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quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Educadoras Libertárias - Louise Michel, a educadora libertária da Comuna de Paris





Nossa terceira educadora da Série Educadoras Libertária é a francesa Louise Michel, a educadora da Comuna de Paris de 1871. Louise nasceu na cidade francesa de Vroncourt, no dia 29 de Maio de 1830, foi professora, enfermeira, escritora e uma das mais importantes comunard( participante da comuna) responsável pela organização da educação na Comuna, de onde se reconheceu como anarquista.  Para realizar este post utilizamos o material disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Louise_Michel

A  jovem Educadora 




É na adolescência que Louise Michel tem contato com as obras de filósofos como Rousseau e Voltaire. Após a morte de seu avô em 1850, muda-se para Chaumont onde realiza o curso de magistério, mas é impedida de lecionar nas escolas estatais por se recusar a jurar lealdade para Napoleão III. Torna-se uma anti-bonapartista.

Em 1852, aos 22 anos ela funda uma escola livre na cidade de Audeloncourt onde permanece lecionando por um ano. Nesta escola Louise ensina seus alunos princípios republicanos, a cantar a Marselhesa( hino dos revolucionários), mas a escola é fechada por pressão das autoridades. Louise não desiste, em 1854 ela abre outra escola, desta vez em Clefmont, mas também esta escola é fechada pelo governo em função do seu caráter republicano e revolucionário.

Em 1856 ela vai para Paris onde leciona em um Colégio interno para moças em Montmartre, ao mesmo tempo mantém sua militancia junto à grupos revolucionários. Durante 15 anos trabalha no ensino, onde funda escolas e gradualmente vai se tornando favorável a novas ideias em matéria de educação com a criação de orfanatos laicos. Também tem interesse por literatura e publica textos e poemas com o pseudônimo de Enjolras. Conhece o famos escritor francês Victor Hugo, de quem se torna muito próxima. Participa dos ambientes revolucionários da época, torna-se integrante da Liga dos Poetas e em 1869 é escolhida secretária da Liga Democrática de Moralização que tinha o objetivo de ajudar os trabalhadores desempregados. Nessa época Louise se identifica com o blanquismo, corrente política de caráter republicano e socialista, fundada por Auguste Blanqui. Em pouco tempo ela abandona o blanquismo para se unir a ala mais radical da revolução, composta pelos anarquistas.

Louise Michel , a Communard libertária




Durante a Comuna de Paris de 1871, Louise Michel realizou diversas atividades, desde enfermeira nas frentes de batalha, passando por organizadora da instrução publica(educação) até combatente, inclusive vestindo a farda da guarda nacional, fato incomum para época, onde este traje era de uso exclusivo dos homens. Tomou parte dos combates de rua onde a tiros conseguiu libertar da detenção sua mãe que iria ser presa. Assistiu a morte por execução de muitos dos seus amigos, incluindo seu amante e companheiro Théophile Ferré, executado em 28 de novembro de 1871.

Com a derrota da Comuna Louise Michel é presa e levada a julgamento no VI Conselho de Guerra, sendo alvo de uma série de acusações, incluindo a tentativa de derrubada do governo e encorajar cidadãos a pegar em armas. De forma desafiadora no tribunal, ela reafirma seu compromisso com a Comuna e seus ideais, e desafia os juízes sentenciá-la a morte. Ela não é sentenciada a morte, mas passa vinte meses detida e posteriormente é condenada a deportação. Em agosto de 1873 ela parte em navio para uma viagem de 4 meses em direção de Nova Caledônia, ilha transformada em desterro pelo governo Francês, onde eram mantidos os presos polítcos. Nesse periodo a imprensa francesa a chama de forma satírica de La Louve Rouje (a Loba Vermelha).

Ainda no navio Louise se aproxima do prisioneiro Henri Rochefort e Nathalie Lemel, outra anarquista ativa durante a Comuna. Louise passa sete anos na ilha. Nesse período ela não abandonou seu trabalho militante e pedagógico. Se aproxima da população local, da etnia Kanak, cria a revista “Petites Affiches de la Nouvelle- Calédonie( Pequenas Cartas da Nova Caledônia) e publica o livro “Legendes et Chansons de gestes canaques” , onde compila os cantos e lendas dos nativos. Leciona para adultos e crianças, torna-se defensora dos Kanaks e toma parte na revolta de 1878. No ano seguinte ela recebe autorização das autoridades coloniais para lecionar para os filhos dos deportados.


O retorno à luta em Paris


Seu retorno a Paris se dá em 1880, após a anistia garantida aos Communards. Em 21 de novembro de 1880 é calorosamente recebida por uma multidão para a qual discursa. Ela retomará suas atividades militantes participando de eventos e reuniões como o Congresso anarquista de Londres em 1881. Após dois meses de sua chegada inicia a publicação do seu romance “La Misère” ( A Miséria) em fascículos, atingindo grande sucesso.

Em Março de 1882 durante reunião de libertários em Paris Louise propõe a separação entre os socialista- libertários e autoritários- como forma de se afastar dos parlamentares socialista e suas regras inequívocas. É nessa reunião que defende a adoção da bandeira negra como símbolo do anarquismo em contraste com a “bandeira vermelha encharcada com o sangue dos nossos combatentes”, defende ela.

