Terramoto de 1755 foi a maior catástrofe natural em Portugal
Área Metropolitana de Lisboa e Ordem dos Arquitetos promovem concurso de ideias para o desenho de uma construção provisória que dê apoio logístico à população depois de uma catástrofe. E querem mesmo construí-la
O cenário é o dos dias seguintes a uma catástrofe natural. A proteção civil já garantiu a resposta de primeira hora. Sobra uma cidade em parte arruinada, com milhares de desalojados, pessoas que é preciso encaminhar para um abrigo, residentes que ficaram sem qualquer documentação, doentes que precisam de medicamentos ou de agasalhos. Um cenário que Lisboa conhece, mesmo que a memória vá a caminho dos três séculos.
É sob este pano de fundo que a Área Metropolitana de Lisboa (AML), juntamente com a Ordem dos Arquitetos, lançou um concurso de ideias para a criação de uma unidade que dê resposta às populações numa situação de pós-catástrofe. O projeto chama-se casa, mas este é, na verdade, um acrónimo: são as iniciais para centro de apoio social e administrativo. E o que será isto, exatamente? A versão final fica à espera do projeto vencedor, mas a ideia geral é a de uma construção provisória, facilmente montável, que permita dar uma resposta integrada às exigências que se levantam após um desastre natural de grandes dimensões, como um sismo ou um tsunami.
O programa do concurso de ideias aponta para "uma unidade polivalente que incorpore funções administrativas". Por exemplo, um "posto médico de emergência, apoio social, armazenagem (de medicamentos ou agasalhos), uma sala de reuniões coletiva, espaço para a junta de freguesia", tudo reunido num módulo (ou vários) com uma área de 500 metros quadrados. A construção deve garantir "sistemas eficientes de fornecimento de energia elétrica, aquecimento e abastecimento de água". O objetivo é que a estrutura - que deve poder ser "tão rapidamente construída como desmantelada" - seja colocada no terreno "no dia dois pós catástrofe e permaneça até ao ano dois".
Jorge Moura é o diretor do departamento de Gestão do Território da Área Metropolitana de Lisboa e um dos membros do júri que, em setembro, vai escolher a proposta vencedora. O arquiteto explica que o concurso surge com o objetivo de "trazer a lume várias hipóteses, várias ideias" para a definição de uma "unidade com várias valências, de serviço às populações, numa situação de pós-catástrofe". A intenção é que o projeto vencedor não se fique pelo papel. "O concurso de ideias vai dar-nos uma base de trabalho para avançar com um projeto. A ideia é avançar depois para a construção de um módulo", diz ao DN. Além de um prémio monetário aos três primeiros classificados (no valor de 5000, 1500 e 1000 euros), o projeto dará também origem a uma exposição, da responsabilidade conjunta da AML e da Ordem dos Arquitetos (secção regional sul, responsável por este projeto).
Alerta de tsunamis no estuário
Jorge Moura explica que este projeto nasceu face ao novo quadro legal que atribui às áreas metropolitanas algumas competências na área da proteção civil. "Estamos a começar a desenvolver trabalho, tão sustentado quanto possível, nesta área." Neste contexto está também a ser preparado um plano de adaptação às alterações climáticas. Outro dos projetos que a AML quer levar adiante passa pela implementação de um sistema de alerta de tsunamis no estuário do Tejo.
Qualquer um destes projetos enquadra-se "num conjunto de ações que tem como pano de fundo eventos extremos". Sem duplicar competências: a resposta a uma catástrofe natural caberá sempre à proteção civil, sublinha o arquiteto. O domínio onde a AML quer trabalhar é o de "ações de mitigação" dos efeitos de fenómenos extremos, com expressão territorial à escala metropolitana. O programa do concurso destaca a importância desta região, até para o funcionamento diário do resto do país: "Para além de uma forte concentração demográfica, localizam-se nesta área os principais órgãos de decisão política e administrativa do país, a par de estruturas e administrações de importantes grupos económicos e financeiros que tornam a região um espaço vital e sensível em situações de emergência."
Com três mil quilómetros quadrados, a área metropolitana de Lisboa reúne 18 concelhos ( estendendo-se à península de Setúbal) onde vivem quase três milhões (2,8) de pessoas, cerca de um quarto da população portuguesa.
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