Artista bielo-russo que viveu anos na França inspirou sobretudo surrealistas ao explorar tendências irracionais da arte
Ópera de Paris apresenta em 23 de setembro de 1964 um deslumbrante novo teto pintado como oferecimento pelo artista bielo-russo Marc Chagall, que passou grande parte da vida na França. O teto era característico das obras-primas de Chagall – infantil em sua aparente simplicidade, embora luminoso pelas cores e evocativo do mundo de sonhos e do subconsciente.
Chagall nasceu em Vitebsk, no império Russo, em 1887. Seus pais eram comerciantes judeus e a sociedade em que cresceu era de muitas maneiras um resquício da era medieval. Os temas folclóricos russos e judaicos inspiraram-no ao longo da carreira.
Pintura do teto da Opera de Paris foi trabalhada em uma superfície de 560 metros quadrados
Começou a desenhar desde criança e em 1906 viajou para São Petersburgo a fim de estudar arte com a ajuda de um rico patrocinador judeu. Em 1910, foi enviado a Paris, resgatando-o do que poderia ser uma carreira confinada à arte folclórica. Em Paris – centro da arte ocidental – foi recebido por artistas de vanguarda que o encorajaram a explorar as aparentes tendências irracionais de sua arte.
Trabalhos criativos como “Eu e Meu Vilarejo” (1911) despertaram amplo entusiasmo, ocasião em que ingressou numa fase artística que críticos viam como a sua melhor. Seus quadros, produzidos com distintas técnicas, mostravam um mundo fantástico em que pessoas, animais e outros elementos figurativos eram reunidos em cores brilhantes e pouco usuais, parecendo dançar e flutuar pela tela.
Teve sua primeira exposição individual em Berlim em 1914 e com a eclosão da Primeira Guerra Mundial acabou retido na Rússia durante sua visita a Vitebsk. Recebeu de bom grado a Revolução Bolchevique de 1917, que propiciou plena cidadania aos judeus russos e trouxe o reconhecimento oficial de Chagall e sua arte. Foi designado comissário para a arte na região de Vitebsk e ajudou a criar um museu e uma academia de arte. Todavia, logo depois se frustrou com as querelas a respeito de problemas estéticos e em 1922 abandonou a Rússia Soviética.
Foi recebido como um ídolo pelos surrealistas que viam na pintura de Chagall em Paris “Visto pela Janela” (1913) como um importante precursor de sua própria arte irracional e sonhadora. Valeu-se da xilografia para produzir centenas de ilustrações para edições especiais de Almas Mortas de Nikolai Gogol, Fábulas de La Fontaine e da Bíblia.
Em 1948, regressou à França para finalmente se estabelecer na Riviera Francesa em St. Paul de Vence, sua residência até o resto da vida. Em 1958, desenhou os cenários e figurinos para a representação do balé Daphnis e Chloe de Maurice Ravel para a Ópera de Paris.
Após ter assistido ao trabalho do artista em Daphnis e Chloe, Andre Malraux, ministro da Cultura francês, encomendou-lhe a pintura do novo teto da Opera de Paris. Trabalhando em uma superfície de 560 metros quadrados, Chagall dividiu o teto em zonas coloridas que preencheu com paisagens e figuras representativas dos luminares da ópera e do balé.
O teto foi desvelado em 23 de setembro de 1964 durante uma apresentação do mesmo Daphnis e Chloe. Como de hábito, uns tantos condenaram a obra de Chagall como excessivamente rudimentar, contudo essa crítica foi abafada por uma aclamação generalizada do público. Em 1966, como um presente para a cidade que o abrigou durante a Segunda Guerra Mundial, pintou dois vastos murais para a New York Metropolitan Opera House.
Em 1977, a França homenageou Chagall com uma grandiosa exibição retrospectiva no Museu do Louvre. O artista continuou a trabalhar vigorosamente até sua morte em 1985, aos 97 anos.
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