Na noite desta quarta, porém, a canção ecoou como um recado ao presidente interino Michel Temer.
Chico esteve no Canecão à convite da diretora teatral Bia Lessa, que dirigiu a noite de shows no Canecão. "A ideia era que a Julia Lemmertz o apresentasse, e ele chutaria uma bola, abrindo [o que chamamos de] os jogos democráticos. Mas ele acabou cantando também", diz ela.
Depois de Chico Buarque, a cantora Zélia Duncan assumiu o palco. Também passaram por ali representantes de movimentos de mulheres, indígenas, quilombolas, estudantes, professores, profissionais da saúde e outros.
Palco de shows históricos da capital fluminense, o Canecão está fechado desde 2010, quando a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) conseguiu na Justiça a reintegração de posse do espaço.
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OCUPAÇÃO
O movimento nasceu em maio, após Michel Temer extinguir o Ministério da Cultura -decisão que reconsiderou, por causa da repercussão negativa. E se firmou como um foco permanente de protestos contra o presidente interino.
Expulso na semana passada, após 73 dias, do Palácio Gustavo Capanema -edifício que é a sede do Ministério da Cultura no Rio e da Funarte-, o grupo formado por cerca de 150 pessoas entrou na madrugada de segunda (1º) na antiga casa de shows de Botafogo (Zona Sul). E diz não ter prazo para sair.
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Bia Lessa durante a ocupação do antigo Canecão, no Rio |
"O desejo da saída de Temer é um ponto de partida, mas o que está acontecendo vai muito além", diz a encenadora Bia Lessa, que se ofereceu para dirigir a festa.
"É uma ideia estética e ética de ocupação de espaços públicos. E conduzida de uma forma que é mais até do que democrática: eles decidem as coisas não por votação, mas por consenso", ressalta ela, que realizou shows de Maria Bethânia no palco do Canecão.
"O 'Fora Temer!'é um pretexto para construirmos novas formas de se fazer cultura e pensar a sociedade. A ocupação é um laboratório de políticas públicas", afirma Dyonne Boy, do movimento Reage, Artista!
Em três dias, o grupo limpou todo o terreno, afastou os bichos (ratos, gambás, escorpiões), consertou fiações, encanamentos. E encomendou um laudo técnico para saber se eles e os visitantes estão seguros ou se algo pode desabar.
"Ninguém está aqui por não ter casa, por falta de opção, e sim por opção. É uma decisão política", diz a antropóloga Marcella Camargo.
Graças a uma rede wi-fi própria, muitos realizam seus trabalhos pessoais ali mesmo. Quem tem emprego com horários regulares aparece antes ou depois do expediente. Todos têm funções determinadas. A alimentação vem de doações.
"Sem documento, sem burocracia, sem hierarquia", diz Dyonne.
O grupo diz ter um canal aberto com a UFRJ. A reitoria, no entanto, soltou uma nota dura criticando a ocupação. Diz, entre outras coisas, que há riscos de segurança e que estranha ser alvo da iniciativa, pois condenou a extinção de "ministérios sociais" e "sempre abriu seus espaços acadêmicos para a realização de debates, seminários, atos sobre os grandes problemas sociais".
Segundo a nota, "ao promover a ocupação, o movimento desconsiderou a forma democrática da livre expressão garantida pela universidade".
Os seguranças contratados pela UFRJ para vigiar o local continuam trabalhando. Durante a Olimpíada, têm o reforço de soldados do Exército e da Força Nacional, que patrulham as redondezas.
É curiosa a cena de militares armados protegendo -involuntariamente- um movimento de oposição ao governo.
m.folha.uol.com.br
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