Primeiro, foram as autárquicas, com dez câmaras perdidas diretamente para as mãos do PS. Agora, um resultado "particularmente negativo" tirou ao PCP um lugar de eurodeputado em Bruxelas e mais de 188 mil votos. As campainhas de alerta já soaram na Soeiro Pereira Gomes. Já na terça-feira o comité central vai reunir para uma "avaliação concreta" de como se chegou a este ponto.
PASSE O RATO POR CIMA
"Podem ficar descansados, não há razão para nenhuma ansiedade", disse João Ferreira. Faltavam cinco minutos para as nove da noite quando o cabeça de lista da CDU - e eurodeputado duas vezes eleito - veio falar aos jornalistas. O ambiente no Hotel Vitória era tenso e anormalmente silencioso. Na verdade, ainda nem sequer estava confirmada a eleição de João Ferreira e, pior, já era mais que certa a quebra eleitoral e a baixa na bancada europeia da CDU. Altura para apelar à calma e garantir que seria feita "uma avaliação mais concreta" dos resultados.
O encontro tem dia e hora marcados: o comité central foi convocado já para a próxima terça feira e o 'coletivo' terá a palavra decisiva sobre o que fazer com este resultado. Como trabalho de casa, a direção comunista leva as duas quebras do PCP nas duas últimas eleições e a correspondente subida dos seus parceiros de coligação. A geringonça está, por isso, em cima da mesa.
OS 'SES' DE JERÓNIMO
Mais de duas horas depois da intervenção de João Ferreira, o cenário não tinha mudado. Reinava a mesma indefinição sobre se a CDU tinha conseguido garantir um segundo eurodeputado (na verdade, só se respirou de alívio já passava da uma da manhã), quando Jerónimo de Sousa entrou na sala de imprensa. O líder abriu direto ao assunto. Desta vez não houve "grande resultado" ou menção a uma "grande vitória". Foi mesmo "negativo" o score obtido e Jerónimo não tentou sequer dar a volta ao texto.
Apesar de falar na diferença de contexto político entre as duas últimas eleições europeias e de lamentar a "constante desvalorização do trabalho e da intervenção da CDU" nos media, ou a "campanha de calúnias e difamação" de que o seu partido foi alvo, o líder não fugiu ao assunto. "Pode ter acontecido que, na nova fase da vida política nacional, o PS tenha capitalizado alguma coisa", disse Jerónimo de Sousa.
A geringonça tornou-se um elefante na sala principal do Hotel Vitória. A "capitalização" socialista é feita, em grande parte, à custa do eleitorado comunista e isso "precisa de avaliação e de análise mais longa", diz Jerónimo.
A discussão interna está aberta e o combate com o PS para as próximas legislativas é inevitável. Jerónimo tenta segurar os ânimos. Invoca o seu "saber de experiência feito" e puxa dos galões de quem já leva "mais de 30 eleições" no currículo. Mas apenas para dizer que "não é um resultado eleitoral que abala as nossas convicções" e para garantir que "nas eleições nada está perdido para todo o sempre".
Palavras de consolo, sem dúvida., mas que nada adiantam sobre a sobrevivência da geringonça. Mas o prognóstico não é dos mais favoráveis. "É muito cedo para falar disso", porque "as conjunturas não se repetem" e, na verdade, "ficou de fora um mundo" entre aquilo que os comunistas queriam e o PS concretizou.
A parceria de esquerda pode ter chegado ao fim. Mas essa, por enquanto, é a pergunta que vale um milhão de euros. É "um se do tamanho desta casa", resume Jerónimo de Sousa. E de condicionais estamos todos conversados. "Como dizia a minha mãe, se a minha avó não morresse, ainda hoje era viva", rematou Jerónimo. A palavra está agora nas mãos do comité central.
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