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quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Há dez anos que este povo de Cem Soldos dá Bons Sons


Durante o Bons Sons, a aldeia é fechada e transforma-se, toda ela, no recinto do festival. Os palcos são integrados nos espaços da terra  



O festival de música portuguesa volta nesta semana à aldeia do concelho de Tomar. O Bons Sons mantém-se fiel aos seus princípios e já tem notoriedade, só faltam apoios financeiros

Os velhotes falam para a câmara como se ela não estivesse ali. Contam histórias de quando eram crianças, dos primeiros namoricos, dos bailes da aldeia. Um deles é José Morengo, aquele que há dois anos, no spot do Bons Sons, convidava toda a gente a ir a Cem Soldos. "Na altura, era a pessoa mais idosa da terra, entretanto já morreu. O que só nos fez pensar que, de facto, este trabalho documental que estamos a fazer é importante e que devemos continuá-lo", explica Miguel Atalaia, um dos autores do documentário Este Povo, que será apresentado no primeiro dia do festival Bons Sons, na próxima sexta-feira.

Na verdade, o projeto vai muito para além deste documentário sobre o povo de Cem Soldos. "Decidimos fazer um arquivo digital com as memórias das pessoas da terra", conta Miguel, designer que faz parte da equipa do festival. Juntaram-se as vontade de um grupo de jovens - uns com experiência em vídeo, outra com um curso de gerontologia, outros só com interesse pela ideia - e há um ano e meio começaram a entrevistar os mais velhos da aldeia. "Mas também aqueles que sabíamos que seriam felizes a contar-nos a sua história, que não se sentissem constrangidos", explica Miguel Atalaia. O arquivo digital está ainda em construção e as entrevistas vão continuar, garante. Mas, para já, fizeram este documentário. Como uma primeira amostra do potencial do material que já têm.

O filme Este Povo é o exemplo acabado do que é especial no festival Bons Sons - não só pelo modo como foi feito mas sobretudo por mostrar tão bem a ligação entre o festival e a aldeia que fica a cerca de cinco quilómetros de Tomar. "Este festival nasce de dentro para fora, da nossa vontade, dos cicladenses, de fazer um festival", explica Luís Ferreira, diretor artístico do Bons Sons.

No ano em que se assinalam os dez anos do festival dedicado exclusivamente à música portuguesa, Luís Ferreira está feliz por o evento ser cada vez mais reconhecido (em março ganhou o prémio de melhor festival médio ibérico), mas também sabe que o segredo do sucesso passa por se manter fiel aos seus princípios: "Temos limites, sabemos que o festival não pode crescer mais do que as 40 mil pessoas. Este fascínio pelos megaeventos acaba por ser um tiro no pé porque esmaga a vivência do próprio evento. Nós não vamos deixar que isso aconteça. A vivência da aldeia é essencial." A aposta não é para que venham mais pessoas ao Bons Sons mas para que as pessoas venham mais vezes, ao longo do ano, a esta aldeia, e, para isso, há já outros projetos culturais.

Nos quatro dias de evento, a aldeia de Cem Soldos é fechada, tornando-se ela própria o recinto do festival. A organização é da responsabilidade da associação cultural local e toda a produção é assegurada por voluntários - seja a equipa de cerca de cem pessoas, sejam as pessoas da terra, sejam outros voluntários, num total de 400 pessoas a trabalhar sem ganhar para pôr de pé este evento. "Fazemos tudo, programação, gestão de palcos, plano ecológico... temos muito poucas subcontratações." O que continua a faltar a isto tudo são os apoios financeiros: cada edição representa um investimento na ordem dos 450 mil euros, dos quais apenas 20% são financiamentos externos. "É um festival autossustentado e isso é bom, mas é um risco enorme para a aldeia", diz Luís Ferreira.

Que esse pormenor não perturbe a festa. Para assinalar os dez anos, pela primeira vez o festival tem artistas repetentes - dez, de todas as edições anteriores. Sem concessões ao popularismo. "O Bons Sons continua a ser um lugar de encontros, entre o local e o nacional, entre o mais novo e o mais velho, entre o consagrado e a revelação, entre o hipster e o freak, há espaço para tudo na aldeia."

www.dn.pt

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