O país pode estar de rastos, a
economia pode ter borregado, os quadros qualificados podem estar em fuga
forçada para países onde são tratados normalmente e não como mulas
fiscais, mas há um sector florescente, é o da bondade, da caridade, dos
subsídios do Estado para boas causas, das fundações de gente bondosa,
das santas casas e de outras coisas mais ou menos santificadas ou pelo
menos beatificadas, a economia real afunda-se mas a economia social está
florescente.
Em
torno da podridão da miséria as ONG, fundações bondosas santa
iniciativas e outras manifestações de gente voluntariosa e
desinteressada floresce, entre anúncios ao Calcitrim as nossas
apresentadoras criam iniciativas e Popotas, o pessoal da democracia
representativa cria muitas ONG que dão apoio desde aos velhinhos aos
gatos que infestam a escola da minha rua.
É tudo boa gente, tudo
iniciativas que devemos apoiar todos os sábados de manhã quando vamos ao
super, tudo gente cuja bondade não tem limites, cidadãos dedicados e
desinteressados que gerem honestamente os cada vez mais milhões ou mesmo
centenas de milhões, dinheiro tão em gasto que é pecado questionarmos
se foi em gasto ou sugerir que se façam auditorias. Não raras vezes esta
bondade é genética e vemos famílias inteiras deixarem de ter uma vida
de interesse para se dedicarem coletivamente a uma causa, entregando-se
por inteiro a uma ONG.
Esta
economia social não só está florescente como começa a querer estar por
detrás do poder, mas podemos estar descansados que não e com o intuito
de conseguirem mais recursos públicos ou para assegurar que se faça
vista grossa sobre os seus negócios. É para garantir que a imensa
bondade, honestidade e competência irradie a partir deste oásis nacional
para o exercício da política. Mas os senhores da economia social já não
se limitam a dar o seu exemplo, sustentam partidos, apoiam políticos
bondosos, têm candidatos para presidirem à AR e até apoiam candidaturas
presidenciais com os seus padres do regime e as estruturas das suas
antas casas, nalguns casos apoiadas por poderosos orçamentos
publicitários que garantem a boa imprensa de todos os seus
patrocinadores e patrocinados.
Num
país onde os jovens fogem e os que ficam não se reproduzem os velhos
estão sendo transformados em tropas de choque de políticos manhosos, nas
eleições é raro ver um político numa escola porque os jovens não votam e
são escassos, a campanha faz-se nos lares da terceira idade. É aí que
se ganham as eleições para as juntas de freguesia como a minha, que
depois organiza excursões a Fátima para a agradecer à santinha os
favores eleitorais, é aí que se conseguem deputados e até se podem
ganhar as presidenciais, é aí que está a diferença de votos, os tais 4
ou 5% que podem fazer a diferença. Não admira que em todas as eleições
apareçam candidatos especializados em dar beijinhos a velhinhos
arregimentados por esse imenso polvo que começa a dominar a política
portuguesa.
Mas
podemos estar descansados porque com essa economia social a escolher
autarcas, deputados, ministros e presidentes, a patrocinar partidos e
políticos defensores da doutrina social da Igreja e imbuídos de uma
imensa bondade o país vai ser um paraíso. Não admira que haja quem ande a
fazer campanha com um roteiro das santas casas e aposte nesse
franciscanismo político que tende a dominar a política portuguesa, a ter
os seus candidatos a primeiro-ministro e a presidente.
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