1. Fortemente contrariados pela China, os EUA e a República da Coreia do Sul concordaram em instalar o sistema THAAD(1), no território deste último, como reacção à suposta “ameaça nuclear” da Coreia do Norte, quando, na verdade, este sistema tem como alvo a China.
Esta iniciativa faz parte da instalação de sistemas de defesa de mísseis dos EUA na Ásia Oriental – uma região de importância estratégica para os EUA – onde a China é considerada uma ameaça ao seu “DLP” (domínio, liderança e primazia). Os EUA definiram a China como alvo da sua estratégia de “rebalanceamento da Ásia”. O sistema THAAD é um componente indispensável desse “rebalanceamento”. E testes destes mísseis foram já realizados (2).
Vários autores neocon (3) têm publicado na revista Foreign Affairs (4), que reflecte a política externa da administração americana, vários artigos sobre a estratégia de “rebalanceamento na Ásia”, como uma “estratégia superior” a ser aplicada pelos Estados Unidos na Ásia Oriental e também na Europa Oriental. Estes teóricos neoconservadores assinalaram que seria provável que a China “procurasse a hegemonia na Ásia” e que os EUA teriam que esforçar-se para “prevenir que tal não possa acontecer”. O “rebalanceamento da Ásia” deverá apoiar-se nos governos locais para conter a China. Se isso falhar, os EUA poderiam agir de forma mais musculada com esses países.
O THAAD irá comprometer o equilíbrio estratégico regional da Ásia Oriental e criar mais obstáculos ao resolver da questão nuclear da península coreana. Quando o equilíbrio de uma região é quebrado, é dado o início a uma corrida às armas, as disputas começam a despoletar e os conflitos a intensificarem-se.
Para os chineses os EUA estão habituados a terem poder hegemónico em toda a parte e, apesar de terem advogado a globalização, não se conformam que ela tornou os países mais interdependentes. A China estabeleceu com um conjunto de países acordos para o crescimento económico destes que, por sua vez, estabeleceram acordos de defesa com os EUA. Se os EUA impuserem a estes países integrarem-se numa estratégia ofensiva contra a China, não sobreviverão nem o crescimento económico nem a segurança regionais.
2 2. Paralelamente a esta questão, os EUA envolveram as Filipinas numa acção com vista a negar a soberania territorial e os interesses marítimosda China sobre o Mar do Sul da China. O pretexto foi a China ter começado a construir ilhas artificiais nesse mar com vista ao reforço da sua defesa e a servirem de apoio a rotas comerciais.
Daí ter surgido uma decisão de um tribunal arbitral internacional a que os EUA recorreram para contestar os direitos da China. Os países da ASEAN (5) inclinam-se para não aceitar esta decisão arbitral e retomar om processo negocial deles com a China. A China já tinha
quase 14 anos de negociações com os países da ASEAN. Em 2002, a China e os países membros da ASEAN assinaram a Declaração sobre a Conduta das Partes no Mar do Sul da China (DOC, em inglês), que serve como base comum para a resolução pacífica das disputas e têm vindo a realizar consultas no âmbito do Código de Conduta no Mar do Sul da China (COC) sob a estrutura da DOC.
Num seminário realizado em Singapura, no passado 18 de Julho, com a participação dos países que contactam este mar,as partes envolvidas na questão do Mar do Sul da China deverão retomar conversações no sentido de resolver as disputas por meio de negociações e de esforços conjuntos que promovam a colaboração e o desenvolvimento regional. Por outro lado, a ASEAN sempre prometeu manter uma posição neutra nessa questão e não interferir nas disputas. A China é o maior estado costeiro do Mar do Sul da China. A manutenção da paz e da estabilidade e o desenvolvimento próspero da região corresponde aos interesses do país. A China deseja realizar uma cooperação de benefício mútuo com os países da ASEAN.
3. O cerco com mísseis aos territórios da Rússia e da China fazem parte de uma estratégia que Obama aprovou e Hillary Clinton ainda não confessou.
Para além dos esforços de ambos os países e aliados mais directos em conduzir processos de paz e de crescimento económico favorável a esses desígnios pacíficos, estes países não podem ignorar os riscos e, por isso, tem actualizado de forma adequada o seu armamento.
À ameaça que surge com a configuração da NATO, ambos os países que têm expresso o seu superior nível de cooperação, designando-a frequentemente como uma “aliança” poderão ter que criar uma aliança político-militar que confronte a NATO. O fim do Pacto de Varsóvia há quase vinte anos poderá ser seguido – ironia das ironias! – por um novo pacto entre duas potências que há quarenta anos eram adversárias: a China e a Rússia.
Estes países não revelam medo e essa será uma das formas de conter o ímpeto guerreiro da outra parte.
Todos esperamos que a paz e o fim do terrorismo seja o resultado de tantos esforços.
(1) Terminal High Altitude Area Defense (THAAD) é um sistema de mísseis anti-balísticos dos EUA projectado para abater mísseis balísticos de diferentes dimensões na sua fase terminal, usando uma abordagem do tipo atingir para abater (hit-to-kill). Os mísseis não transportam carga mas recorrem à energia cinética do impacto para destruir um míssil disparado de outro ponto. Sendo conhecido como sistema de defesa, é de facto de ataque porque impede uma reacção a mísseis de dimensão variável que sejam resposta a um ataque de mísseis comcargas convencionais ou nucleares. O sistema foi desenhado, construído e integrado pelo Lockheed Martin Space Systems.
(3) Neo-conservadores. Corrente ultraliberal com expressão em partidos conservadores mas também sociais-democratas
(5) A Association of Southeast Asian Nations (ASEAN) é uma organização regional composta pelos estados do Sudeste Asiático, integrados economicamente. Formada em 1967 pela Indonésia, Malásia, Filipinas, Singapura e Tailândia, viria a ser alargada ao Brunei, Laos, Myanmar (Birmânia), e Vietname.
Via: antreus http://bit.ly/2aqwAHK
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