Em 1883 após discursar em uma manifestação de desempregados que ao final saqueiam três panificadoras e entram em conflito com a polícia, Louise é presa e acusada de liderar os saques, levada a julgamento é condenada a seis anos de prisão,  dez de vigilância policial e proibida de discursar em publico. Mas não chega a cumprir a pena, três anos depois em 1886 é liberada ao mesmo tempo que Kropoktin e outros anarquistas notáveis, até então presos.

Depois deste breve período em liberdade é novamente encarcerada e condenada a mais 6 anos de prisão por fazer discursos inflamados. É liberada em janeiro de 1886 graças a intervenção de Clemenceau junto ao presidente da Reṕublica, Jules Grévy, para que pudesse ver sua mãe que estava morrendo. Em agosto do mesmo ano volta a ser presa por quatro meses após discursar em favor do mineiros de Decazeville junto com Paul Lafargue. Durante o julgamento é aconselhada a apelas, mas recusasse, sendo finalmente liberada em Novembro por conta de um indulto.

Em janeiro de 1887 discursa contra a pena de morte, em resposta a condenação de seu amigo Clément Duval. Em janeiro de 1888 após uma tarde falando para uma platéia lotada no teatro de Gaite, Louise Michel sofre um atentado levando dois tiros de pistola. Um dos tiros atinge superficialmente sua cabeça, mesmo sendo uma tentativa de assassinato Louise se recusa a apresentar queixa. Em abril de 1890, Louise é presa na Áustria após participar de um grande encontro libertário que acabou em manifestações violentas na cidade de Viena. Um mês depois de sua prisão, ela se recusa a ser libertada enquanto outros anarquistas com os quais discursava permanecem na prisão. Aos 60 anos Michel é libertada e deixa Viena indo para Paris e posteriormente para Londres, onde dirige uma escola libertária para crianças pequenas. Retornará a Paris somente cinco anos depois, em 1895, onde é novamente recebida e saudada por uma grande manifestação na estação de trem.

" O poder é maldito, é por isso que sou anarquista" 


Durante a última década de sua vida, Louise Michel torna-se conhecida como uma grande figura revolucionária libertária por anarquistas de toda a Europa. Realiza diversas conferências em Paris e outras nações. Em 1895, funda o Jornal “O Libertário” junto com Sébastién Faure.

Louise Michel viajava pela França realizando atividades em prol da causa libertária quando morreu aos 74 anos, acometida por uma forte pneumonia. Faleceu em Marsellha no dia 10 de janeiro de 1905 no quarto 11 do Hotel Oasis. Seu funeral em Paris atraiu uma multidão imensa de milhares de pessoas.


Louise Michel no final da vida, morreu lutando.


Louise Michel por sua trajetória de combatente da causa libertária entrou para a galeria das grandes anarquistas-libertárias. Seu legado encontra-se até hoje nos Estudos Femininos americanos que tratam das relações de gênero. Reconhecida por sua obra literária, repleta de poemas, contos e histórias, e também romances como “A Miséria”, no qual através de brilhante capacidade literária, deu visibilidade ao drama social vivenciado nos subúrbios de Paris.

Cabe destacar, fundamentalmente, o seu compromisso com a educação libertária. Educadora desde jovem, mesmo em condições difíceis como a guerra levado a cabo na Comuna de Paris e o exílio, foi capaz de reinventar a prática educativa acreditando no papel revolucionário da educação que serve de exemplo e legado para as novas gerações.

Homenagens




São diversas as homenagem que Louise Michel recebeu e ainda recebe em reconhecimento de sua luta. Até 1916 , todo aniversário de sua morte era lembrado junto ao seu túmulo em Levallois-Perret. Durante a Guerra Civil Espanhola, em 1936, um batalhão de Brigadas Internacionais composto por voluntárias francesas e belgas recebeu o nome de “Louise Michel”. Em setembro de 1937 a estação do Metro de Paris localizada em Lavallois -Perre recebeu seu nome em homenagem. Frequentemente seu nome é dado a escolas e jardins de infância em Paris. 

Em 28 de fevereiro de 1975 em sua homenagem a praça Wiilette recebeu seu nome. Também em sua homenagem recebe o nome de “Louise Michel” um importante prêmio conferido pelo centro de Estudos Políticos e Sociais em Paris, destinado aqueles que mais se destacam na promoção e diálogo e democracia na França.

Placa inaugurada em 2000 em lembrança dos 120 anos do retorno de Louise à Paris em 1880. A Louise MICHEL militante da Comuna deportada para Nova Caledônia. Anistiada, ela retornou pro Dieepe, em 9 de Novembro de 1880. "Ela é foice, trigo maduro para pão branco" Paul Verlaine

Em 2005 foi comemorado o centésimo aniversário da morte de Louise Michel, na ocasião duas conferência prestaram homenagem. O evento reuniu 22 especialistas na vida e obra de Louise que trataram de sua personalidade. Na ocasião ainda foi encenada uma peça teatral escrita por Pierre Humbert.
Em 2009 estreou o longa-metragem francês “Louise Michel, a Rebelde” dirigido pro Sólveig Anspach. O Filme é focado no período em que Michel esteve na prisão na Nova Caledônia, após a queda da Comuna de Paris.


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