “capacidade verdadeiramente transformadora da sociedade” do PS. Recordando que se interessou por política por ter “um espírito inconformado”, Joana Sá Pereira defende, entre várias ideias, a necessidade “de diminuir as disparidades salariais” e a defesa de os mais jovens conseguirem “um salário digno”.
Noutro espetro político, Sérgio Freitas, o candidato mais novo do Chega, mostrou-se em sintonia com a socialista no que diz respeito a uma possível carreira na política. “Não quero acreditar que alguém possa achar que fazer da política vida seja uma carreira profissional”. Com apenas 20 anos, o estudante da área de ciências, presidente da comissão instaladora da Juventude Chega e 11.o candidato da lista por Aveiro do partido liderado por André Ventura explicou que, apesar de se interessar por política desde os 14 anos, só há um ano é que encontrou no Chega um partido com o qual se identifica. Porquê? “O Chega é, para mim, um rompimento com todo o sistema falido que temos. O Chega acaba com o monopólio dos partidos do poder e não deve nada a ninguém, ao contrário dos partidos que têm assento parlamentar”.
Em busca de uma alternativa
Também com um discurso apaixonado pelo seu partido falou ao i Diana Costa, de 19 anos – a candidata mais nova do Aliança. A número seis por Braga do partido, que tal como o Chega vai pela primeira vez às legislativas, encontrou na força política de Santana Lopes uma alternativa aos partidos tradicionais e um líder que “finalmente” admira. A promoção do “crescimento económico, o combate à pobreza, a mobilidade e o ambiente “ são as prioridades da jovem estudante de Administração Pública na Universidade do Minho. Também em nome da “educação, saúde, defesa do ambiente e justiça social” apresenta-se como cabeça-de-lista por Faro, a candidata mais nova do Livre, Ana Sofia Marcelino. A jovem estudante de Economia residente em Albufeira explicou ao i que foram os discursos de Rui Tavares na comunicação social que a fizeram compreender que o Livre era o espaço que procurava e no qual poderia representar “a voz dos jovens”.
Assim como Sérgio Freitas, Diana Costa e Ana Sofia Marcelino, Maria Castello Branco, a candidata mais nova do Iniciativa Liberal e cabeça-de-lista por Castelo Branco juntou-se ao partido por ter encontrado o “muito esperado espaço para pessoas mais liberais em termos económicos e sociais”. Segundo a estudante de Ciência Política na Universidade Católica, o partido liderado por Carlos Guimarães Pinto é “a alternativa para a obsoleta e decadente política que se faz em Portugal, além de ser um partido muito jovem”. Tendo escrito aos oito anos uma carta a Durão Barroso, na altura presidente da Comissão Europeia, a “pedir que banisse os sacos de plástico”, as principais bandeiras da jovem de 20 anos são a “descentralização e a liberdade de escolha tanto na saúde como na educação”, assinalou ao i. O i tentou falar com candidatos do Nós, Cidadãos, mas, até ao fecho da edição, não obteve qualquer resposta.
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