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terça-feira, 1 de julho de 2014

A África antes dos europeus GuerreirasDaom Falar da história do continente africano é, em parte, fácil. Ainda mais levando em conta que o continente abrigou na Antiguidade uma das maiores civilizações da época: a egípcia. Mas e o restante do continente?


A África antes dos europeus


GuerreirasDaom
Falar da história do continente africano é, em parte, fácil. Ainda mais levando em conta que o continente abrigou na Antiguidade uma das maiores civilizações da época: a egípcia. Mas e o restante do continente? A impressão que ficava quando nós estudávamos é que só o Egitodesenvolveu uma civilização digna de nota. Mas a Lei 10.639, de 9 de janeiro de 2003, tornouobrigatório o ensino de História da África e da cultura afro-brasileira nas escolas.
Desde então muitos educadores tiveram que entrar em contato com a História da África sub-saariana, aquela parte do continente africano que fica logo abaixo do deserto do Saara, e que também teve um desenvolvimento considerável até a chegada dos europeus, nos séculos XV e XVI. Muitos professores não estavam preparados para levar o assunto à sala de aula.
O mais engraçado de tudo é que parte desta cultura africana e desta história está no Brasil. Faz parte do nosso país e ajudou a formar uma parcela considerável de nossa sociedade. Pois desta região do continente africano saíram milhões de escravos que trabalharam nas lavouras do nosso lado do oceano, e seus descendentes ajudaram a construir o Brasil como nós conhecemos.
E é sobre estes povos que nós vamos falar um pouco neste texto.

Mais que apenas o “berço do homem”:Densas florestas, savanas ricas em vida animal, litoral farto, grandes montanhas e lagos ao leste. Os primeiros homens que não deixaram o continente africano para outros lugares do mundo viveram milênios isolados pelo mar, pelo deserto e desenvolveram sociedades tão avançadas quanto a sociedade egípcia.

Mas “isolados” é um modo de dizer, já que entre todos os povos africanos existia um farto e dinâmico comércio. Ouro extraído da região de Gana chegava aos egípcios através da Núbia. Peles de animais exóticos eram vendidas na Ásia Menor. Os bérberes do Saara comercializavam marfim retirado das savanas com os árabes e europeus nas costas do Mediterrâneo. O ferro, introduzido no Egito pelos assírios em aproximadamente 500 a.C. era fundido no interior do continente em 100 d.C. com um processo que os europeus só iriam utilizar no início daIdade Moderna.
O isolamento destes povos africanos era social. Por não sofrerem interferência direta de nenhum povo asiático ou europeu, com o tempo as tribos chegaram a níveis de organização que causaram espanto nos primeiros europeus que mergulharam no interior da África.

Organização política e social:

Guerreiros Daom
Reinos como SonghayKermaNapataAshanti,AbomeyOyo e Mossi tinham um Estado altamente organizado, com instituições complexas como umconselho de anciãos, que definia e controlava o poder exercido pelo governante da tribo – semelhante ao senado romano – e um sistema administrativo e burocrático que era muito parecido com o sistema de outras partes do mundo.
Muitos dos reinos eram cidades-estados que tinham sua área de influência, chegando a controlar diversas outras tribos. Mas as disputas dificilmente chegavam às vias de fato, à guerra, pois os líderes africanos com o passar dos séculos desenvolveram um sistema exogâmico – quando não há casamento entre parentes próximos -, o que acabava tornando os líderes das diversas tribos parentes uns dos outros.
Quando havia uma disputa, ela era resolvida pela força organizada – apenas como agente punitivo, não como motivo para expansão territorial – ou pelo diálogo, e neste caso a resolução ficava nas mãos de um conselho de sábios formados por membros das tribos envolvidas. Mas por que este costume? Na verdade, os líderes não desejavam combater os parentes, apenas resolver o problema da melhor maneira possível, sem mortes.
Ainda sobre a organização social e o sistema exogâmico, o historiador Michael Hamenoo diz:
As estruturas políticas africanas indígenas, organizadas da base para cima, giram em torno das instituições sagradas da família, de onde ramificam para o clã, a linhagem e o grupo de descendência. Através das convenções de exogamia, testadas durante milênios, os casamentos são contratados fora da linhagem, o que significa dizer que um grupo de descendência, casando, vai pertencer a outro grupo mais distante, assim ligando os grupos vizinhos numa série de alianças com uma consciência comum de identidade cultural. Esses grupos se unem para autodefender-se, quando ameaçados por um grupo estrangeiro inimigo. A autoridade, tanto temporal como espiritual, às vezes diferenciada, pertence ao homem genealogicamente precedente dentro do clã.[1]
Quando alguém erroneamente defende os europeus do processo escravista ocorrido entre os séculos XV e XVIII dizendo que “os africanos escravizavam os inimigos, que eram os próprios africanos de outras tribos!”, ele está cometendo dois erros: o primeiro é defender ou tentar justificar a escravidão, e o segundo é desconhecer a escravidão que ocorria dentro do continente africano entre as tribos que porventura guerreavam.
Ela existiu entre as tribos africanas? Sim, não podemos negar. Mas era uma escravidão bem diferente da praticada no Brasil. Os negros capturados e levados para a tribo vencedora tinham que trabalhar e lutar pela tribo, mas também tinham direitos, podendo até casar-se com um membro da tribo vencedora. Não havia a agressão gratuita observada do outro lado do oceano, muito menos a falta dos direitos sociais pertencentes aos outros membros da tribo.

A religião africana:

IansãOs africanos tinham uma noção de deus único, maior, criador, distante do homem, assim como no cristianismo ou no islamismo. Os desígnios de deus estavam fora de seu controle e de sua compreenção, e em cada grupo étnico o deus-maior recebia um nome diferente: para os Yoruba, por exemplo, era Olorum. Os Ewe chamavam-no de Mawu. Os Ashanti, de Onyankopoa [2]. Os africanos cultuavam as forças da natureza e davam a elas personalidades humanas.
Na imagem ao lado, a deusa Iansã, responsável pelos ventos e raios [fonte]. Assim como Iansã, outros deuses faziam parte da religião africana. Cada culto, em cada região ou grupo étnico tinha sua peculiaridade, mas de um modo geral podemos dizer que a religião dos povos sub-saarianos era bem parecida com a dos povos antigos, adoradores da natureza e de seus fenómenos naturais.
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