“Isso é porca política.
É mesmo”
Joaquim Judas Vereador da CDU e ex-autarca de Almada
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expresso.pt
Barracas fazem estalar verniz entre autarca do PS e vereadores do PCP. A ‘geringonça’ não mora aqui
Acusações de “porca política” marcaram uma acesa troca de argumentos que envolveram Joaquim Judas (o ex-autarca comunista) e Inês de Medeiros, a presidente socialista. A habitação social foi o pretexto. “O estado de tensão é alimentado desde o primeiro dia em que aqui cheguei”, diz a autarca ao Expresso.“A CDU não é o espetáculo que se vê em Almada”, diz Inês de Medeiros que admite ser “irrecuperável a relação política com os atuais protagonistas da vereação comunista”.
“Estou sem fala”, disse Teodolinda Silveira. A vereadora socialista responsável pela Habitação no concelho de Almada levou à reunião do executivo camarário um plano estratégico para habitação social e o primeiro regulamento que determina critérios para acesso às casas municipais das famílias mais carenciadas.
E levou ainda mais: o levantamento da situação do parque habitacional social de Almada, que sinaliza 8 mil casos de necessidades extremas, entre elas cerca de duas mil barracas.
A maioria formada pela aliança de socialistas com sociais-democratas chegou para aprovar todas as propostas. Mas os quatro vereadores comunistas não baixaram a guarda. E, durante as mais de cinco horas que durou a reunião, cavaram-se barricadas políticas e o tema serviu para murros diretos e acertos de contas com as décadas de gestão comunista.
“É incompreensível como chegámos a este caos”, disse Joana Mortágua, do Bloco de Esquerda, que votou ao lado do PS e PSD. Miguel Salvado, do PSD, aproveitou para endossar responsabilidades aos comunistas que “tiveram responsabilidades durante décadas”. E argumentou: “Querem fazer parecer que somos nós, que chegámos há um ano, os culpados pelos bairros que existem”.
O facto de o município não ter “um regulamento sequer” para fixar as regras de acesso às casas camarárias e de ser “o concelho com maior número de famílias a viver em situação de carência”, segundo o vereador do PSD, serviu de mote para bater na gestão comunista.
Porca política
Os vereadores comunistas, que da presidência passaram para a oposição nas últimas autárquicas, não gostaram: José Gonçalves foi o primeiro a lamentar “a tentativa de pintar Almada de negro para dar a ideia de que não se fez nada nos últimos anos” e passou ao contra-ataque acusando o executivo do PS de “ter a obrigação de trazer um documento sólido e bem estruturado, e não o fez”.Inês de Medeiros não gostou. E carregou nas tintas. “Se há uma constante dos municípios liderados pelo PCP é a habitação precária e as barracas”, disse, acusando os comunistas de se “alimentarem da miséria das pessoas” e de “gostarem muito de julgar os outros, mas não gostam de ser julgados”.
O caldo, aqui, já tinha sido irremediavelmente entornado. Os quatro vereadores da CDU, sentados à esquerda da autarca, agitaram-se nas cadeiras e lançaram apartes de contestação. “É a política!”, respondeu já com os decibéis no máximo, a presidente Inês de Medeiros. O seu antecessor, Joaquim Judas, não resistiu. “É porca política”, disse com o microfone desligado, mas fazendo-se ouvir na sala, suspensa do confronto direto.
A autarca não desarmou. “É complicado em democracia”, respondeu. “Querem calar-nos, mas a mim não me calam. A CDU, sobretudo em Almada, é conhecida por dizer mal de tudo e de todos e por espalhar mentiras todos os dias. Mas quando são confrontados com a realidade, chamam-lhe porca política”, disse.
Mas não fechou o debate. Judas pediu a palavra para defesa da honra: “Não é no tom, nem na forma que a senhora presidente usou que vamos resolver os problemas”. Na verdade, não há conciliação possível. Aqui, a maioria de esquerda não existe. Nem se fazem votos de que a ‘geringonça’ passe para a margem sul do Tejo.
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